Casacor celebra 35 anos reunindo figurões da arquitetura brasileira

Mostra reflete busca pelo conforto, com arquitetos de renome e promessas do mercado entre o minimalismo e maximalismo

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São Paulo

Na Casacor deste ano, o arquiteto Sig Bergamin foi pelo caminho da extravagância, que há 40 anos parece ser a sua assinatura. Segundo ele, o ambiente que desenhou poderia ser um lounge do aeroporto de Los Angeles ou um restaurante de hotel na ilha italiana de Capri.

Num espaço de 50 metros quadrados, o piso de mármore se alia às paredes de madeira e ao teto azul bebê. Entre as obras de arte, as telas de Bruno Dunley, Sergio Sister e Tony Camargo não hesitam em misturar roxo, amarelo e verde.

No centro de seu lounge, um vaso colorido ostenta ramos de plantas tropicais e, ao fundo, cravos reforçam o ambiente estival. No mobiliário, o arquiteto evoca os anos 1940, com sofás circulares, revestidos em tons de laranja e azul. Das caixas de som, a "longe music" sugere um climinha de azaração.

Espaço Sig Bergamin na edição comemorativa dos 35 anos da Casacor/Divulgação
Espaço Sig Bergamin na edição comemorativa dos 35 anos da Casacor - Divulgação

"Eu nunca começo pelo papai e mamãe, entende?", pergunta Bergamin, vestindo um conjunto jeans à moda do compositor francês Serge Gainsbourg. "Chega a ser um pouco kitsch, mas esse negócio de minimalismo só funciona se você tiver quatro casas."

Neste ano, a Casacor, tradicional mostra de arquitetura, design e paisagismo, celebra os 35 anos de existência, com o tema "Infinito Particular". Até 11 de setembro, o Conjunto Nacional, na avenida Paulista, será tomado por 59 projetos, num total de 10 mil metros quadrados.

Essa edição homenageia o trabalho de arquitetos renomados, que ajudaram a fazer a história da mostra. Ao mesmo tempo, o visitante entra num labirinto, onde se perde entre os trabalhos de jovens em destaque no mercado.

Livia Pedreira, que assina a seleção de projetos ao lado de Pedro Ariel Santana e Cris Ferraz, ressalta as mudanças no mercado de arquitetura no rastro do isolamento social. O conceito de "Infinito Particular" abarca não só o desejo de reencontro entre as pessoas, mas busca transmitir harmonia, equilíbrio e aconchego. "A função última do design é trazer conforto. Esses sofás redondos espalhados pela mostra são abraços", ela compara.

Por isso, os jovens arquitetos investiram em tons terrosos, sobretudo para salas e quartos. Entre as novidades, estão um quarto e cozinha projetados pelo baiano Gregory Coppello, que está em sua terceira Casacor. De forma isolada, inox e tijolinho rústico não combinariam, mas o arquiteto harmoniza o ambiente investindo em tons de branco.

Já Pedro Luiz, responsável pelo bar do evento, usou manta térmica de telhado para fazer a bancada e misturou cadeiras de materiais distintos, deixando aparente a estrutura do espaço. Enquanto isso, os arquitetos das celebridades decidiram se divertir e entraram na rinha entre maximalistas e minimalistas.

"Sempre clean!", gritava a arquiteta e socialite Brunete Fraccaroli, na chegada ao seu espaço. Para combinar com seu estilo, ela preferiu um look básico para a ocasião –usou um vestido de princesa azul-piscina, com direito a tiara e tudo.

Ex-participante do reality show Mulheres Ricas, exibido pela Band há dez anos, Fraccaroli se inspirou em seus estudos de feng shui –técnica chinesa que harmoniza energias de um ambiente– para conceber um espaço circular, por onde, segundo ela, as vibrações circulam com mais facilidade.

O espaço, que poderia ser uma sala de estar, tem paredes, sofás e tapetes brancos, seguindo a cor dos protocolos da Covid-19. Os adornos são reduzidos ao mínimo. Numa mesa de centro arredondada, só alguns jarros servem de adorno.

Ao fundo, um vidro delimita a área de um jardim, reforçando a transparência da sala de estar. Inspirada na Capadócia, na Turquia, de onde acabou de chegar, a arquiteta revestiu a parede ao fundo com pedras pintadas de branco. De chamativos, só dois lustres em caracol foram pendurados no teto. "É uma questão de limpeza e saúde", ela diz. "Para uma casa com muitos objetos, você precisa ter um monte de funcionários de limpeza."

Em seu "Infinito Particular", Consuelo Jorge preferiu seguir um caminho próprio. Apostou nas memórias familiares, para criar um ambiente intimista, formado por quarto e sala. Numa parede, dialogou com a arte postal, expondo telegramas enviados a seus ascendentes. "Todo mundo quer se sentir acolhido. Quis fazer uma homenagem à minha mãe, que morreu faz pouco tempo, acho que a família é o atalho para o afeto."

Jorge revestiu o piso com madeira e apostou em tons mais escuros, cobrindo as janelas com palha natural. Na sala, se destacam um carrinho de chá, de Claudia Moreira Salles, e mesas de centro, de Ronaldo Sasson. Para adornar o espaço, a arquiteta selecionou as 17 esculturas de bronze "The Nicklefeet", do artista gaúcho Saint Clair Cemin.

A mostra ainda oferece salas especiais para outras duas homenageadas. Rosa May Sampaio destoou dos demais participantes, oferecendo, além de conforto, um convite ao pensamento, com uma vasta biblioteca e móveis de Sérgio Rodrigues e Jorge Zalszupin. Já Marina Linhares deu um toque feminino, apostando no contraste entre cor-de-rosa e materiais sóbrios, como madeira e couro.

Leo Shehtman, por sua vez, resolveu provocar. "Eu já fiz de tudo nessa vida, tenho que ser um jovem criador", ele afirma, com mais de 30 anos de carreira. Em frente à sala de Bergamin, Shehtman não poderia oferecer maior insolência.

As paredes trazem mármores em tons de preto e branco do Ceará, padrão cromático que se estende por todo o espaço –uma sala e uma cozinha. Ao fundo, ele provoca os que acusam o minimalismo de assepsia, instalando um armário com béqueres e tubos de ensaio, próprios de um laboratório de química. "Meu objetivo é ser polêmico."

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