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Miley Cyrus lança disco aquém do hit 'Flowers', mas encontra a paz

'Endless Summer Vacation' não se enquadra em padrões, misturando sonoridades que vão do country ao eletrônico

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Pedro Antunes

Endless Summer Vacation

  • Autoria Miley Cyrus
  • Gravadora Columbia Records

Miley Cyrus nasceu sob os holofotes, se tornou estrela de um dos mais importantes canais infantis, cresceu, se rebelou, chorou, amou na frente dos flashes, sofreu e sorriu também. Entre quedas e ressurgimentos, a artista chega aos 30 anos enfim pronta para o verdadeiro estrelato. Desta vez, em paz consigo mesma.

Miley Cyrus em ensaio para o EP 'She Is Coming'
Miley Cyrus em ensaio para o EP 'She Is Coming' - Divulgação

O lançamento nesta sexta-feira de "Endless Summer Vacation", o oitavo álbum da artista, mostra que, em vez de apagar o passado, Cyrus o abraçou pela primeira vez. Por isso, o álbum soa tão familiar e confortável.

Pedacinhos de Miley Cyrus são encontrados aqui e acolá, sua história e trajetória, envelopados em 12 canções, além da versão demo de "Flowers", que ecoam de Dolly Parton a Madonna e versam a respeito de uma jornada de autoconhecimento, amor ou ambos.

Seja na fase mais rebelde, seja na fase de boa moça, Miley Cyrus nunca teve um trabalho tão bem recebido. Isso é mérito do hit "Flowers", lançado dois meses antes, na data de aniversário de seu ex-marido, o ator Liam Hemsworth —que será lembrado novamente a seguir, não se preocupe.

Para compreender a dimensão do alcance da música, a faixa desbancou o recorde de audições em uma semana no Spotify mantido por "Easy on Me", de Adele. Foi também a primeira música da artista em dez anos a atingir o primeiro lugar da parada do Estados Unidos, desde "Wrecking Ball", sucesso de sua fase mais selvagem.

É evidente que "Flowers" é uma música construída milimetricamente para ser sucesso, com referências e pequenas surpresas para fãs e tuiteiros de plantão. A estética conectada diretamente a "I Will Survive", um hino de Gloria Gaynor lançado em 1978, transforma a canção em algo familiar antes mesmo de a primeira audição terminar.

As referências aos versos de outro sucesso, desta vez de Bruno Mars e sua "When I Was Your Man", alimentam as ânsias dos fofoqueiros quanto às indiretas ao ex-marido que teria traído Cyrus.

"Endless Summer Vacation", como álbum completo, contudo, não é tão infalível quanto seu primeiro single. É humanamente falho. O tom de libertação que Cyrus sempre buscou e agora enfim chega à medida certa é sua salvação.

A dobradinha "Flowers" e "Jaded", as duas primeiras músicas do trabalho, são imbatíveis pelos refrões hipnóticos. Ambas carregadas por histórias de redenção, as músicas dão espaço para Cyrus mostrar os vocais potentes e cuja rouquidão, curtida ao longo desses anos todos acima dos palcos, só melhora.

A verdadeira diversão sonora, contudo, chega depois. "Rose Colored Lenses" soa como uma manhã de verão preguiçosa e quente, com timbres de anos 1980 sintetizados e um discurso hedonista. "Vamos ficar aqui para sempre", sugere a cantora. Como negar?

"Thousand Miles" é uma espécie de ajuste de contas de Miley Cyrus com a música country de seu pai, Billy Ray Cyrus. A participação de Brandi Carlile, que venceu nove estatuetas do Grammy, é engolida e some na edição final. O mesmo acontece com Sia, que divide os vocais com a artista em "Muddy Feet", uma música que se perde no álbum por falta de identidade.

É um disco sobre Miley Cyrus. Ela, como um furacão, engole qualquer participação. Os queridinhos da crítica James Blake, que aparece só nos teclados e na composição de "Violet Chemistry", e Tobias Jesso Jr., coautor de "Wildcard", são coadjuvantes e engordam uma lista de colaboradores de bastidores que ainda inclui BJ Burton, Greg Kurstin, entre outros nomes importantes do pop contemporâneo.

Como toda viagem de férias de verão que se preze, tal qual seu nome diz, "Endless Summer Vacation" não passa livre de perrengues. Culpe a época do pop conceitual e das eras, quando não é incomum canções facilmente esquecíveis serem incluídas em discos para sustentar uma narrativa maior. Neste disco, são elas "Handstand" e "River", ambas boas de discurso e frágeis pelos efeitos pasteurizados nos vocais e pelas batidas eletrônicas triviais demais.

É "Island" que devolve o álbum ao ritmo ao cantar sobre solidão em uma música que parece vir direto das rádios dos anos 1990. Já a última inédita, "Wonder Woman", é um hino feminista pronto para ser entoado estádios afora. A escolhida para fechar o álbum é uma versão demo de "Flowers". Minimalista, a música —e o álbum— se encerra com os sussurros repetidos de Miley Cyrus. "Eu posso me amar melhor, querido."

"Endless Summer Vacation" não é perfeito, mas não precisa ser. Sua primeira metade é melhor do que a segunda, mas cada uma se completa em uma jornada e se justificam, no fim das contas. Miley não precisava viver brigando com seus fantasmas. Eles estão lá, e não há nada que possa ser feito a respeito disso. Ela só precisava de paz e, enfim, a encontrou.

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