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Conheça poema que Anielle Franco leu em posse como ministra; veja vídeo

'Vozes-Mulheres', de Conceição Evaristo, fala sobre o fim do silenciamento de gerações de uma família negra

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São Paulo

A ministra Anielle Franco leu um poema da escritora mineira Conceição Evaristo em sua posse no Ministério da Igualdade Racial, nesta quarta-feira.

mulher negra em púlpito com punho erguido
A ministra Anielle Franco durante posse no Palácio do Planalto nesta quarta-feira - Gabriela Biló/Folhapress

O texto de "Vozes-Mulheres", de autoria de uma das principais escritoras brasileiras em atividade, fala sobre a progressiva saída do silenciamento de mulheres negras ao longo de gerações.

O poema está contido na coletânea "Poemas de Recordação e Outros Movimentos", lançado pela editora independente mineira Nandyala em 2008 e depois reeditado pela carioca Malê, que publicou outros livros de Evaristo como "Insubmissas Lágrimas de Mulheres" e "Histórias de Leves Enganos e Parecenças".

A literatura de Evaristo tira suas raízes da oralidade das culturas afro-brasileiras para construir suas histórias.

A escritora se notabilizou por contos, como os de "Olhos d'Água" e "Becos da Memória", e romances como "Ponciá Vicêncio", mas sua obra poética também é reconhecida nos círculos literários —Evaristo era conhecida no circuito de saraus por suas leituras e performances, antes de virar uma autora amplamente publicada e recomendada em escolas.

Franco classificou "Vozes-Mulheres" como um de seus poemas favoritos ao introduzi-lo durante a cerimônia de posse no Palácio do Planalto, que também oficializou Sônia Guajajara como ministra dos Povos Indígenas.

Veja o vídeo da leitura e, em seguida, a íntegra do poema.

Vozes-Mulheres

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem —o hoje— o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

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