'Em Casa com os Gil' retrata Gilberto Gil com sua família em reality show íntimo

Série da Amazon Prime Video tem o desafio de transmitir jornada audiovisual que interesse ao público, disse o músico

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Rio de Janeiro

Isolada em uma casa em Araras, na região serrana do Rio de Janeiro, a família Gil se reuniu, em junho do ano passado, para comemorar os 79 anos do cantor e compositor Gilberto Gil. Reunidos à mesa, as diversas gerações parecem ter na música uma abertura à transcendência. Aconchegados em sofás próximos à lareira, a cantoria depois das refeições surge como consequência natural do encontro de filhos, netos e bisnetos.

As câmeras do diretor Andrucha Waddington acompanharam a intimidade da reunião familiar para produzir os cinco episódios do reality show "Em Casa com os Gil", que estreia na sexta-feira (24) no Prime Video.

"Eu cresci pronto para ser pai, eu nasci para ser pai. O desafio na série é ser real, ser uma família verdadeira e transmitir uma jornada audiovisual que interesse ao público", diz Gil.

cena de série
Cena da primeira temporada da série 'Em Casa com os Gil', que acompanha o músico Gilberto Gil e sua família, produzido pelo Amazon Prime - Divulgação

Durante a primeira temporada, quase 20 integrantes da família se reúnem em assembleias para definir o roteiro da turnê "Nós, A Gente", em que dividirão o palco em dez países europeus a partir do domingo (26). Para o show comemorativo dos 80 anos de Gil, cada parente teve o desafio de defender nas reuniões uma canção para incluir no roteiro. O autor tinha a prerrogativa de aceitar ou recusar as sugestões.

O guitarrista Bem Gil, de 37 anos, conta que seu pai não atuou de forma ativa para que toda a família pudesse tocar algum instrumento –e cantar afinado. O som de "Nós, A Gente", aliás, deve se despojar de artifícios eletrônicos, sendo construído a partir da musicalidade de cada um.

"Para a turnê, os arranjos foram pensados para abrigar uma grande banda, com toda a família, resgatando o que há de melhor em cada um. Isso vem antes de qualquer pretensão estética", afirma Bem.

Durante o refúgio na serra, Bela Gil, de 34 anos, esteve à frente da cozinha, preparando uma feijoada de ingredientes naturais e, sobretudo, rodeada pelas crianças da família. Com todos os sobrinhos, cozinhou biscoitos recheados com geleia de morango, incentivando que cada um fizesse a própria comida desde pequeno. De acordo com Bela, aprender a cozinhar é um direito que todos devem ter, para garantir a independência.

"Há jovens adultos que não sabem fazer arroz. O resultado aqui no país é esse consumo de produtos ultra processados, sendo que a comida é o cerne das nossas vidas. Educação alimentar é fundamental", ela diz.

Ao mesmo tempo, Bela está atenta aos 33 milhões de pessoas que têm fome no Brasil de 2022. Por isso, sua filiação ao Psol quis mostrar que alimentação e política andam de mãos dadas. Em outubro, a apresentadora e chef de cozinha tentaria uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo, mas a possibilidade de uma eleição violenta a fez desistir da candidatura.

De todo modo, seu nome é cotado para ser vice na chapa de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo. A ideia surgiu em reuniões entre integrantes da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Como eu disse, ficaria honrada. Eu tenho vontade de assumir um cargo público. Acho que temos que falar sobre a concentração de terra absurda no país. Uma reforma agrária precisa ser feita no Brasil."

Fora da política institucional, Preta, de 47 anos, é outra filha de Gil com envolvimento em causas sociais, como a própria série indica. Na escolha das canções para a turnê, existe uma dinâmica entre a família. Quem defende a canção na assembleia é apresentado pelo seu antecessor a escolher uma música.

A cantora Mãeana, nora de Gil, apresentou Preta, cantarolando um ponto de umbanda e dizendo admirar sua força, de quem teve de vencer muitos preconceitos na vida. Como em quase todas as apresentações, o momento foi seguido de um chororô danado.

Preta relata que, desde o seu primeiro disco, "Prêt-à-Porter", de 2003, sofre muitos ataques por ser mulher, negra, gorda e bissexual. Por ter sido criada numa família que preza pela liberdade, achava que não sofreria tanto preconceito do público. Ela admite não ter lidado da melhor forma possível com os insultos, mas hoje se olha com mais generosidade.

"Já caí muitas vezes, mas consegui me reerguer. Falava de racismo e gordofobia lá no início dos anos 2000, quando nem havia nome para esses ataques. Hoje melhorou pela força da luta coletiva, mas vivemos um momento em que a maldade saiu do esgoto do mundo", diz.

Nos cinco episódios, dois momentos chamam a atenção. O primeiro ocorre quando Gil, que torce para o Fluminense, faz um sermão para seus filhos e netos flamenguistas, indignados com a derrota do time de Gabigol e companhia. Gil ensina que não é possível vencer sempre, lição estendida para toda a vida.

O segundo momento envolve o neto de Gil, Bento, de 18 anos. Com um bigodinho saliente, brinco na orelha e tez pós-púbere, ele aparece como a revelação da série, encarnando o papel de jovem questionador. Com voz grave, afirma sua personalidade diante dos mais velhos e faz um gracioso dueto com o pequeno Sereno, cantando a canção que leva o nome do décimo neto de Gil.

O Prime Video já anunciou a produção da segunda temporada do reality, "Viajando com os Gil", que vai acompanhar a turnê pelo mundo afora. Para Waddington, amigo do compositor há 30 anos, a série confirma a espiritualidade da família Gil.

"Fizemos um reality com uma linguagem documental ou um reality que não se parece com esse tipo de programa", ele conta. "Todo mundo vai poder ver uma família brasileira e diversa numa explosão de emoção. "

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