Descrição de chapéu Livros

Mais de 400 escritoras se reúnem no Pacaembu para tirar fotografia histórica

Clique realizado neste domingo (12) durante a Feira do Livro inspirou autoras de mais 20 cidades do país a fazerem o mesmo

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Leopoldo Cavalcante
São Paulo

Foram tantas as escritoras que apareceram para uma foto da produção literária feminina do país neste domingo (12) que o cenário inicial escolhido para o retrato —a escadaria Patrícia Galvão, a Pagu, no Pacaembu, na região central de São Paulo— não deu pé. Com mais de 400 autoras, segundo informações da organização, o local foi transferido para a arquibancada do estádio.

Registro de escritoras mulheres inspirado em fotografia feita por Art Kane em 1958 no Estádio do Pacaembu, na região central de São Paulo - Mariana Vieira Elek/Divulgação

"Nunca tantas mulheres escreveram e publicaram livros no Brasil", disseram as organizadoras ao anunciar o evento, realizado no âmbito da Feira do Livro, que se encerra neste domingo. Além da foto inicial em São Paulo, começaram a pipocar iniciativas semelhantes em mais de 20 cidades de todo o país, além de versões em Lisboa e em Londres.

A concentração para o retrato começou às 10h. Várias editoras ainda estavam ajeitando suas tendas na praça Charles Miller quando as primeiras autoras chegaram. Ao lado da escadaria Pagu, uma outra tenda foi erguida para o cadastramento das escritoras.

"A gente precisa saber o nome de todo mundo para registrar esse momento histórico", disse a escritora Vanessa Passos, autora de "A Filha Primitiva", romance vencedor do 6º Prêmio Kindle de Literatura lançado no ano passado. Para isso, as organizadoras penduraram no espaço diversos QRCodes, que direcionavam as escritoras para um grupo de WhatsApp. Às 10h20, o grupo já tinha 78 membros. Às 11h, horário da foto, o grupo estava lotado e as organizadoras anotavam os dados de quem tinha chegado depois à mão.

"A ideia é montar um livro com todas as fotos ao redor do mundo, mostrando quem é quem nelas", complementou Passos.

O projeto é inspirado em "Um Grande Dia no Harlem", de Art Kane, na qual 57 grandes jazzistas de 1958 se amontoam numa rua do bairro nova-iorquino, apossando-se até das escadas de uma casa. Quando a fotógrafa Mariana Vieira Elek foi convidada, as organizadoras perguntaram justamente se ela a conhecia.

Vieira tinha a foto exposta num quadro em casa, conta. "O filho do Art Kane disse uma vez que o pai não sabia o que aconteceria no dia da foto. Estava preocupado com o sol, a disposição das pessoas e tudo isso. Era um ato de fé", diz a fotógrafa.

Na foto 'Um Grande Dia no Harlem', ou 'Harlem, 1958', o fotógrafo Art Kane reuniu 57 grandes músicos de jazz numa escadaria no bairro de Nova York
Na foto 'Um Grande Dia no Harlem', ou 'Harlem, 1958', o fotógrafo Art Kane reuniu 57 grandes músicos de jazz numa escadaria no bairro de Nova York - Arquivo Art Kane/Reprodução

Pelas cálculos de Vieira, caso a fotografia fosse tirada na escadaria Pagu, caberiam até "nove pessoas muito magras espremidas por degrau", totalizando até 315 pessoas. Seria inviável. Ela insistiu com a equipe responsável pela restauração da arquibancada do Pacaembu para que aquele fosse o cenário. "Além de uma questão prática, também tinha o simbolismo de preencher um espaço simbolicamente masculino com mulheres", diz.

A entrada no estádio foi feita em três longas filas. Mas não foi tranquilo ocupar a arquibancada. Além do grande número de escritoras, a montagem do palco para um show de Zezé di Camargo e Luciano programado para a noite que acontecia ao mesmo tempo causou um atrito entre elas e a equipe de segurança. Às 11h35, um funcionário do estádio afirmou não haver expectativa para liberação das mais de 300 mulheres.

Às 11h44, as primeiras escritoras entraram no estádio. Primeiro, as idosas, as mães com criança de colo e as mulheres com deficiência física ocuparam os assentos inferiores, a maioria segurando um exemplar do próprio livro. "Acho que ainda tem umas 400 pessoas para entrar", conjecturou, preocupado, o bombeiro responsável por vistoriar a organização.

Um grupo de escritoras negras do coletivo Flores de Baobá foi aplaudido na entrada. Na mão de uma das mulheres, um cartaz afirmava que "vidas negras importam".

Também estavam presentes integrantes do coletivo feminista Marielle Vive. Na hora da foto, seguravam uma série de cartazes com os dizeres "o primeiro romance publicado no Brasil em 1859 por uma mulher foi escrito por uma mulher negra: Maria Firmina dos Reis".

Escritoras negras posam no estádio do Pacaembu, na região central de São Paulo - Mariana Vieira Elek/Divulgação

Para Andrea del Fuego, autora do romance "A Pediatra", o momento foi "um sismógrafo da produção atual". Ela realça que a expectativa da foto de hoje não era de englobar todas as escritoras brasileiras, mas mostrar o tamanho potencial do movimento. "[A foto] é a ponta do iceberg", afirmou.

Às 12h, uma hora depois do previsto pela organização, as escritoras aglomeradas na arquibancada subiram um degrau para a foto. "Atenção, pessoal", clamava Giovana Madalosso, uma das organizadoras da foto, em um megafone. "Sempre falavam que tem mais homem nas livrarias, porque eles escrevem mais do que mulheres. É mentira!", afirmou, sob aplausos.

Erguendo seus respectivos livros, as escritoras estavam prontas para a foto. "Viva a escrita feita por mulheres!", gritou Madalosso. E às 12h15, um clique.


Números de escritoras reunidas nas fotografias tiradas em outras cidades pelo mundo

Cuiabá: 24
​Curitiba: 98
Boa Vista: 10
Lisboa: 19
Londres: 11
Recife: 49
São José do Rio Preto: 25

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