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Música para celular é a nova tábua de salvação da indústria fonográfica
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ANA PAULA SOUSA
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
A indústria do entretenimento atravessou a última década como se a guerra fosse inevitável.
Da morte de sites de compartilhamento de arquivos, como Napster e Kazaa, no início dos anos 2000, à prisão de gente que baixou músicas e filmes sem pagar, foram muitas as ações que determinaram o divórcio entre consumidores e indústria.
Uma geração inteira foi perdida para a economia underground. E, como outra não se pode perder, o jeito foi arrumar novas saídas para os negócios. A principal delas a própria tecnologia providenciou, ao tornar os celulares aparelhos de mil funções.
O enorme contingente de usuários de celular ajudou a delinear o plano de negócios da mais nova ofensiva do mercado nacional: o Escute, site de música por assinatura criado pela Som Livre, que entra no ar em fevereiro.
Ele funciona mais ou menos como o Sonora, do portal Terra. O consumidor paga um valor fixo por mês para baixar certo número de faixas de um vasto catálogo, nacional e internacional, negociado com grandes gravadoras e artistas independentes.
A diferença é que o Escute, em vez de investir apenas no download para computadores e mp3 players, mirou também os celulares.
Segundo Danillo Ambrosano, gerente do departamento digital da Universal Music, a música digital representa 30% da receita da gravadora. Desse montante, 30% vêm de venda on-line e 70% da venda para celular.
"O Brasil é o inverso do resto do mundo, que vende 80% on-line e 20% em telefone", diz. "Talvez porque a maior parte dos usuários que consomem música no celular seja das classes C e D, sem computador em casa."
POR QUE PAGAR
A grande questão é, ainda, como estimular as pessoas a pagar por algo que, em tese, elas podem ter de graça, ainda que ilegalmente.
As ameaças legais, como se sabe, não surtiram efeito. "As pesquisas mostram que as pessoas sabem que estão fazendo algo ilícito, mas não se sentem constrangidas pela lei", diz o professor Carlos Affonso de Sousa, da FGV.
Para Leonardo Ganem, presidente da Som Livre, o brasileiro não faz um paralelo entre o bem tangível e a propriedade intelectual. "As pessoas não respeitam uma obra artística como respeitam um carro, por exemplo."
A experiência internacional mostra que as soluções mais eficazes são as que deixam as pessoas fazerem o que já estavam fazendo, mas fora da "clandestinidade".
Segundo Jan Fjeld, diretor de showbizz do UOL, do grupo Folha, e responsável pelo UOL Megastore, hoje os ouvintes têm a percepção de que a música é grátis.
Para ele, as saídas ainda são nebulosas, por isso prefere continuar vendendo faixas avulsas a entrar no esquema de assinaturas. "Ninguém achou ainda um modelo eficaz de venda digital, ainda que acreditem no contrário."
O SITE DA VEZ
Na Europa, o modelo mais badalado do momento é o Spotify, indisponível no Brasil, que permite que se ouça e compartilhe qualquer música, de qualquer artista, de maneira gratuita, instantânea e... legal.
Tratado pela revista norte-americana "Wired" deste mês como "o maior e mais incrível programa do mundo", o site criado em 2008, na Suécia, tem 10 milhões de usuários em sete países.
Seu mais novo passo, anunciado no final do ano passado, foi o lançamento de um aplicativo para celulares.
O serviço se mantém e paga direitos autorais com anúncios e uma assinatura mensal que garante, aos que botam a mão no bolso, serviços especiais, como o direito de carregar a música no iPod ou a tela livre de anúncios.
Mas por que o Spotify virou coqueluche? "É melhor e mais eficaz que iTunes, torrents ou Pandora", atesta Neal Pollack, da "Wired".
Nos EUA, a empresa ainda não chegou a um bom termo com as gravadoras; a América Latina também está fora.
A ideia por trás do negócio é simples: quanto mais acesso as pessoas tiverem à música, mais o mercado crescerá.
"O lugar do rádio, como fonte de descoberta, foi ocupado pela internet", diz Sousa. "Ouvir música é só parte da experiência. As pessoas compartilham, remixam, criam comunidades."
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