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Televisão

'Candy', com Jessica Biel, é bom, mas é ofuscada por 'Pacto Brutal'

Minissérie em cinco episódios adapta história real de dona de casa que assassina a amiga a machadadas no Texas

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Candy

  • Onde Disponível no Star+
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber
  • Produção EUA, 2022
  • Direção Michael Uppendahl, Jennifer Getzinger, Benjamin Semanoff, Tara Nicole Weyr

No verão de 1980, Candace Montgomery, uma mãe de família dedicada da cidadezinha de Wylie, no Texas, passou na casa de sua amiga, Betty Gore, para pegar um maiô de natação. Quando deixou o endereço, levando com ela o que tinha ido buscar, Betty Gore estava morta na área de serviço, enquanto seu bebê de poucos meses chorava no quarto do fundo. Havia levado 41 golpes de machado.

O assassinato –e os acontecimentos que levaram a ele, assim como o que ocorreu em seguida– é uma das histórias mais folclóricas do Texas, um estado cheio de histórias folclóricas, muitas delas envolvendo armas. Mas de fogo, tipo revólveres, espingardas, metralhadoras. Um machado foi considerado esdrúxulo demais até para o Texas.

Não havia jeito de esta trama não virar algum tipo de programa em série, de áudio, de reportagens, de TV. Nesta era em que crimes verdadeiros se transformaram em uma obsessão coletiva, assistimos a uma dona de casa e mãe de família que vai à igreja todo domingo massacrar, numa manhã qualquer, uma amiga com golpes de machado e depois seguir a rotina do dia sem perder um compromisso —era bom demais para não virar roteiro.

Cena de série que retrata uma mulher de cabelos cacheados e óculos de armação grande
Cena da série 'Candy', com Jessica Biel - Divulgação

Virou, e mais de um. A minissérie "Candy", com Jessica Biel, estreou no último dia 27 no canal Star+, com todos os cinco episódios de mais ou menos 45 minutos cada disponíveis de uma só vez. É deste que trata esta resenha.

Em algum momento do segundo semestre deste ano, a HBO Max vai pôr no ar "Love and Death", minissérie em seis episódios baseada no mesmo caso, com Elizabeth Olsen como Candy e Jesse Plemons, de "Fargo" e "Breaking Bad", como Allan Gore, o viúvo da mulher assassinada.

Na versão que está no ar, o marido de Betty é interpretado por Pablo Schreider, de "Orange Is the New Black". E há um motivo pelo qual esse papel foi dado a atores mais conhecidos nas duas versões da trama.

É que, na vida real, Candy e Allan tiveram um caso, e foi esse o motivo alegado para o crime brutal. Contar mais é muita sacanagem.

Em "Candy", Jessica Biel, uma das mulheres mais lindas que andam pela Terra, dá aquele passo na carreira que também se tornou quase obrigatório na vida de uma atriz talentosa, chique e jovem, mas não tanto (ela fez 40 anos esse ano), de Hollywood —ela produz a minissérie e tenta se passar por uma pessoa comum, quase feia, na pele da protagonista.

Não funciona. Seu rosto, mesmo escondido por trás de óculos indecentes de tão grandes e uma peruquinha que devia ser proibida por lei, não tem como disfarçar os traços exóticos e sexy que a natureza lhe deu. O corpo, então, atlético, todo coberto por uma carne magra que abraça o esqueleto perfeito e embalado por uma pele firme sem essas coisas mundanas como estrias, celulites ou manchas de sol, lembra um animal selvagem daqueles de documentários da natureza.

Mas ela não é só isso, e se sai bem na interpretação da protagonista, uma mulher que também interpretava o tempo inteiro, porque queria agir sempre totalmente de acordo com as regras. Ela era uma dessas esposas-executivas, que cumprem todos os papéis esperados de uma dona de casa e mãe de família, sempre de bom humor, carinhosa e maternal. Cozinhava bem, recebia bem, se comportava bem, frequentava a igreja com a família, tinha uma casa elegante, dava conselhos para as amigas e até acomodou a esquisita Betty Gore no seu grupo mais íntimo.

Esta, ao contrário, penava com a vida. Além de nunca ter conseguido perder o peso da primeira gravidez e já estar na terceira quando foi assassinada, era ciumenta, possessiva, descontrolada, infeliz. Ligava desaforada para o chefe do marido toda vez que ele tinha uma viagem de trabalho. Perdia a calma com o choro constante do bebê e vivia numa casa sombria e mal decorada. Não tinha assunto com as outras mulheres, que só aceitavam a sua presença porque Candy fazia questão.

Mas a perfeição cobrou um preço, e uma hora Candy percebeu que não conseguia mais ser feliz só com aquela vida, que já tinha atingido o máximo de sucesso, prazer e desfrute que ela tinha como objetivo. Então, decidiu que queria ter um caso extraconjugal. Foi à caça, como uma head hunter. Selecionou o homem da comunidade por quem se sentia mais atraída, propôs a ideia, fez uma lista de prós e contras, criou regras e as cumpriu à risca.

A série faz um bom trabalho ao mostrar a impossibilidade de se ter alguma satisfação com uma vida de dona de casa. Mas chegou ao Brasil no momento errado. A estreia ter coincidido com "Pacto Brutal", da HBO Max, que reconta em cinco episódios o assassinato de Daniella Perez por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, foi uma baita falta de sorte.

Afinal, o que vale a vida de uma dona de casa comparada ao assassinato da mocinha da novela, pelo ator com quem ela rompeu na trama?

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