Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
29/05/2010 - 07h09

Cartas revelam relação de Carlos Drummond de Andrade com anônimos

Publicidade

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Num papel de carta decorado com adesivos de bichinhos, uma zootécnica de Rio das Ostras (RJ) escreveu, em 16 de fevereiro de 1987: "Querido Drummond, tenho certeza que você sabe o quanto me senti feliz em receber seu livro. Eu esperava que você me respondesse, mas não acreditava. Entende, né? Quase morri. Foi muito bom".

Ela então relata como a correspondência lhe deu sorte, fala do novo emprego na prefeitura, da mudança de casa, do namorado, das leituras. Abre o coração.

"Eu poderia te escrever melhor, mas é que que[neste ponto a escrita é interrompida pelo adesivo de um ursinho]ro te escrever como falo, senão não faz sentido. Aí, me perco." Ela se despede com "muitos beijos carinhosos" e deseja "tudo de bom".

Marisa Cauduro/Folhapress
Detalhes de cartas trocadas entre Drummond e a escritora Yola Oliveira
Detalhes de cartas trocadas entre Drummond e a escritora Yola Oliveira

A zootécnica de Rio das Ostras, que não foi localizada pela reportagem (assinava Soraia Leraik), é um dos 1.812 correspondentes de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) registrados no arquivo do poeta na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio.

É conhecida a sua correspondência com outros grandes escritores, como Bandeira, João Cabral e, especialmente, Mário de Andrade, já editadas em livro.

Menos notória é a relação que criou do nada, por carta, com dezenas, talvez centenas, de desconhecidos --leitores, aspirantes a poeta, professores, mineiros desterrados como ele, curiosos.

A Folha revirou os arquivos e, a partir da correspondência passiva, encontrou alguns desses interlocutores nem tão célebres.

Descobriu também um Drummond solícito e educado com qualquer remetente (costumava se penitenciar com esparro zombeteiro pela demora na resposta), quase sempre afetuoso. Conforme a demanda, assumia o papel de conselheiro sentimental, tutor literário, comentador das miudezas cotidianas.

Os que conheciam a fertilidade de Drummond no quesito têm certeza que há incontáveis cartas dele espalhadas por aí, prontas a semear acervos e estudos.

Na visão do neto Pedro Graña Drummond, responsável pelo espólio do avô, "para ter uma ideia mais ampla dessa correspondência, haveria que fazer um levantamento minucioso, e também anunciando a iniciativa em jornais, para tentar encontrar os destinatários das cartas que ele mandou".

É o que faz agora a Folha.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página