Golpe com Tarsila inspira comparações com Daniella Perez e 'Casa Abandonada'

Mundo da arte ferve com fofocas e estupefação em torno do caso da filha que roubou obras milionárias da própria mãe

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São Paulo

A moça loira não aguentou. Quando viu as notícias em cascata na tela do celular, ligou na hora para saber como estava a amiga, Geneviève. Queria saber como a mulher que costumava encontrar nos vernissages por aí acabou exposta daquele jeito.

O almoço parou, de fato, por causa da conhecida da consultora de arte, de uma família de marchands do Rio de Janeiro.

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Obra 'Sol Poente', de Tarsila do Amaral - Reprodução

Geneviève é Geneviève Boghici, viúva de Jean Boghici, um dos maiores colecionadores de arte do país, agora conhecida como a idosa que sofreu um golpe de R$ 720 milhões da filha, que tentou vender, sem seu aval, telas importantes do nosso modernismo, entre elas "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, disputada por museus do mundo inteiro.

O acervo dos Boghici, na casa das 5.000 obras, é coisa de sonho no mundo da arte --sonho de marchands que um dia esperam lucrar milhões com as transações e de qualquer instituição que queira ver nas paredes brancas de suas galerias as joias que enfeitavam a famosa cobertura da família em Copacabana, aquela que pegou fogo dez anos atrás e onde pereceram "Samba", de Di Cavalcanti, e outras pinturas.

Não houve outro assunto nas rodinhas de conversa do mundo "artsy", aliás, desde que começaram a circular imagens chocantes das telas roubadas resgatadas por policiais. Ver uma pintura de Tarsila embrulhada em plástico-bolha enfiada debaixo de uma cama provocou calafrios em muitos galeristas incrédulos.

Toda a estupefação transborda, é claro, o mundo da arte. Geneviève foi enganada pela própria filha com a ajuda de uma falsa vidente e depois mantida em cárcere privado sob uma série de ameaças. Em paralelo, a herdeira se desfazia de joias da coleção com valores delirantes para um Brasil afundado na miséria e atordoado pela inflação.

Que um crime desse possa chacoalhar os alicerces de uma família que poderia muito bem estar num enredo de novela de Manoel Carlos, com obras de arte milionárias no meio, foi assunto mais saboroso que os pratos do almoço para celebrar uma exposição.

Louca, totalmente drogada, viciada, psicopata e outros termos desabonadores rodavam de boca em boca na mesa ao descrever Sabine Boghici, a atriz frustrada e defensora dos animais agora suspeita de dar o escandaloso golpe.

Um galerista, dono de um império do chamado mercado de arte secundário, aquele que vende peças que já pertenceram a uma coleção, como a dos Boghici, logo contou quem tinha negociado dois trabalhos da família para o dono do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o mesmo que detém o "Abaporu", obra-prima de Tarsila.

O nome de Ricardo Camargo, de uma galeria das menos expressivas no mercado, chamou a atenção. Não seria o primeiro a vir à mente nessa seara elevada de negociações.

Mas, negócios à parte, o marchand se dizia escandalizado com como uma filha poderia fazer tal coisa com a própria mãe. E era outro que não parava de atender ligações de insiders querendo ser mais insider na desgraça alheia, entre eles diretores de grandes museus, quem sabe interessados em saber o que aconteceu com as obras e se mais peças poderiam chegar ao mercado.

Outra mulher à mesa opinou que as consequências para a golpista seriam aliviadas alegando problemas mentais.

É simples, a mãe pode retirar a denúncia e as vendas podem ser anuladas porque a operação já estava viciada na origem, acrescentou um advogado ao lado, prevendo um final pacífico para o caso.

Foi quando aqueles menos otimistas, talvez com mais sede de sangue, emendaram outros dois assuntos-sensação do momento, a série sobre o assassinato da atriz Daniella Perez e "A Mulher da Casa Abandonada". Na opinião desse grupinho da arte, o caso Boghici tem tudo para ser o novo "true crime" da vez.

O desejo explícito era que mandassem o rapaz de Higienópolis, em referência ao jornalista Chico Felitti, autor do podcast, já para Copacabana.

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