Descrição de chapéu

Rosalía faz show em São Paulo e terá música com Gabriel do Borel

Cantora espanhola que teve projeção global com último disco, 'Motomami', ensaia aproximação com o Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rafael Capanema

Nesta semana, fãs-detetives de Rosalía descobriram que a cantora espanhola registrou uma música inédita com o funkeiro carioca Gabriel do Borel, autor do hit "sentaDONA", no site da ASCAP, a Sociedade Americana de Compositores, Autores e Editores.

Pouco se sabe sobre o futuro lançamento além do título —"La Kilie"—, mas ele sela uma aproximação cada vez maior com o Brasil, onde a cantora faz seu primeiro show, na segunda-feira, no Espaço Unimed, em São Paulo.

Rosalia na abertura de sua turnê 'Motomami' na Espanha
Rosalia na abertura de sua turnê 'Motomami' na Espanha - Taylor Hill/Redferns

A admiração de Rosalía pela música brasileira é antiga. Em entrevista concedida à Folha, quatro anos atrás, ela havia revelado os desejos —até hoje não realizados— de cantar com Caetano Veloso e de interpretar alguma canção do repertório de Elis Regina.

O primeiro agradecimento no seu disco mais recente, "Motomami", lançado em 2022, é à América Latina, "por sua arte e por tanta inspiração". Trata-se provavelmente de uma resposta às críticas por apropriação cultural que ela vem recebendo desde que começou a se aventurar no reggaeton e em outros ritmos latino-americanos.

De brasileiro no álbum, porém, só a bateria de escola de samba em "CUUUUuuuuuute" e, talvez, alguns ecos de baile funk paulistano no riff pesadão de "Saoko", o primeiro single.

Predominam no resto do disco, além do flamenco e da música americana, outros ritmos dos nossos vizinhos, tais como bachata, bolero, champeta, reggaeton.

Em maio de 2020, no início da pandemia de Covid-19, Rosalía participou de uma live feota por MC Kevin o Chris e pediu "Duas da Manhã", colaboração dele com o mesmo Gabriel do Borel. "La Kilie" vai ser a prova de que aquilo não se tratava, como se diz, de um "rolê aleatório".

A cantora espanhola Rosalía
A cantora espanhola Rosalía - Divulgação

"Motomami" consolidou Rosalía como estrela global. Sua popularidade vinha aumentando gradualmente desde o primeiro disco, "Los Ángeles", de 2017, que sobrepõe o canto flamenco a violões nada flamencos; o segundo, "El Mal Querer", do ano seguinte, que mescla a tradição espanhola à música urbana; e, finalmente, singles comerciais como "Con Altura", com J. Balvin, e "La Noche de Anoche", ao lado de Bad Bunny.

Assim como os dois primeiros discos, "Motomami" é um álbum conceitual, mas a amálgama de ritmos e o formato de colagem dificultam, a princípio, que o ouvinte identifique alguma coesão.

A coerência do disco está na instrumentação minimalista, ultraprocessada em estúdio, e nos altos contrastes, tanto musicais como líricos. O melhor exemplo é "Hentai", uma balada ao piano com melodias doces à la Disney, letra explícita sobre sexo —"apaixonada pela sua pistola"— e percussão com sons de metralhadora. Ou a versão do bolero "Delirio de Grandeza", que ao final se transmuta em hip-hop.

A "Motomami World Tour" tem sido bem recebida, ainda que com algumas vozes dissonantes, como a de Diego A. Manrique, crítico do jornal espanhol El País. Em um texto, ele diz que "há momentos demais em que Rosalía parece estar felicitando a si mesma, quando poderia estar elaborando uma música mais livre e libertadora".

O público do primeiro dos dois shows da turnê em Madri não pareceu concordar. Brotaram por lá nomes como o cineasta Pedro Almodóvar, a atriz Rossy de Palma, colaboradora frequente do diretor, o ator Pedro Pascal e a "personalidade da mídia" Belén Esteban, que está para os memes espanhóis assim como Gretchen está para os memes brasileiros.

Essa plateia VIP era um microcosmo do público atual de Rosalía, cada vez mais amplo e heterogêneo dentro da Espanha, e em rápida expansão fora dela. Parafraseando o tuíte clássico de Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, é uma artista que une todas as tribos, como foi o Nirvana.

Espectadores em São Paulo devem esperar do show um reflexo do minimalismo do disco mais recente. Rosalía canta quase todas as músicas sobre bases pré-gravadas, menos quando se senta ao piano em "Hentai" e pendura a guitarra no pescoço para cantar e tocar "Dolerme".

O repertório é quase todo baseado em "Motomami", com uma ou outra faixa dos dois primeiros álbuns, versões mais enxutas de singles e um pot-pourri de clássicos do pop latino-americano.

Além de não trocar de roupa nenhuma vez, Rosalía faz uma performance algo teatral que pode ser lida como uma antitroca de figurino.

Também quase não há cenário no show. A atenção do público se fixa na cantora e no afiado corpo de baile, que chega ao auge quando forma uma moto humana sobre a qual Rosalía monta.

Fãs mais dedicados devem conhecer a participação dela no concurso de talentos Tú Sí que Vales, em 2008, quando a cantora tinha 15 anos.

"Desafinada e prepotente!", diz, com razão, o título de uma das versões do vídeo disponíveis no YouTube.
"Creio que você tem muito potencial, mas que ainda não sabe extraí-lo", diz um dos jurados. Rosalía recebe a crítica com um muxoxo típico de adolescente e a rebate com uma arrogância ainda mais típica da juventude: "Não posso fazer tudo! Tentar interpretar, cantar e dançar...".

Impecável nesses três fundamentos, a Rosalía de 2022 refuta a Rosalía de 2008. Como canta em "Saoko", "eu me contradigo, eu me transformo".

O clímax da apresentação deve ser "Despechá", hit surpresa de verão lançado como single depois de "Motomami", em que ela sapateia sobre o coração de um ex-amor subvertendo Jackson 5 —"Olha que fácil, vou te dizer: A, B, C, um, dois, três, que esta motomami já era pra você."

Rosalía em São Paulo

  • Quando Seg. (22), às 21h30
  • Onde Espaço Unimed - r. Tagipuru, 795, São Paulo
  • Preço De R$ 240 a R$ 750, em eventim.com.br
  • Classificação 16 anos
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.