Descrição de chapéu

Johnny Depp convence o público mais importante de toda a sua trajetória

Talvez esse julgamento seja um novo marco no movimento #metoo, após ter ridicularizado Amber Heard e suas acusações

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Foram 12 horas, 48 minutos e 46 segundos de deliberação, espalhados em seis dias, com um feriado e um fim de semana no meio. Um tempo curto para a complexidade da tarefa, infinito para quem estava esperando uma resposta.

O julgamento levou sete semanas para ser concluído, foram cem horas de testemunhos com versões conflitantes e sete respostas para dar em unanimidade. A expectativa era de que o júri levasse pelo menos de quatro a cinco dias para avaliar todos os aspectos deste caso, debater entre eles até que uma versão prevalecesse e fosse aceita pelas sete pessoas escolhidas pelo tribunal de Fairfax para decidir o veredito.

Mas em apenas um dia de trabalho, mais duas horas da sexta-feira (27) anterior e a manhã desta quarta-feira (1º), eles já tinham certeza de que Amber Heard havia mentido quando escreveu no jornal The Washington Post que havia virado uma figura pública contra a violência sexual e estava enfrentando o ódio da nossa cultura. "Isso tem que mudar", ela afirmava.

De acordo com os sete de Fairfax, Amber Heard nunca foi agredida por Johnny Depp, nem fisicamente, nem sexualmente, nem psicologicamente. Mentiu quando pediu uma ordem de restrição contra o ex-marido em 2016 justificando que precisava se proteger dele, apesar de, no acordo do divórcio, feito fora do tribunal, ter ganhado US$ 7 milhões de Depp.

atriz com cara de choro
A atriz Amber Heard aguarda a decisão do júri em Fairfax, Virginia, que viria a ser favorável ao ex-marido, Johnny Depp - Evelyn Hockstein/Reuters

Mas, também segundo o júri, Johnny Depp foi malvadinho quando fez uma campanha contra Amber Heard e, por isso, deve pagar a ela US$ 2 milhões. O que equivale a um tapinha no pulso, considerando que a atriz pediu US$ 100 milhões de indenização pela campanha difamatória iniciada pelo ex-marido. E, principalmente, pelo fato de que ela agora deve pagar US$ 10 milhões a ele. Johnny vai ganhar mais nesse processo do que pagou no acordo do divórcio.

Muito provavelmente, como aconteceu com milhões de TikTokers e Instagramers espalhados pelo mundo, os sete jurados se sentiram mais confortáveis, mais atraídos, mais alegres até com a presença, com a voz, com a versão de Johnny Depp da história do que com a de Amber Heard.

Nenhum dos dois lados apresentou uma prova definitiva, irrefutável, que não deixa dúvidas, de que o outro estava 100% errado, inventando tudo. Não é possível que alguém que tenha passado horas e horas assistindo a esses testemunhos possa jurar por Deus que Johnny Depp nunca tenha feito um gesto mais brusco sequer contra Amber Heard, mesmo que estivesse tão bêbado e louco que honestamente não se lembrasse depois.

O que é fácil concluir, no entanto, é que a presença de Johnny Depp é infinitamente mais encantadora que a de Amber Heard. Ele é gentil, ela é arrogante. Ele é divertido, ela é impaciente. Ele é famoso, ela é desconhecida. E mais: ele falou livremente durante seus testemunhos, contou suas histórias do começo ao fim, com detalhes, sem ser interrompido. Ela quase não tinha oportunidade de concluir um pensamento sem que Camille Vasquez, a advogada de Depp, gritasse "objection", por algum motivo.

Nada disso significa que ele falou a verdade e ela não. Mas nesse julgamento, Johnny Depp e seu time de advogados precisavam conquistar a simpatia de sete pessoas normais, não de um juiz treinado para isso. E pessoas normais, gente como a gente, que vai ao cinema de vez em quando, são naturalmente influenciadas pelos adjetivos do parágrafo acima. É inevitável e não tem jeito simples de corrigir essa característica.

Essa é a principal diferença entre esse julgamento e o que Johnny Depp moveu contra o tabloide inglês The Sun, dois anos atrás, também por difamação, quando o jornal publicou uma foto dele na capa com uma chamada que dizia que era um "espancador de esposa".

Johnny Depp perdeu esse processo. Um juiz da Suprema Corte de Londres chegou à conclusão de que ele havia agredido a ex-mulher repetidas vezes. Nos dois casos, foi uma publicação em um jornal que deu origem aos processos. Mas, dessa vez, Johnny Depp processou Amber Heard, não o jornal The Washington Post, onde o artigo que ela escreveu foi publicado.

Foi por este motivo que o julgamento aconteceu em Fairfax, na Virginia, estado vizinho à capital dos EUA, Washington, onde o Washington Post é impresso. E, dessa vez, além de ir contra a autora do artigo e não o órgão de imprensa, Johnny Depp teve um júri popular, recurso jurídico em que os cidadãos são julgados por seus pares, que ouvem o que os dois lados têm a dizer e chegam a um veredito.

Mas e o movimento #metoo, que parecia tão arrebatador em 2017, levou Harvey Weinstein à prisão por abuso sexual e deu início a uma era em que parecia que todas as mulheres seriam ouvidas dali para a frente? Como o #metoo não fez a balança pender para o lado de Amber?

Talvez esse julgamento seja um outro marco desse movimento. Ainda é cedo para saber quais serão todas as implicações desse veredito. Até para Amber Heard, que deu uma declaração por meio de seus advogados, depois de ouvir o resultado, em que dizia estar de coração partido —porque "a montanha de provas não foi suficiente para enfrentar o poder, a influência e o suingue desproporcionais do meu ex-marido".

E continua: esse veredito "faz o relógio voltar para um tempo em que a violência contra a mulher não era levada a sério". Segundo advogados ouvidos pela Court TV, canal pago norte-americano que veiculou por streaming todo o julgamento para o mundo inteiro, ela corre o risco de ser processada mais uma vez por difamação.

Para sorte dela, Johnny Depp está na Inglaterra, se apresentando com o amigo Jeff Beck pelo menos até o próximo dia 7, e não deve estar prestando muita atenção ao que ela diz.

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