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Alan Moore tem primeiros passos na magia revelados por HQ cheia de drama

'Palavras, Magias e Serpentes' traz a história de duas performances do artista de quando ele anunciou que era mágico

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Claudio Gabriel
Rio de Janeiro

Com quase 45 anos de carreira, há muitas facetas possíveis para se falar de Alan Moore. Desde roteirista, quadrinista e anarquista, até escritor, músico, diretor e polêmico. Porém, um de seus lados ficou escondido por algum tempo do público —o de mágico. A magia, aliás, cercou boa parte da produção do britânico desde os anos 1990 e foi ganhando espaço dentro dos gibis e também dos livros.

Apesar da relação com o tema, ele só veio a anunciar que era um mágico no ano de 1993, quando fez 40 anos de idade. Foi nesse período que criou performances em texto para serem apresentadas.

A primeira foi no ano de 1995, "A Membrana Fetal". Nela, Moore usava a morte de sua mãe como pretexto para abordar a vida terrena e as relações que construímos com os lugares. Entre outras, está também "Serpentes e Escadas", apresentada em 1999. Nessa performance, o artista fala da psicogeografia, ou seja, a conexão da memória com os lugares pelo qual passamos.

Imagem do livro "Palavras, Magias e Serpentes", da Dark Side.
Imagem do livro 'Palavras, Magias e Serpentes', da Dark Side - Divulgação

Essas duas apresentações foram vistas com muito entusiasmo pelo desenhista Eddie Campbell. Os dois haviam trabalhado alguns anos antes em "Do Inferno". Assim, Campbell resolveu transformar ambas em quadrinhos. A compilação, junto com uma entrevista do quadrinista com Alan Moore, está sendo lançada agora pela Darkside Books em "Palavras, Magias e Serpentes".

"Essas apresentações faladas que ele estava fazendo exigiam atenção. Ele já tinha feito duas delas quando o visitei em 1998 e tinha uma gravada em um CD comercial. Achei que era a melhor coisa que ele tinha escrito, melhor que ‘Do Inferno’", conta Campbell, por email, sobre o projeto.

"Ele estava descrevendo a vida da classe trabalhadora na segunda metade do século 20 e evocava todos os tipos de imagem de minha própria experiência. Imediatamente propus a Alan a ideia de fazer um livro. Desenhei algumas páginas de teste, ele gostou e começamos a fazer."

A ideia de iniciar na magia, aliás, veio em "Do Inferno". A produção retrata a história do assassino em série Jack, o Estripador e tinha diversos elementos de ocultismo e religiosidade já na trama. Num dos escritos de Moore, um personagem diz que o único lugar em que os deuses existem é na mente humana. A partir dali ele começou a reorganizar toda a vida em torno dessa ideia. E a única solução que encontrou, após estudos de filosofia, era que precisava se tornar um mago.

Muito mais que performances, o projeto de Moore era um compilado de conteúdos. Um deles, como o desenhista diz, é um álbum com as músicas que tocam durante as apresentações. Cada texto tinha um disco próprio.

O responsável por todas as músicas foi Tim Perkins. Junto do roteirista britânico, eles estiveram na formação do grupo ocultista The Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels, ou a Lua e a serpente, o grande teatro egípcio das maravilhas, que reuniu ainda o baixista da banda Bauhaus, David J. No total, foram cinco CDs. Outro uso recorrente eram as projeções.

Moore, aliás, fez as apresentações entre meados dos anos 1990 até o início dos anos 2000. Depois disso, ainda criou uma última performance em 2010, no metrô de Londres, chamada "Unearthing".

Entre todos os trabalhos, Campbell relata que escolheu as duas porque "se destacavam por serem narradas ao longo do tempo, em vez de serem construídas a partir de segmentos que não se prolongavam um no outro". "Em outras palavras, tinham drama."

Dos temas tratados nas performances, estão contracultura, música, poesia, pintura, morte e crítica ao governo Thatcher. Essas discussões começaram a aparecer também em obras do autor da mesma época, como as HQs "Promethea" e "Lost Girls", além do seu primeiro romance, "A Voz do Fogo". Apesar disso, algumas já eram recorrentes em trabalhos anteriores, como "Monstro do Pântano" e "V de Vingança".

Estudando o ocultista Aleister Crowley, Moore ainda desenvolveu ideias particulares, como o ideário e escritos sobre a relação entre magia e arte.

Apesar disso, boa parte das discussões não interessavam tanto ao desenhista quando fez as adaptações. "Os temas em si não me interessaram muito, exceto, em ‘A Membrana Fetal’. Alan imagina a vida vivida ao contrário, desde a idade adulta até o útero, e, para ilustrar, consegui evocar imagens da minha própria infância", diz Eddie Campbell.

Ainda muito reconhecido por ser avesso às entrevistas e aparições públicas, além do abandono do mundo dos quadrinhos em 2019, as simbologias de Alan Moore permanecem em toda parte. Para ver isso é só procurar uma casa cheia de cobras em um pacato subúrbio britânico. Por lá, é possível encontrar o mago dos quadrinhos, assim como na vida real.

Palavras, Magias e Serpentes

  • Preço R$ 64,90 (192 págs.)
  • Autor Alan Moore
  • Editora Darkside Books
  • Tradução Andrio J. R. Santos e Enéias Tavares
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