Esfaqueado nesta sexta-feira quando se preparava para dar uma palestra numa organização beneficente em Chautauqua, cidade no oeste do estado de Nova York, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie é perseguido e ameaçado há décadas por autoridades iranianas. Mais precisamente, desde 1988, ano em que ele publicou "Os Versos Satânicos" —o livro, que ficcionaliza a vida do profeta Maomé, foi considerado ofensivo à fé islâmica.
Segundo a polícia nova-iorquina, o suspeito de atacar o escritor foi detido e ainda não há detalhes sobre sua identidade ou motivações.
Não se descarta, porém, a possibilidade de que o atentado tenha sido motivado por "Os Versos Satânicos". Isso porque várias pessoas associadas ao romance já foram vítimas de ataques.
Queimada em praça pública em vários países islâmicos, a obra fez com que seu autor, editores e tradutores recebessem uma sentença de morte em 1989. Na época, o aiatolá Khomeini, dirigente do Irã, ofereceu US$ 2 milhões como recompensa a quem os matasse.
Diante das ameaças, Rushdie passou a viver recluso sob a proteção da polícia britânica. Pouco depois da mudança para o país, ele chegou a receber um livro-bomba num hotel em Londres. A bomba acabou explodindo antes do planejado, matando o próprio autor do atentado, que foi sepultado como "o primeiro mártir a morrer em uma missão para matar Salman Rushdie".
Em 1991, Hitoshi Igarashi, tradutor do livro no Japão, foi assassinado a facadas. Dias depois, o tradutor italiano Ettore Caprioli foi ferido, também com uma faca.
Dois anos depois, o editor turco Aziz Nesin, que havia publicado extratos do livro num jornal, foi atacado por extremistas islâmicos, que o encurralaram num hotel e incendiaram o prédio. O fogo matou 37 pessoas, mas Nesin sobreviveu.
Ainda em 1993, o tradutor do livro para o norueguês, William Nygaar, foi baleado com três tiros e ficou gravemente ferido.
Nunca foi provado o envolvimento do Irã nas ações. Em 1995, Rushdie faz sua primeira aparição pública, em Londres, desde a fatwa —um decreto religioso, no caso, a que ordenou a morte de Rushdie por blasfêmia a Maomé. Na época se estimou que o governo britânico já teria gasto mais de US$ 7,5 milhões para proteger o escritor.
Apesar de oficialmente a fatwa ter sido encerrada em 1998, pelo ex-presidente iraniano Mohammad Khatami, na prática, a perseguição a Rushdie nunca parou.
No Brasil, "Os Versos Satânicos" foi publicado pela primeira vez em 1998 pela Companhia das Letras, editora que segue com os direitos da obra. Na época, a casa afirmou que não recebeu nenhuma ameaça decorrente da oposição de líderes islâmicos à edição da obra e que nenhuma livraria se recusou a vender o livro.
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