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Em Cannes, Karim Aïnouz diz que autor está em zona cinza
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ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Violeta, a protagonista de "O Abismo Prateado", atravessa o filme em movimento. Mais de uma vez, é seguida pela câmera no aeroporto.
Assim tem sido também a trajetória de Karim Aïnouz, que apresenta hoje, na Quinzena dos Realizadores, seu quarto longa-metragem.
Cearense de pai argelino, Aïnouz viveu em Fortaleza, estudou arquitetura na UnB, cinema em Nova York e, há dois anos, tem residência em Berlim.
Todos os seus filmes, a despeito da cor fortemente nacional, tiveram, como primeira vitrine, um festival estrangeiro, nunca o Brasil.
"Acho que saí do Brasil porque gosto de ser estrangeiro. Estar longe ventila minha imaginação", disse à Folha, no bar do Grand Hotel.
"Sobre estar aqui de novo, não sei... Acho que os festivais desejam forjar autores. Então, a partir do momento em que você tem um filme selecionado, tende a haver uma certa continuidade."
Aïnouz veio a Cannes com seu primeiro longa, "Madame Satã", há nove anos. Depois disso, emplacou "O Céu de Suely" e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo" no Festival de Veneza.
"Sinto uma temperatura estranha, como se o cinema de autor estivesse numa zona cinza", diz, sobre a Quinzena dos Realizadores.
"Isso reflete um estado de coisas, até porque estamos num lugar de compra e venda de filmes."
Na zona cinza que Aïnouz vê estão os filmes de arte que, para tentar driblar a falta de distribuição, fazem concessões ao mercado.
Aïnouz fica indignado quando ouve os distribuidores dizerem que não há público para o filme de arte. "Isso é uma mentira. Temos só que lançá-los direito."
Divulgação | ||
A atriz Alessandra Negrini em cena de "O Abismo Prateado", quarto longa-metragem do brasileiro Karim Aïnouz |
UNIVERSO PARTICULAR
Seu novo filme é pequeno, mas traz no elenco uma atriz famosa, Alessandra Negrini, e foi dirigido de maneira livre. "Quis ver até onde eu chegava. Nos outros filmes, eu tinha várias determinações do que podia e não podia", conta.
"Abismo Prateado", que tem como ponto de partida a canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque, passa-se num Rio de contornos inusuais e tomadas noturnas.
Como Suely, Violeta é uma mulher às voltas com o sentimento de abandono. "Mas esse filme tem um elogio da ação. Ela não para", define o cineasta, que vem tentando criar um universo próprio em suas ficções.
"Às vezes, me sinto meio sozinho", diz. "Mas aí eu me vejo aqui de novo e digo: 'Vamos lá. Esse universo que estou tentando construir interessa a mais alguém'."
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