Morre atriz indígena vaiada ao rejeitar Oscar para Marlon Brando em 1973

Academia se desculpou com Sacheen Littlefeather depois de quase 50 anos de seu ato de protesto contra Hollywood

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São Paulo

Morreu neste domingo a ativista Sacheen Littlefeather, aos 75 anos. O anúncio foi feito pela Academia de Cinema de Hollywood, que, recentemente, pedira desculpas à atriz vaiada durante a 45ª edição do Oscar.

Na ocasião, em março de 1973, a ativista por direitos indígenas foi à festa, em Los Angeles, para representar Marlon Brando, indicado por sua interpretação como Don Corleone em "O Poderoso Chefão". Quando anunciado o nome dele como melhor ator, ela subiu ao palco e recusou à estatueta que Roger Moore, ao lado de Liv Ullmann, tentou entregar.

A jovem apache, então aos 26 anos, se apresentou ao público e explicou o por que de seu gesto.

Atriz e ativista apache Sacheen Littlefeather, que representou Marlon Brando no  45º Oscar
Atriz e ativista apache Sacheen Littlefeather, que representou Marlon Brando no 45º Oscar - © AMPAS

"Estou representando Marlon Brando nesta noite e ele me pediu para fazer um longo discurso, que não consigo ler em razão do tempo, mas poderei entregar à imprensa depois", discursou a atriz.

"Ele lamentavelmente não pode aceitar este prêmio tão generoso. E as razões para isso são o tratamento dos indígenas americanos hoje pela indústria cinematográfica e na televisão em reprises de filmes, e também com os recentes acontecimentos em Wounded Knee."

Mais tarde, ela contou que, devido ao seu ato, o ator veterano John Wayne estava pronto para a atacar e precisou ser contido por seis seguranças.

No início deste ano, no documentário "Sacheen: Quebrando o Silêncio", a atriz deu detalhes da manifestação.

"Foi a primeira vez que alguém fez uma declaração política no Oscar. E foi a primeira cerimônia do Oscar a ser transmitida via satélite para todo o mundo, por isso Marlon a escolheu. Eu não tinha um vestido de noite, então Marlon me disse para usar minha camurça", disse Littlefeather.

Só neste ano a Academia enviou um pedido de desculpas à atriz, quase cinco décadas depois.

"Os maus tratos que sofreu por causa dessa declaração foram gratuitos e injustificados", dizia trecho da carta enviada a Littlefeather pelo então presidente da Academia, David Rubin. "A carga emocional que você viveu e o custo para a sua própria carreira em nossa indústria são irreparáveis."

"Por muito tempo, a coragem que você mostrou não foi reconhecida. Por isso, oferecemos nossas mais profundas desculpas e sincera admiração", acrescentou o texto.

Littlefeather no palco do museu da Ampas (Academia de Artes e Ciências Cinematográficas) de Hollywood, em 17 de setembro deste ano, quando foi homenageada
Sacheen Littlefeather no palco do museu da Ampas (Academia de Artes e Ciências Cinematográficas) de Hollywood, em 17 de setembro deste ano, quando foi homenageada - Frazer Harrison - 17.set.22/AFP

"Em relação ao pedido de desculpas da Academia, nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes, se passaram apenas 50 anos!", reagiu a ativista indígena. "Precisamos manter nosso senso de humor em relação a isso a todo momento. É o nosso método de sobrevivência. É profundamente encorajador ver quanta coisa mudou desde que não aceitei o Oscar."

A Academia tomou medidas para enfrentar as acusações de falta de diversidade racial nos últimos anos. Em 2019, o astro de "O Último dos Moicanos", Wes Studi, se tornou o primeiro ator nativo americano a receber um Oscar, pelo conjunto da obra.

Littlefeather participou dos filmes "Atire o Sol para Baixo", de 1978, "Falcão de Inverno", de 1975, "Johnny Firecloud", de 1975, "Freebie and the Bean", de 1974, "O Julgamento de Billy Jack", de 1974, "O Policial Risonho", de 1973, e "Conselheiro do Crime", de 1973.

Com AFP e Reuters

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