Quem é João Camarero, violonista destaque entre os maiores solistas do Brasil

Músico já compôs com grandes nomes da MPB, como Paulo César Pinheiro e Cristovão Bastos

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São Paulo

Apontado como sucessor do violonista Raphael Rabello, que viveu entre 1962 e 1995, o violonista João Camarero Duarte, de 32 anos, rebate a afirmação. "Raphael é um ídolo, um gênio absoluto. Não toco nem vou tocar metade do que esse cara tocou. Claro que me sinto lisonjeado, mas para mim ele é um farol, uma estrela-guia ao lado de outras grandes referências", disse o músico.

Como Rabello, Camarero compôs com grandes nomes da MPB, como Paulo César Pinheiro e Cristovão Bastos, além de se apresentar em várias salas de concerto pelo mundo.

Retrato do violonista João Camarero - Gil Inoue/Divulgação

Em termos de sonoridade, em que ele difere de Rabello? "Raphael tinha uma sonoridade um pouco mais 'áspera’, mais ligada ao violão popular brasileiro e ao flamenco. Eu busco um som um pouco mais doce, mais redondo, que está mais atrelado ao violão clássico."

Diferentemente de Rabello, que era fluminense de Petrópolis, Camarero é paulista de Ribeirão Preto. Ele se mudou com a família aos cinco anos de idade para Avaré, no interior paulista, e com 20 anos foi para o Rio de Janeiro, onde morou até 2020. Atualmente, reside em São Paulo, para onde veio por causa da pandemia da Covid-19 e do trabalho.

As primeiras lembranças de Camarero relacionadas à música estão ligadas a sensações. "São mais lembranças de um ambiente do que propriamente de um fato específico. Lembro-me de sentar com meu pai para ouvir música, de ficar atônito em meio a uma roda de violão e do cheiro do piano da casa da minha tia-avó Lenita, a primeira pessoa que percebeu minha inclinação musical."

Seu primeiro instrumento foi um pianinho elétrico, dado por essa tia-avó. Com oito anos, Camarero ouvia o que os pais escutavam —muita música brasileira. "Era Milton Nascimento, Gilberto Gil e Tom Jobim, entre outros. Meu pai também gostava de música clássica, especialmente Mozart. Nessa idade comecei a estudar piano", diz o músico, que teve como professora a pianista e cantora Lucila Novaes, do grupo Trovadores Urbanos, com quem descobriu o prazer de tocar em grupo.

Dos 12 aos 14 anos, ainda morando em Avaré, o músico tocava bateria numa banda de rock. "Meu irmão mais velho tinha uma banda e meu sonho era tocar na banda dele. Mas já tinha um baterista e fiquei de fora. Aí, montei a minha própria banda. Depois disso, fui para o violão, já com um repertório totalmente voltado para a música brasileira. Foi quando mergulhei de cabeça no universo do choro", conta o músico, que teve como professores os violonistas Daniel Pereira e Teixeira de Abreu, responsáveis, segundo Camarero, por chamar a sua atenção para a importância do estudo e da dedicação.

O violão de sete cordas entrou em sua vida, em 2006, depois que ele ouviu o mestre Dino Sete Cordas, no mesmo ano em que o violonista, nascido em 1918, morreu. Entrou no Conservatório de Tatuí, no interior de São Paulo, com 17 anos, mas saiu depois de um ano. "As maiores lições que tive no conservatório vieram da convivência com pessoas de diferentes universos musicais, o que me encaminhou para onde eu queria ir", conta.

Instalado no Rio de Janeiro, Camarero ingressou na Escola Portátil de Música, instituição com cursos livres. "O tempo que fiquei lá se confunde com o tempo que também trabalhei lá, de 2012 até 2018", diz o músico, que passou de aluno a professor da escola.

Lá recebeu a orientação do consagrado violonista alagoano João Lyra, para desenvolver um trabalho como solista. "Até então me dedicava quase que exclusivamente ao acompanhamento. Lyra, além de me orientar nesse sentido, foi uma pessoa que abriu muito minha cabeça musicalmente."

A discografia de Camarero, que já tocou com Maria Bethânia e Dori Caymmi, entre outros artistas da MPB, conta com três álbuns –"João Camarero", de 2016, "Vento Brando", de 2019, e "Gentil Assombro", de 2022. Do último, o músico destaca a faixa "Dança Brasileira", de Radamés Gnattali. "É uma peça desafiadora tecnicamente. Mais que isso, o desafio é manter o sabor do ‘balanço’ que ela oferece sem torná-la burocrática."

Perguntado sobre o que as pessoas devem ter em mente ao escutarem "Gentil Assombro", Camarero responde "talvez ouvir sem nada em mente e deixar que a música leve você para onde a sua mente quiser".

Igual a Rabello, uma coisa é certa, Camarero ama a música, e a música ama Camarero.

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