Quem é Billy Porter, de 'Pose' e 'Tudo É Possível', que já alfinetou Harry Styles

Ator faz sua estreia como diretor e se tornou ícone da moda e um dos principais porta-vozes por diversidade nas telas

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São Paulo

De saltos vermelhos altíssimos, com um vestido dourado cheio de brilho ou com o rosto parcialmente coberto pela aba de grandes chapéus. É sempre assim, causando impacto, que Billy Porter costuma aparecer nos filmes, séries e peças que estrela.

Nos últimos meses, no entanto, ele deixou a extravagância de lado e vestiu algo mais confortável, já que não há muito para mostrar quando se está por trás das câmeras. O americano assumiu pela primeira vez a direção de um longa, "Tudo É Possível", que estreia agora no Amazon Prime Video.

Billy Porter participa do Met Gala de 2019, em Nova York
Billy Porter participa do Met Gala de 2019, em Nova York - Nina Westervelt/NYT

A comédia romântica adolescente não foge das fórmulas usadas e abusadas pelo gênero, mas tem uma grande reviravolta –a mocinha protagonista é trans, algo ainda raro mesmo no atual contexto de proliferação de personagens gays e, em menor quantidade, lésbicas nas histórias de amor que vemos nas telas.

"Esse é o motivo para eu virar diretor. Eu me comprometi a prestar um serviço, e esse serviço é para a comunidade queer, é para mostrar às pessoas o mundo como ele é, diverso", diz Porter, em conversa por vídeo.

"É necessário e, infelizmente, ainda precisamos educar. Como artistas, podemos fazer isso enquanto entretemos, de forma não didática, leve. Uma colher de açúcar ajuda o remédio a descer", acrescenta, citando uma das canções de "Mary Poppins", "A Spoonful of Sugar".

Foram os musicais que puseram Porter no radar da indústria, muito antes do premiado papel na série "Pose" ou no superdivulgado filme "Cinderella", com Camila Cabello, em que viveu a Fada Madrinha. Mas foram anos sendo sabotado por produtores ainda avessos à representatividade até que isso acontecesse.

Na semana passada, o ator-diretor relembrou o início da carreira ao aceitar um prêmio honorário do Outfest, festival de cinema LGBTQIA+ de Los Angeles, e falou sobre como entre os anos 1990 e 2000 não conseguia emplacar a carreira em Hollywood porque, a cada teste, ouvia que era "exagerado e teatral demais, e então o papel ia para um hétero".

"O que eu sou e o que eu represento não era possível na cultura mainstream quando eu comecei, então é um presente e uma bênção poder ser uma das pessoas liderando uma mudança", afirma. Além de se desdobrar no cinema, na televisão e no teatro, Porter também desdobra suas lutas, nas quais é bastante expressivo, em três –a LGBTQIA+, a da igualdade racial e a do HIV, vírus do qual é portador.

Ele se tornou, nos anos recentes, um dos principais porta-vozes da cultura americana quando o assunto é diversidade. Chegou até a alfinetar o astro pop Harry Styles no ano passado, quando ele se tornou o primeiro homem a aparecer sozinho na capa da Vogue, usando um vestido.

"Isso para mim é política, é a minha vida. Eu tive de lutar muito para poder usar um vestido no Oscar e não ser baleado. Mesmo assim a Vogue põe o Harry Styles, um homem branco hétero, num vestido na capa. Eu não estou criticando ele, mas é essa pessoa que vocês querem ver como representante dessa conversa?", disse, à época.

Em "Tudo É Possível", Porter retorna à sua cidade natal, Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia, e faz o que chama de declaração de amor ao local, do qual tem boas memórias, apesar da infância difícil. Ele nasceu ali em 1969, numa família extremamente religiosa, e já relatou ter sido assediado sexualmente por seu padrasto, quando tinha entre sete e 12 anos.

A arte foi sua fuga daquele ambiente violento e repressivo. Aos 23, ele ganhou US$ 100 mil ao vencer o programa de talentos Star Search, que já recebeu versões jovens de Britney Spears, Christina Aguilera e das Destiny’s Child. Na sequência, participou de uma montagem de "Grease" na Broadway e emendou trabalhos em outros musicais, como "Miss Saigon", "Smokey Joe’s Cafe", "Dreamgirls" e "Jesus Cristo Superstar".

Em paralelo, lançava álbuns musicais e tentava romper a bolha exclusivista e menos diversa do cinema e da televisão, embora só conseguisse papéis tímidos em produções igualmente pequenas. Foram mais de duas décadas até deixar os coadjuvantes e ganhar protagonismo com Lola, a divertida drag queen de "Kinky Boots", premiado musical que Cyndi Lauper criou para a Broadway.

Porter ganhou um prêmio Tony pelo personagem e um Grammy pela trilha do espetáculo, o que o ajudou a entrar para para o clube de estrelas dos palcos levadas à TV pelo superprodutor Ryan Murphy.

Foi numa série dele, "Pose", como o elegante e sarcástico mestre de cerimônias Pray Tell, que Porter foi apresentado a boa parte do mundo, num trabalho elogiadíssimo em que lidou com o pico da Aids na comunidade queer nos anos 1980 e 1990. Por ele, se tornou o primeiro homem negro abertamente gay a vencer o Emmy de ator em série dramática.

O americano agora está a um passo de entrar para o seleto grupo de EGOTs –artistas que venceram os quatro principais prêmios do entretenimento americano, o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony. Questionado se pensa nisso, Porter dá uma amostra do jeito indiscretamente honesto que também vem contribuindo para seu sucesso.

"É claro que eu penso nisso", diz, contrariando outras celebridades na mesma situação, que só desconversam sobre o assunto. "Mas essa não é a razão para eu fazer o que faço. Eu faço meu trabalho e é isso, assim funciona melhor para a minha ansiedade", brinca.

Foi no tapete vermelho do Oscar, aliás, que Porter se projetou também como um novo ícone da moda, trajando vestidos longuíssimos e elegantérrimos enquanto a maioria das celebridades masculinas se contenta com o velho smoking preto.

No Met Gala de 2019, foi uma das atrações principais ao chegar ao evento carregado por meia dúzia de homens sarados descamisados. Com um vestido ofuscantemente dourado, ergueu um par de asas no meio do tapete cor-de-rosa, num aceno a Ra, o deu do Sol no Antigo Egito.

Porter acaba de vencer seu segundo Tony, desta vez como produtor, pelo musical "A Strange Loop". Ele vai voltar à cadeira de diretor em breve, na série da Fox "Accused", e estrelará o filme "Our Son" ao lado de Luke Evans, um drama sobre um casal gay que briga pela guarda do filho. Também está cotado para um aguardado –mas incerto– remake de "A Pequena Loja dos Horrores".

"Eu não tenho limites, eu não gosto deles", brinca o ator. "Eu comecei como cantor e passei o resto da minha vida aumentando o meu território, porque sou uma pessoa criativa e ponto. Eu passo por qualquer porta assim que ela se abre, e isso tem funcionado muito bem para mim."

Tudo É Possível

  • Onde Disponível no Amazon Prime Video
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Eva Reign, Abubakr Ali e Renée Elise Goldsberry
  • Produção EUA, 2022
  • Direção Billy Porter
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