Após 'CPI do Sertanejo', TCE emite alerta em SP e diz que shows podem ser ilegais

Órgão disse a gestores que eventos não devem ocorrer caso serviços como saúde e educação estejam comprometidos

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Brasília

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, o TCE-SP, alertou gestores públicos de que o uso de recursos públicos para realização de shows pode ser considerada ilegítima caso comprometa a oferta de outros serviços públicos essenciais, como saúde e educação.

Isso acontece após o órgão de fiscalização decidir acatar a recomendação do Ministério Público de Contas do estado, que fez um levantamento dos gastos dos municípios com esse tipo de evento após a "CPI do Sertanejo" —como ficaram conhecidas as denúncias de shows com cifras altas pagos pela prefeitura.

Gusttavo Lima (esq.), teve shows cancelados após 'CPI do Sertanejo', que começou com discussão entre Anitta (centro) e Zé Neto (dir.)
Gusttavo Lima (esq.), teve shows cancelados após 'CPI do Sertanejo', que começou com discussão entre Anitta (centro) e Zé Neto (dir.) - @gusttavolima no Instagram/@anitta no Twitter/Divulgação

A informação foi publicada pelo portal G1 e confirmada pela Folha. A recomendação também deve constar no Diário Oficial do estado nos próximos dias.

O Ministério Público fez um levantamento dos artistas mais pagos por prefeituras de 2014 até agora —e os sertanejos dominam o ranking. Entre os 30 que receberam mais de R$ 1 milhão, os artistas mais pagos foram Fernando e Sorocaba, com pouco mais de R$ 8 milhões dos cofres públicos destinados a eventos da dupla (veja tabela abaixo).

Os dez artistas mais pagos em São Paulo de 2014 a 2022

Posição Artistas Valor pago entre 2014 e
2022 (em R$)
1 Fernando e Sorocaba 8.147.097
2 João Bosco e Vinícius 5.414.640
3 Matogrosso e Mathias 5.102.500
4 Daniel 4.338.509,90
5 Luan Santana 4.299.332,14
6 Bruno e Marrone 4.205.500
7 Guilherme e Santiago 3.985.100
8 Thaeme e Thiago 3.660.770
9 Michel Teló 3.525.500
10 Carreiro e Capataz 3.517.965

Anitta e Jota Quest são dos poucos fora do sertanejo a figurar no levantamento —em 29ª e 20ª posição, respectivamente.

O entendimento do Ministério Público do estado é que esse tipo de despesa pode "ser considerada irregular se constatado inadimplemento recorrente de fornecedores em geral, atraso no pagamento da remuneração de servidores públicos e insuficiência nos repasses de encargos sociais ao instituto de previdência". Os gastos ainda podem ser considerados ilegítimos em caso de calamidade pública decretada.

Show de Fernando em Sorocaba em Barretos, em 2019
Show de Fernando em Sorocaba em Barretos, em 2019 - Francisco Cepeda/AgNews

Na recomendação, o MP de São Paulo chega a afirmar que é inconstitucional que municípios com déficit de vagas na rede de ensino continuem a gastar com shows artísticos em despesas que não são obrigatórias.

O órgão ainda sustenta a argumentação retomando uma série de outras recomendações emitidas em estados, como o de Minas Gerais.

Um dos casos que chamou a atenção do Ministério Público no levantamento foi a de Monções, com uma população de 2.267 pessoas em 2020, segundo o IBGE. A pesquisa no Portal da Transparência municipal do TCE-SP indica que o município arrecadou R$ 62 mil por dia em 2020, considerando todas as fontes de recurso.

Ao mesmo tempo, em apenas dois dias, a prefeitura gastou R$ 260 mil em dois shows sertanejos —despesa que equivale a quatro dias de custeio de todas as outras operações de ensino, saneamento básico, saúde, entre outras.

O MP também concluiu que ao menos 27 cidades do estado tiveram desabastecimento de medicamentos por mais de um mês durante 2019 e, ainda assim, continuaram a priorizar despesas com shows. Em quatro dessas cidades, o desabastecimento foi total.

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