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09/02/2011 - 09h28

Museus valorizam design com mostras de anúncios antigos

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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Nos carros sobre trilhos que cortavam São Paulo antes de ela ser metrópole, cartazes anunciavam de tudo, dos milagrosos rum Creosotado e colírio Lavolho ao forte café Paraventi, passando até pelas notícias da recém-lançada "Folha da Tarde".

Dos anos 1940 aos 1970, a Companhia de Annuncios em Bonds, grafada assim mesmo, inventou cerca de 9.000 anúncios em cartaz, num ateliê comandado pelo polonês Henrique Mirgalowski na rua do Carmo, atrás da praça da Sé.

"Ele era mãe de todos lá", lembra Wilson Limongelli, último cartazista sobrevivente da velha companhia. "Todos os meninos começavam pequenos, não tinha escola de desenho nem de publicidade, tinha que ter o dom."

E, com esse dom, não seguiam a estratégia agressiva do marketing atual, nem pesquisas de comportamento.

Eram desenhos de influência soviética, art déco e futurista, com textos um tanto singelos. Quase tudo estava à venda nas "boas casas do ramo", e clientes eram chamados de "ilustre passageiro".

Mas tudo isso se perdeu quando os bondes deram lugar aos ônibus e o ateliê foi despejado de seu endereço.

Cartazes que sobreviveram foram passando de mão em mão até serem expostos agora pela primeira vez, numa mostra que o Instituto Tomie Ohtake abre hoje à noite.

No mesmo museu, outra exposição reúne rótulos de cachaça feitos no pais entre as décadas de 1950 e 1960.

"É um retrato arqueológico de uma época que mudou", resume Milton Cipis, designer que organiza as mostras. "Nunca se juntou tanto material, e a gente começa a valorizar o que houve. Fica claro que a gente não é só filho do modernismo."

Ou seja, houve design no Brasil antes da escola construtiva de desenho, que surgiu nos anos 1950 e dominou os traços de tudo no país --do mobiliário à publicidade.

Passada a febre concreta, é esse pré-design que ganha espaço nos museus agora. Talvez na esteira do estardalhaço provocado por mudanças recentes nos clássicos.

Casou certa choradeira entre designers a aposentadoria das embalagens concretistas que a artista Lygia Pape fez para os biscoitos Piraquê.

No plano internacional, a Campbell's demorou mas também reformou a lata da sopa celebrizada pelas serigrafias de Andy Warhol.

Divulgação
Rótulo da cachaça Caninha Linda
Rótulo da cachaça Caninha Linda, com pin-up segurando copo, é um dos que serão expostos em mostra no Instituto Tomie Ohtake

GLICOSE

Prevendo o mesmo destino para esse design popular, museus estão entrando numa onda de preservação.

Junto do Instituto Tomie Ohtake, o Museu Paulista tem agora uma exposição de papéis de bala, com embalagens e rótulos de chicletes e doces mais e menos clássicos --estão lá Ping Pong, balas Chita, entre outras guloseimas com alto teor de glicose.

"Tem um acervo iconográfico muito grande que ainda não foi descoberto", diz o designer Egeu Laus, que levou seus rótulos de pinga ao Tomie. "Isso mostra que há design antes do concretismo; é possível contar uma parte da história com esses rótulos."

Entre as pin-ups, tema mais tradicional das garrafas de caninha, bichos e nomes estranhos, havia também homenagens a grandes sambistas, jogadores de futebol e acontecimentos históricos.

Não fosse um pedido do próprio astro, Pelé seria até hoje nome de aguardente. Pixinguinha não se acanhou e seguiu firme nas garrafas.

Designers dizem que, com o resgate dessa memória gráfica, muitas releituras já estão em curso, basta olhar a cerveja que estampa no rótulo pin-ups turbinadas, designadas pela cor dos cabelos.

 

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