Casa do Povo nega boicote à Documenta de Kassel após acusações de antissemitismo

Instituição judaica brasileira defendeu grupo indonésio que organiza a exposição após retirada de obra com ataque a judeus

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Casa do Povo, instituição cultural judaica de São Paulo, negou que tenha sido desconvidada da Documenta de Kassel, na Alemanha, por causa de protestos de participantes próximos à Palestina. A informação foi divulgada num comunicado do centro cultural brasileiro, depois que uma obra foi retirada da exposição por ser acusada de atacar judeus.

Mural no qual foi desenhado um soldado com máscara de porco
Detalhe da obra 'People's Justice', do coletivo indonésio Taring Padi, acusada de antissemitismo - Reprodução

No texto, a Casa do Povo esclarece os rumores publicados no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, de que "um coletivo judeu de São Paulo" teria sido convidado, e depois desconvidado, a participar do grupo de instituições artísticas reunido pela organização Documenta. "Acreditamos que somos o coletivo citado no artigo", diz o comunicado.

"Queremos esclarecer que nunca fomos oficialmente convidados a participar do grupo Lumbung [conceito que dá nome à reunião dos coletivos convidados para a organização da mostra]. As conversas informais se encerraram (como aconteceu algumas vezes nos últimos anos) por causa da situação da Covid. O Ruangrupa [coletivo indonésio que faz a organização do evento] decidiu manter as 14 instituições já convidadas. Além disso, o fato de que somos uma instituição judaica nunca foi discutido, e sendo assim nunca houve antissemitismo", diz a Casa do Povo.

O comunicado vem à tona depois que "People’s Justice", um mural do coletivo Taring Padi, da Indonésia, exposto em praça pública, foi removido da Documenta logo após a sua abertura. A obra, que retrata a resistência política com centenas de figuras, traz duas imagens que contêm símbolos considerados antissemitas.

Uma delas retrata um soldado com a palavra Mossad —o serviço de espionagem israelense— escrito no capacete, lenço vermelho no pescoço e uma estrela de Davi —a estrela de seis pontas que está na bandeira israelense. A figura também traz um focinho de porco no lugar de uma máscara.

A Casa do Povo disse que está "profundamente magoada" pelas imagens antissemitas no mural do Taring Padi, que foram "amplamente discutidas e corretamente condenadas em debate público no mês passado". "Mas achamos que a Documenta e o Ruangrupa fizeram a coisa certa ao retirar o trabalho em questão de dias, uma decisão que nós sabemos que sempre é difícil de se tomar."

A obra foi retirada da Documenta, uma das mais importantes mostras de arte do mundo, depois de protestos que envolveram da Embaixada de Israel à ministra da Cultura da Alemanha, além de publicações nas redes sociais.

O mural primeiro foi coberto e, depois de quatro dias, retirado da praça Friedrichsplatz, em Kassel. A diretora da mostra, Sabine Schormann, o comitê de seleção curatorial, o coletivo Ruangrupa, e o Taring Padi, grupo autor da obra, se desculparam pelo ocorrido.

A instituição brasileira ainda defendeu o Ruangrupa das acusações de antissemitismo. "Ainda que queiramos entender melhor a genealogia destas imagens, já somo agradecidos de que a Documenta, a equipe artística, e os artistas se desculparam oficialmente", diz o texto da Casa do Povo. "Então, perguntamos –o que mais eles podem fazer?"

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.