Morreu nesta terça-feira a antropóloga Eunice Durham, aos 90 anos. A informação foi confirmada em nota publicada pela Universidade de São Paulo. Professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Durham atuou em defesa da ciência e da pesquisa, sendo uma das fundadoras do Nupes, o Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior.
Nascida em Limeira, no interior paulista, em julho de 1932, Durham ganhou há 20 anos o título de professora emérita da universidade, onde se graduou em ciências sociais, ainda nos anos 1950, e também onde fez mestrado, doutorado e livre-docência.
O mestrado foi sobre imigração italiana, e a familiaridade com o tema levaria Durham a ser orientadora de Ruth Cardoso, antropóloga que foi mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua tese de doutorado sobre imigração japonesa. Já o doutorado de Durham deu atenção à migração rural urbana. A livre-docência, por fim, foi sobre o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski.
A partir dos anos 1980, concentrou seus trabalhos no tema do ensino superior, tendo sido presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Em 1984, publicou "A Caminho da Cidade", livro que se tornou referência nos estudos de migração, retomando algumas teses de Darcy Ribeiro.
De 1989 a 2005, coordenou o Núcleo de Pesquisa de Ensino Superior, o Nupes, da USP, em que deu notável contribuição ao pensamento educacional brasileiro. Crítica do corporativismo acadêmico, Durham era a favor de um modelo de ensino superior mais flexível e diverso, reunindo diferentes tipos de instituição —públicas, privadas e técnicas.
Ela se opunha, portanto, ao gigantismo das universidades públicas, preferindo um modelo que pudesse atender as especificidades de cada região do país. Na década de 1990, ocupou as secretarias nacionais do Ensino Superior e de Educação Superior, ligadas ao Ministério da Educação. De 1997 a 2001, também integrou o Conselho Nacional de Educação.
Ocupou ainda o cargo de presidente da Associação Brasileira de Antropologia entre os anos de 1978 e 1980 e de 1982 a 1984, quando enfrentou os militares na Fundação Nacional do Índio. Em nota transmitida pelas redes sociais, a Fundação FHC ressaltou a amizade entre Durham e Ruth Cardoso, que se conheceram ainda em 1956, dividindo a cadeira de antropologia cultural na USP.
"Diferentes níveis de relação uniam essas acadêmicas brilhantes, que trabalhavam em mesas vizinhas, na mesma sala do departamento, formando uma parceria científica e afetiva", diz a nota.
Juntas, as pesquisadoras assinaram inúmeros artigos e criaram o "Seminário das Segundas-Feiras", em que debatiam aspectos práticos de investigação com os orientandos. "As duas questionaram determinismos dos métodos de pesquisa, admitiram o papel da subjetividade do pesquisador no trabalho de campo e pensaram em como lidar com ela."
O velório da antropóloga aconteceu nesta quarta-feira no Cemitério e Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, às 11h, com a cerimônia às 13h.
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