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11/05/2011 - 19h35

Em cadeira de rodas, Bertolucci fará filme 3D

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ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

O italiano Bernardo Bertolucci, o realizador de filmes como "Antes da Revolução" (1964), "O Último Tango em Paris" (1972), "Novecento" (1976), "O Último Imperador" (1987) e Os Sonhadores" (2003), chegou a Cannes numa cadeira de rodas.

Havia o temor, entre os organizadores, de que a multidão que se aglomera em torno do tapete vermelho e possíveis perguntas inconvenientes de jornalistas irritassem o cineasta.

Mas o que se deu aqui foi exatamente o oposto.

A entrevista que antecedeu a cerimônia de entrega da Palma honorária por sua obra, hoje à noite, foi uma breve aula de cinema. Dada por um mestre.

Bem disposto, o cineasta, que tem 71 anos, falou sobre a alegria de receber a Palma pelo conjunto da obra --a despeito de ter estado quatro vezes no festival, nunca foi premiado-- e disse que, apesar das dificuldades físicas, vai realizar um filme em 3D.

Leia, a seguir, os principais trechos da conversa acompanhada pela reportagem da Folha:

Martin Bureau/France Presse
O diretor Bernardo Bertolucci diz que gostaria de receber Palma de Honra das mãos de De Niro
O diretor Bernardo Bertolucci diz que gostaria de receber Palma de Honra das mãos de De Niro

Sobre receber a Palma de Ouro honorária:
"Não foi um júri que me deu este prêmio, mas sim o festival. Estive aqui quatro vezes e nunca ganhei nada. Se me dão este prêmio agora é porque meus filmes, todos juntos, devem merecer alguma coisa".

Sobre a exibição de "O Conformista", em cópia restaurada:
"Não sei quem escolheu esse filme. Fico contente porque é um filme que não é visto há muito tempo. Não vi essa cópia ainda, mas confio completamente nos restauradores da Cinemateca de Bologna. Eles são formidáveis. Agora, neste momento, eu me pergunto se alguma Cinemateca, no lugar de restaurar meus filmes, não poderia me restaurar (risos). Gosto de 'O Conformista'. É um filme que envelheceu bem. O personagem principal é um homem que escolhe ser fascista apenas para ser como os outros".

Sobre suas passagens por Cannes:
"Todas as vezes me senti muito gratificado aqui. O primeiro filme que trouxe a Cannes foi 'Páginas da Revolução', que passou na Semana da Crítica. Os críticos italianos tinham assassinado o filme, criticando-o de maneira violenta. E então, aqui, os franceses adoraram. Vem daí minha ideia de que eu deveria ser um cineasta francês. Depois trouxe 'Novecento', que eu achei que não deveria estar em competição porque era um monstro, um filme grande. Não era justo que competisse com filmes menores. Ao fim do festival, o então presidente do júri, o [cineasta] Costa Gravas, me perguntou por que o filme não estava em competição. Disse que teria me dado a Palma de Ouro".

Sobre sua relação com Robert de Niro:
"Quando fizemos 'Novecento' éramos todos jovens. Vamos ver esta noite se ele dirá alguma palavra. Se disser, será um milagre (risos)".

Sobre o papel de Marlon Brando em "O Último Tango em Paris":
"Esse filme só é o que é pela incrível presença de Brando. Ele me deu tanto, tanto... Ao fim do filme, ele não quis me ver por muito tempo. Ele estava fazendo um filme como ele nunca tinha feito antes. Ele colocou ali todas as suas memórias. A essência dele foi para a tela".

Sobre a China que conheceu em "O Último Imperador":
"Essa foi a maior aventura da minha vida. Fui pela primeira vez à China, para pesquisar o país, em 1982. Voltei lá em 1986, 1987 e vi o país mudar. Nas ruas de Pequim, em quatro anos, eu vi, aos poucos, um sorriso surgindo na face dos chineses. Quando penso na China, eu penso no seguinte: esse povo tem 5 mil anos. A cultura chinesa é mais extraordinária".

Sobre sua volta ao set com o 3D:
"Há seis anos, tive a certeza de que não poderia mais fazer cinema. Eu pensava que era o fim. Mas aí comecei a perceber que meus movimentos são como os de uma boneca. E pensei numa história. E pensei no 3D. Então perguntei: 'Será que não poderíamos ter "8 e 1/2" ou "Persona" em 3D? Comecei a fazer testes e então eu vi 'Pina', do Win Wenders, e soube também da existência do filme do documentário do [Werner] Herzog em 3D. Eles são mais novos, mas vêm da mesma escola de cinema que eu. Então, decidi que vou fazer um filme em 3D. Um filme de uma só locação e três personagens".

 

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