Descrição de chapéu Obituário Tina Turner (1939 - 2023)

Morre Tina Turner, cantora considerada a maior diva do rock'n'roll, aos 83 anos

Morte da artista americana foi confirmada por seu assessor nesta quarta-feira, sem causa divulgada

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Morreu nesta segunda-feira, aos 83 anos, Tina Turner, rainha do rock nos anos 1960 e 1970 e ícone do pop nos 1980. Ela estava em casa, na Suíça. A causa da morte não foi divulgada.

Voz de hits como "What’s Love Got to do With It" e "Proud Mary", Tina vendeu mais de 180 milhões de álbuns ao redor do mundo. Também foi uma das grandes intérpretes do rock e venceu 12 prêmios Grammy.

Tina Turner no palco em Nova York, em agosto de 1987. Foto faz parte da exposição da cantora no MIS, em SP
Tina Turner no palco em Nova York, em agosto de 1987. Foto faz parte da exposição da cantora no MIS, em SP - MIS

Tina nasceu Anna Mae Bullock, em Brownsville, no Tenessee, nos Estados Unidos, em 1939. Abandonada pelo pai junto com a irmã, Alline, ela foi morar com a avó.

Cantou na igreja na infância e, aos 17 anos, passou a integrar a banda Kings of Rhythm, do já bem-sucedido Ike Turner, com quem ela se casou em 1962. Com o marido, a cantora formou uma das parcerias seminais do rock americano.

Em 1960, eles gravaram "A Fool in Love", música que marcou o nascimento de Tina Turner na banda de Ike—antes, ela se apresentava como Little Ann. A estética da música ainda era muito ligada ao R&B e ao blues, mas a interpretação da cantora já era agressiva, com gritos e vocais rasgados.

Nos anos 1960 e 1970, a banda Ike & Tina Turner Revue ficou conhecida pelos hits de soul e rock, pelas baladas românticas e pelas performances incendiárias em cima do palco. Os álbuns "River Deep-Mountain High", de 1966, com a faixa-título, e "Workin’ Together", de 1970, com "Proud Mary", foram os maiores sucessos da trajetória do casal.

Em "River Deep-Mountain High", Ike e Tina contaram com a atuação de Phil Spector, produtor que atingiu na faixa o ápice de sua produção no chamado estilo "parede de som", que empilha camadas de harmonia e instrumentos diferentes.

Mas o casamento de Tina e Ike foi marcado por violência desde o princípio. O músico deu a ela o nome artístico, mas o registrou como uma marca de sua propriedade. Caso ela deixasse a banda, ele poderia substituí-la e usar seu nome.

Na autobiografia "Eu, Tina", de 1986 —transformada em filme em 1993, com Angela Bassett—, Tina falou sobre os abusos físicos e psicológicos que o marido praticava. Além de bater nela, Ike tinha o costume de traí-la com outras mulheres, praticar sexo violento e sem consentimento, além de obrigá-la a cantar mesmo que ela não estivesse se sentindo bem.

No livro "Minha História de Amor", de 2018, Tina narra o comportamento de Ike. "Ele sabia o que estava fazendo. Se você toca guitarra, nunca usa os punhos numa briga. Ele usava madeira para me bater na cabeça —sempre na cabeça."

Em 1968, ela tomou 50 pílulas de remédio para dormir, numa tentativa de suicídio. Na biografia, conta que Ike usou seu "nariz como saco de pancada tantas vezes que conseguia sentir o sangue correndo pela garganta quando cantava".

Na década de 1970, o casal vendia muitos discos, colecionava prêmios Grammy e reconhecimento no rock —gênero do qual Tina se tornou uma das grandes intérpretes. Em 1975, lançaram o último single juntos, "Baby, Get it On".

No mesmo ano, Tina atuou no filme "Tommy", adaptação da ópera rock do The Who. Sua personagem, a Acid Queen, deu nome ao seu segundo álbum solo, o mais bem-sucedido sem Ike nos anos 1970.

Em 1976, Tina deixou Ike em um divórcio que só foi concluído dois anos depois. Ela manteve o direito de usar seu nome após abrir mão de muito dinheiro.

Tina teve que voltar a se apresentar em espaços pequenos para se reerguer financeiramente. Ela teve dificuldade para fazer sua carreira solo decolar. Em 1981, Rod Stweart gravou com ela "Hot Legs", e no mesmo ano os Rolling Stones a chamaram para abrir três shows da turnê "Tattoo You" nos Estados Unidos.

A cantora só renasceu no mundo artístico em 1984 —agora não como uma intérprete feroz de rock, mas como uma diva pop cheia de atitude. O disco "Private Dancer", símbolo daquela década, rendeu vários sucessos, como a faixa-título, "What’s Love Got to Do With It" e a regravação de "Let’s Stay Together", de Al Green.

Nesta época, ela atuou em "Mad Max –Além da Cúpula do Trovão", terceiro filme da série, de 1985. Em 1993, fez uma aparição em "O Último Grande Herói", filme de John Mctiernan com Arnold Schwarzenegger. Também fez sucesso com "Golden Eye", tema do filme "007 Contra Goldeneye", de 1995.

Sob esta persona pop, Tina fez um dos shows mais vistos da história, quando tocou para mais de 180 mil pessoas no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1988. Continuou gravando álbuns até 2000, ano em que se aposentou, depois do disco "Twenty Four Seven".

Ela foi incorporada ao Hall da Fama do Rock, nos Estados Unidos, duas vezes —como artista solo e como Ike and Tina Turner.

A artista passou as últimas décadas na Suíça com o marido, Erwin Bach. Só saiu da aposentadoria para cantar com Beyoncé no Grammy de 2008 e para uma turnê de despedida no mesmo ano.

Seus dois filhos, Ronnie e Michael Turner, morreram nos últimos cinco anos. Ela deixa o marido e dois filhos de Ike que adotou, Raymond Craig e Ike Turner Jr.

Em maio, a artista virou tema de uma exposição no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. A mostra reúne retratos feitos por fotógrafos emblemáticos como Bob Gruen, Ian Dickson e Lynn Goldsmith.

Lynn disse à Folha que o maior legado da cantora é ter se reinventado aos olhos do público. "É ter sofrido nas mãos de outras pessoas como ela sofreu e não perder seu senso de si. Voltar e se colocar no mundo como performer, mãe e mulher."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.