Quem são os prefeitos e o deputado que contrataram shows de Gusttavo Lima

Apoiador de Bolsonaro, sertanejo agora no alvo de polêmica é defendido por políticos de diferentes partidos

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São Paulo

Gusttavo Lima apoiou Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e fala em Deus, pátria, família e liberdade entre uma música e outra de seus shows, mas os dois prefeitos e o deputado federal que vieram a público defender o ícone sertanejo são de várias afiliações políticas.

Lima, o cantor sertanejo mais ouvido do país no ano passado, está agora envolvido numa polêmica por fazer shows com cachês que vão de R$ 800 mil a R$ 1,2 milhão pagos com dinheiro público de prefeituras de cidades do interior. Algumas administrações municipais estão sendo investigadas pelo Ministério Público por terem contratado a apresentação.

Gusttavo Lima no festival Buteco em São Paulo
Gusttavo Lima no festival Buteco, em São Paulo - Francisco Cepeda/AgNews

O prefeito James Batista, da pequena São Luiz, no sul de Roraima, é filiado ao Solidariedade, um dos partidos da coligação do ex-presidente Lula com Geraldo Alckmin nas eleições deste ano.

Sua administração contratou um show do sertanejo por R$ 800 mil. Dividindo este valor pelos 8.232 habitantes de São Luiz, é como se cada pessoa pagasse cerca de R$ 100 para custear a apresentação. O Ministério Público abriu uma investigação a respeito da contratação.

Batista se defendeu num vídeo nas redes sociais, dizendo que contratar o show é uma ousadia da prefeitura e "significa que a gente está no caminho certo". Ele também diz que o show se pagará e trará dividendos para a cidade, embora não tenha apresentado números ou projeções.

Zé Fernando, prefeito de Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, é do MDB, partido da pré-candidata a presidente Simone Tebet. Ele contratou Lima por R$ 1,2 milhão para uma apresentação na 30ª Cavalgada do Senhor Bom Jesus, evento marcado para a segunda quinzena de junho.

Após o Ministério Público abrir um inquérito para investigar a necessidade do gasto com o show de Lima, que acabou sendo cancelado depois que o valor do cachê veio à tona, o gestor se defendeu num vídeo nas redes sociais. Ele afirmou que a festa "foi envolvida numa guerra político partidária que não tem nenhuma ligação com o município".

A verba que pagaria Lima e também a dupla Bruno & Marrone foi desviada pela prefeitura local. O dinheiro deveria ser usado somente em saúde, educação, infraestrutura e ambiente. O show de Bruno & Marrone também foi cancelado.

Há alguns anos, o hoje prefeito de Conceição do Mato Dentro foi citado numa delação da Odebrecht pelo ex-executivo da empresa Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que afirmou que Zé Fernando teria recebido R$ 50 mil para apresentar emendas e projetos de interesse da empreiteira. No esquema, Zé Fernando seria apelidado de "azeitona".

Outro apoiador de Gusttavo Lima, o deputado federal André Janones, do Avante, de Minas Gerais, pré-candidato à Presidência, diz sempre estar do lado do povo em suas redes sociais e critica tanto Bolsonaro quanto Lula, sem citá-los nominalmente —ele fala em "primeira ou segunda via" e em "extremos".

Janones destinou R$ 1,9 milhão para bancar uma festa em Ituiutaba, em Minas Gerais, sua cidade natal, na qual diversos sertanejos vão se apresentar, como Gusttavo Lima, Zezé Di Camargo & Luciano, João Neto & Frederico, João Bosco & Vinícius e da cantora gospel Fernanda Brum.

"As pessoas têm direito a se divertir, elas têm direito à saúde mental, a lazer, a entretenimento", disse ele numa entrevista nesta terça-feira para a rádio Rede9. "O pobre tem direito a pelo menos uma noite na vida mais do que existir, mais do que sobreviver, tem direito de viver, de ter aquela noite de prazer, de tomar a bebida dele, de divertir, de cantar, de confraternizar com os amigos."

O deputado federal e presidenciável André Janones (Avente-MG)
O deputado federal e presidenciável André Janones, do Avante de Minas Gerais - Divulgação

Ituiutaba, além de ser a cidade natal de Janones, tem Leandra Guedes, do Avante, como prefeita. Guedes, que foi assessora de Janones na Câmara, é investigada pelo Ministério Público Federal junto com o deputado por suspeita de rachadinha no gabinete após uma denúncia feita em janeiro por um ex-assessor de Janones. O caso é tratado em sigilo.

A contratação dos shows de sertanejos que se apresentam em festas do agro no interior do país é feita diretamente pelas prefeituras, sem licitação, o que é permitido pela legislação. Esta prática está agora no centro de uma discussão depois de o cantor Zé Neto criticar a Lei Rouanet num show em Sorriso, no Mato Grosso do Sul. Seu show foi custeado com dinheiro público, assim como a Rouanet também usa verbas públicas.

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