Núcleo com fotos do MST volta a fazer parte de exposição no Masp

Setor da mostra 'Histórias Brasileiras' havia sido cancelado pelas curadoras após veto do museu a conjunto de imagens

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São Paulo

O Masp confirmou nesta segunda que o núcleo "Retomadas", parte da exposição "Histórias Brasileiras", a maior do museu este ano, voltará a fazer parte da mostra.

O setor havia sido cancaleado pelas suas curadoras, há algumas semanas, devido ao veto da instituição a um conjunto de fotografias do Movimento Sem Terra e de comunidades indígenas, parte integrante deste núcleo. O museu afirmou que as fotografias não entraram por uma questão de cronograma, e negou que tenha havido censura.

"Histórias Brasileiras" ocorrerá entre 26 de agosto e 30 de outubro —anteriormente, a mostra estava prevista para começar em julho, mas foi adiada devido ao imbróglio com o núcleo. As exposições de Alfredo Volpi e Luiz Zerbini, agora em cartaz no museu da avenida Paulsita, foram prorrogadas.

O Masp não informou se houve alguma alteração nas obras do núcleo "Retomadas" ou se ele segue como inicialmente previsto pelas curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites.

A reportagem tentou contato com as curadoras, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

O retorno do núcleo no qual estão as fotos de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar se deu após o museu voltar atrás no cancelamento, depois de ter sofrido acusações de censura, e propor às curadoras que a data de abertura da exposição fosse adiada para que a seção pudesse ser incluída. O Masp também propôs incorporar o conjunto de fotografias ao seu acervo.​

As curadoras aceitaram a reinclusão da seção, mas pediram uma série de mudanças na condução do núcleo, como nos direitos autorais envolvidos na mostra e na ampliação da gratuidade de entrada no museu.

Além de propor que o museu não detenha os direitos autorais de "Retomadas", elas sugeriram que o núcleo se torne um trabalho "copyleft", ou seja, sem quaisquer barreiras à sua utilização, difusão e modificação.

As curadoras também sugeriram que o museu não cobre ingressos dos visitantes durante o período de "Histórias Brasileiras", ou ao menos que aumente os dias de visitas grátis. Atualmente, a entrada no Masp é grátis todas as terças e na primeira quarta-feira do mês. Nos demais dias, o ingresso custa R$ 50, o mais caro de um museu no país.

Os fotógrafos, porém, não aceitaram que suas imagens sejam incorporadas ao acervo do Masp, o maior do país. Os três artistas propõem que a instituição, ao invés de adquirir as obras, faça impressões das fotos em tamanho de pôster e distribua o material gratuitamente para os visitantes de "Histórias Brasileiras".

O museu não informou quais pontos da proposta das curadoras foram ou não aceitos. Disse apenas que mais informações serão divulgadas nas próximas semanas.

O Masp e seus funcionários negaram que tenham censurado as fotos do MST, e alegaram repetidas vezes que o veto se deu devido às curadoras terem pedido que as imagens fossem incluídas na mostra já fora do prazo. Elas afirmaram que nunca foram informadas de tais prazos e que cumpriram as diretrizes da instituição na produção da exposição.

A crise levou Sandra Benites, a primeira curadora indígena de um museu brasileiro, a pedir demissão, e Cildo Meireles, um dos artistas brasileiros mais importantes no panorama de hoje, a retirar as suas três obras que seriam expostas. Uma delas é uma bandeira produzida em 2020 para a campanha "Use Amarelo pela Democracia", realizada por este jornal.

Bandeira do Brasil estilizada: está em pé, com as cores invertidas e ao centro, lê-se "Ditadura é uma merda"
Ilustração de Cildo Meireles para a campanha #useamarelopelademocracia - Cildo Meireles

Mostra de grandes proporções, a exposição "Histórias Brasileiras" reunirá 300 obras selecionadas por cerca de dez curadores —toda a equipe do Masp mais convidados— e ocupará três andares do museu da avenida Paulista.

A exposição pega carona nas comemorações do bicentenário da independência do país e "oferece novas narrativas visuais, mais inclusivas, diversas e plurais, sobre a história do Brasil", segundo descrição no site do museu.

O núcleo "Retomadas" conta com dezenas de artistas, colocando lado a lado nomes consagrados, como o indígena Denilson Baniwa e o fotógrafo Sebastião Salgado, e talentos em ascensão, a exemplo da escritora e performer Ventura Profana e do pintor e artista de rua Xadalu Tupã Jekupé.

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