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Obra de Agatha Christie é editada para remoção de conteúdo dito racista

HarperCollins anuncia mudanças já implementadas em títulos protagonizados por Hercule Poirot e Miss Marple

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São Paulo

Após Ian Fleming e Roald Dahl, Agatha Christie é o mais recente grande nome da literatura a ter seus livros alterados com a intenção de retirar deles ou reescrever neles trechos considerados racistas ou possivelmente ofensivos.

Segundo o jornal The Telegraph, a editora HarperCollins já começou a implementar, pelo menos desde 2020, mudanças em edições de títulos protagonizados por Hercule Poirot e Miss Marple.

A escritora britânica Agatha Christie (1891-1976) - Leemage

Ambos os personagens são fundamentais para a obra da autora britânica, que é considerada um nome crucial da literatura de mistério e "whodunnit", em que crimes são desvendados em busca do culpado.

As histórias de Poirot e Marple foram escritas originalmente entre as décadas de 1920 e 1970. Algumas delas são ambientadas em países fora da Grã-Bretanha.

Uma das mudanças, por exemplo, se deu em "Morte no Nilo", de 1937, título protagonizado por Poirot. Em uma cena do romance, a Sra. Allerton se queixa de um grupo de crianças a provocando.

"Eles voltam e me encaram e encaram, e os olhos deles são simplesmente nojentos, bem como os narizes deles, e não acredito que eles sejam crianças de verdade", diz a personagem, em livre tradução.

A nova versão do trecho se resume a: "Elas voltam e me encaram e encaram. E não acredito que eles sejam crianças de verdade".

Outra edição implementada foi em "Um Mistério no Caribe", de 1964, com Miss Marple. Em uma cena, a detetive amadora refere-se aos dentes brancos de uma funcionária de hotel como "adoráveis". O trecho foi removido.

As alterações, que também abrangem personagens descritos como judeus ou ciganos, foram feitas por leitores de sensibilidade.

Estes são profissionais da literatura que fazem análises de textos ficcionais para levantar trechos possivelmente ofensivos na representação de grupos sociais marginalizados, em especial quando o autor do livro em questão não pertence ao mesmo grupo.

A intenção da HarperCollins com as mudanças é manter os livros de Christie relevantes para o público moderno, em especial os jovens.

Esta não é a primeira vez que a obra da escritora britânica passa por mudanças. Em 1977, "O Caso dos Dez Negrinhos" ("Ten Little Niggers", no título original) passou a ser chamado "E Não Sobrou Nenhum" ("And The There Were None"). A obra é uma das principais do catálogo de Christie.

Procurada pela reportagem, a HarperCollins Brasil afirmou em nota que desde 2020 lança livros da autora com notas e comentários, com o objetivo de contextualizar o leitor a respeito do momento em que as obras foram escritas para ele ter suas próprias reflexões. A ramificação brasileira da editora afirmou também que não pode responder pelas filiais da HarperCollins de outros países.

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