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'O Telefone Preto' testa apelo dos filmes de terror e da Blumhouse com a pandemia

Obra é a primeira grande aposta de Hollywood num longa de horror com história original desde que os cinemas reabriram

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Ethan Hawke em cena do filme

Ethan Hawke em cena do filme "O Telefone Preto", de Scott Derrickson Divulgação

São Paulo

Em determinado ponto de "O Telefone Preto", o espectador deve soltar aquela clássica reclamação de filme de terror, em que questiona a inteligência das vítimas do monstro, espírito ou assassino da vez. No novo longa, isso acontece porque há um serial killer que atrai criancinhas para a sua van com truques de mágica, sem que elas desconfiem de quão suspeita é a situação.

Da mesma forma que o antagonista não tem dificuldade para cativar suas vítimas, "O Telefone Preto" também não sofreu para atrair o público americano para os cinemas. Agora, ao chegar ao Brasil e a outros mercados internacionais, vai testar novamente quão eficaz é o seu poder de sedução.

Não só isso –a estreia é também um grande teste para Hollywood, que ainda não sabe como filmes de terror originais vão se comportar nas bilheterias pandêmicas. Até agora, os grandes lançamentos do gênero foram sequências, remakes ou derivados.

"O Telefone Preto", vale dizer, é uma adaptação de um conto do autor Joe Hill –mas pouca gente o conhece, então não há uma Jamie Lee Curtis ou um Michael Myers para mobilizar legiões de fãs, como no último "Halloween". A trama acompanha os desaparecimentos de várias crianças de uma cidadezinha americana, que deixam a população e a própria polícia intrigadas.

Até que Finney se torna o sequestrado da vez. Ao voltar da escola, certa tarde, ele esbarra num sujeito estranho que deixa cair vários objetos no chão. Por ajudar o homem, ele é recompensado com um truque de mágica –mera distração para que o personagem vivido por Ethan Hawke o ponha para dormir e o tranque em seu porão.

Pelos dias que se seguem, o garoto de 13 anos vai viver num cubículo de concreto onde há só um colchão e um telefone preto pendurado na parede. O sequestrador, que não tem nome, diz que não vai obrigar o menino a fazer nada que não queira –mas logo Finney percebe que é a nova vítima de um jogo sádico e que, se desobedecer às ordens de seu raptor, será punido fisicamente, de forma cada vez mais agressiva, até a morte.

"Eu fiquei fascinado pelo fato de a trama combinar dois subgêneros de terror que não são vistos juntos –as histórias de assassinos em série e as de fantasmas. A ideia de ter um espírito ajudando uma nova vítima era muito original e cinematográfica", diz o diretor Scott Derrickson.

Em seu cativeiro, Finney começa a receber ligações do além, feitas pelos garotos mortos anteriormente pelo vilão. Eles o ajudam a bolar planos de fuga, enquanto somos apresentados a um desfile de criancinhas estraçalhadas e ensanguentadas, o que não afastou o público dos cinemas lá fora.

"O Telefone Preto" fez US$ 102 milhões em bilheteria até agora –cerca de R$ 550 milhões–, o que o tornou o 20º maior lançamento do ano. Mas essa soma ainda vai crescer, com a estreia em mercados grandes, como o Brasil e algumas nações asiáticas.

"O terror tem papel importante nessa recuperação dos cinemas após a pandemia. Nós sabemos que esses grandes eventos, especialmente os lançamentos de super-heróis, ainda vão bem nas bilheterias, mas eu fiquei muito feliz de ver, por exemplo, o sucesso de ‘Top Gun: Maverick’", diz Derrickson.

"Há certo poder em ver um filme cercado por outras pessoas, isso potencializa a experiência. No caso do terror, isso é muito importante, porque todo mundo se assusta junto, pula da cadeira ao mesmo tempo. É uma experiência comunal, ver um filme de terror sozinho em casa é completamente diferente."

Das 20 melhores performances de bilheteria global do ano, 13 são sequências ou derivados de franquias já consolidadas, como o próprio "Top Gun" e "Pânico", também um terror, mas baseado numa saga de sucesso comprovado. Das sete restantes, três são produções chinesas que tiveram êxito restrito ao superpovoado país. Sobram só quatro longas hollywoodianos que são, na prática, novidade.

Os resultados de "O Telefone Preto" até aqui acalmam produtores e estúdios, que ainda não tinham certeza se filmes originais, especialmente os de terror e, portanto, considerados de médio porte, se dariam bem nas salas de cinema assustadas pela Covid-19.

Claro, no ano passado o terror foi o gênero que dividiu a tarefa de reerguer as bilheterias com os super-heróis –mas o fez sempre reciclando personagens do passado. Foi o caso de "Um Lugar Silencioso: Parte 2", com US$ 297 milhões, "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio", com US$ 206 milhões, "Halloween Kills: O Terror Continua", com US$ 131 milhões, "A Lenda de Candyman", com US$ 77 milhões, e "Uma Noite de Crime: A Fronteira", com US$ 77 milhões.

"O Telefone Preto" é motivo de comemoração para toda a indústria, que pode dormir tranquila sabendo que seus monstros sanguinários ainda atraem público. E é, em especial, mais um strike para a Blumhouse, produtora que se especializou em tirar grandes retornos de pequenos orçamentos –o novo filme custou só US$ 18 milhões, ou R$ 97 milhões, padrão baixo para produções hollywoodianas.

É deles o longa "Atividade Paranormal", que há 15 anos fez quase US$ 200 milhões a partir de um investimento de pouco mais de US$ 200 mil –e ainda inspirou uma franquia bem-sucedida. E "Uma Noite de Crime", que em 2013 transformou US$ 3 milhões de orçamento em US$ 90 milhões de bilheteria e mais vários milhões com sequências e uma série de TV.

Com os resultados, é bem provável que a produtora transforme "O Telefone Preto" em mais uma franquia, capaz de gerar sequências, derivados, merchandising, atrações de parque temático e por aí vai. Derrickson, o diretor, e Hill, o autor do conto original, parecem estar dispostos a mergulhar ainda mais fundo nesse universo.

Em entrevista ao site americano ComicBook, o cineasta disse que o escritor já tinha uma ideia para uma continuação. "Se esse primeiro filme for bem, eu a farei", afirmou, ainda sem saber que sim, "O Telefone Preto" traria vários dólares para a Universal.

Agora, o caminho parece livre para que outros estúdios também invistam em temporadas no cinema para seus filmes de terror. Os principais títulos com lançamento previsto para breve são "Não! Não Olhe!", trama alienígena de Jordan Peele, "Bodies Bodies Bodies", sobre uma viagem de amigas que dá errado, "Beast", em que Idris Elba protege seus filhos de um leão raivoso, e "Barbarian", sobre uma cliente do Airbnb que divide sua casa com um estranho.

O Telefone Preto

  • Quando Estreia nesta quinta (21), nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Ethan Hawke, Mason Thames e Madeleine McGraw
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Scott Derrickson
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