Descrição de chapéu BBC News Brasil

Por que Disney e governador da Flórida estão em pé de guerra

Gigante do entretenimento acusa Ron DeSantis de retaliação; republicano diz querer remover as regalias da empresa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Natalie Sherman
Nova York | BBC News Brasil

A Disney está acusando o governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, de organizar uma campanha de "retaliação governamental" em um processo na Justiça.

A nova ação legal escala a batalha entre a gigante do entretenimento e o político republicano, tido como forte concorrente à Casa Branca.

Walt Disney World emprega cerca de 75.000 pessoas na Flórida
Walt Disney World emprega cerca de 75.000 pessoas na Flórida - Getty Images via BBC

Eles estão travando uma guerra de declarações e ações judiciais, em um desentendimento que começou depois que a Disney criticou uma lei estadual que proíbe a discussão sobre orientação sexual ou identidade de gênero nas escolas primárias.

A Disney agora está processando a Flórida, depois que as autoridades estaduais anularam um acordo envolvendo o parque temático da empresa no Estado. A companhia disse que medidas de DeSantis para assumir o controle sobre suas operações ameaçam seus negócios e violam seus direitos constitucionais. A empresa pede que a Justiça impeça o governo estadual de anular o acordo.

"A Disney lamenta que tudo tenha chegado a esse ponto", disse a divisão de parques da empresa no processo, aberto em um tribunal federal da Flórida.

"Mas, tendo esgotado os esforços para buscar uma solução, a empresa não tem escolha a não ser abrir este processo para proteger seus membros, convidados e parceiros de desenvolvimento local de uma campanha implacável para armar o poder do governo contra a Disney em retaliação por expressar uma opinião política que é impopular entre certos funcionários do Estado."

DeSantis —que atualmente está no exterior em uma viagem ao redor do mundo— defende que as medidas do Estado são para remover regalias especiais para a empresa que não são mais de interesse público.

A certa altura, ele disse que o Estado não "se curvaria a executivos 'woke' da Califórnia". (O termo 'woke' pode ser usado como insulto por alguns, enquanto outros se autodefinem com orgulho como alguém woke, ou atento contra a discriminação e a injustiça. Entenda mais sobre o temo aqui.)

"Não temos conhecimento de nenhum direito legal que uma empresa tenha de operar seu próprio governo ou manter privilégios especiais não concedidos a outras empresas no Estado", disse seu diretor de comunicações, Taryn Fenske, em resposta ao processo.

"O processo é mais um exemplo infeliz de sua tentativa de contrariar a vontade dos eleitores da Flórida e operar fora dos limites da lei."

DeSantis é visto como um potencial candidato republicano à presidência dos EUA - Chris duMond -6.abr.23 / Getty Images via AFP

O que está por trás da briga?

A briga com a Disney —que abriu o Walt Disney World na Flórida em 1971 e é um dos maiores empregadores do Estado— deu destaque ao perfil de DeSantis, no contexto em que ele é amplamente visto como um potencial candidato republicano à presidência dos EUA.

Ele apoiou medidas como a proibição do aborto após seis semanas e a lei que proíbe a discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero para alunos com menos de dez anos.

O Estado expandiu a proibição para mais faixas etárias este mês.

A Disney criticou essa lei no passado, após sofrer pressão de seus funcionários.

Depois disso, os deputados estaduais da Flórida votaram para reestruturar o distrito especial que havia sido criado há mais de 50 anos para supervisionar o desenvolvimento da terra ao redor da Disney World, que inclui quatro parques temáticos, dezenas de hotéis e locais de entretenimento.

As mudanças deram a DeSantis o poder de nomear membros para o conselho administrativo do distrito, removendo essa autoridade dos proprietários de terras no distrito de 100 quilômetros quadrados. A Disney é o maior dos proprietários.

"Há um novo xerife na cidade", declarou DeSantis sobre a mudança (a expressão é usada em inglês quando uma nova figura assume o comando, algo como 'tem um novo rei no pedaço' em português).

Antes que o novo conselho fosse instalado, no entanto, a Disney chegou a um acordo de última hora, delineando o escopo do desenvolvimento no distrito e dando à Disney o direito de revisar quaisquer mudanças nas propriedades dentro de seus limites.

O contrato limitava os poderes da nova diretoria e incluía termos válidos em perpetuidade ou até "21 anos após a morte do último sobrevivente dos descendentes do rei Charles 3º, rei da Inglaterra".

DeSantis disse que estuda uma série de novas medidas, incluindo novos impostos, pedágios e até a abertura de uma prisão estadual perto dos parques.

Bob Iger, que comanda a Walt Disney Company, disse que a briga de DeSantis com a empresa de "anti-negócios" e "anti-Flórida".

No processo, a empresa disse que planeja investir US$ 17 bilhões no Walt Disney World na próxima década, observando que "desenvolvimento e investimento dessa magnitude não podem ocorrer efetivamente quando podem ser anulados ou prejudicados pelo capricho de uma nova liderança política".

Ele disse que a aprovação do mais recente acordo de desenvolvimento veio com aviso público adequado, inclusive em um jornal local.

Michael Allan Wolf, professor de direito e especialista em governo local e leis de propriedade da Universidade da Flórida, disse que "o que o governador e o Legislativo têm feito teve um efeito cumulativo" e afirmou que "não devemos nos surpreender que a Disney esteja reagindo".

Wolf disse que a empresa parece ter um caso forte —e aponta que outras empresas estão acompanhando para ver o desfecho da disputa.

"Pode-se perguntar genuinamente... outras empresas farão o mesmo tipo de investimento para concretizar visões ambiciosas no estado da Flórida se não tiverem mais a garantia de que o estado um dia não lhes tirará o tapete?", disse.

A briga com a Disney parece estar em desacordo com as visões conservadoras tradicionais contra a interferência do governo nos direitos comerciais, o que gerou críticas de alguns republicanos a DeSantis.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que pode ser desafiado por DeSantis a se tornar o candidato republicano à presidência, disse que o governador foi "superado, enganado e envergonhado pelo Mickey Mouse".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.