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01/06/2011 - 19h29

"Carlos" limpa a imagem do terrorista mais temido antes de Bin Laden

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Muito antes de Bin Laden deixar crescer as barbas, o fantasma que assombrava a Europa tinha por nome Carlos, o Chacal. Ou antes, Ilitch Ramírez Sánchez, venezuelano que se tornou o mais temível terrorista da segunda metade do século passado. Suas proezas tornaram-se mitológicas: o sequestro de onze ministros de países-membros da Opep, em Viena. A isso seguiram-se atentados contra políticos importantes, bombas lançadas contra bancos, ataques a aviões israelenses...

A saga de Carlos terminou retratada de uma minissérie de Olivier Assayas que a TV5 francesa começa a exibir hoje, às 23h. Antes disso o filme só foi exibido no Brasil fora de circuito comercial. Uma exibição memorável se deu na Cinemateca Brasileira, durante a Mostra Internacional de Cinema de 2010 e deslumbrou os espectadores: assistia-se a um filme de 5 horas (total aproximado de duração dos três episódios) com apenas um intervalo e ninguém, ao final, tinha a impressão de estar nem mesmo cansado.

A estratégia de Assayas consistiu em limpar a imagem de Carlos. Em vez de reforçar a imagem do monstro perseguido durante anos e anos, tratou de mostrar quem era Carlos. Um jovem bonito, sedutor, idealista, que desde sua mudança para a Europa opta pelo comunismo (uma herança familiar) e se engaja na FPLP (Frente Popular pela Libertação da Palestina).

É como escrupuloso militante que Carlos se engaja nas primeiras missões que lhe são atribuídas e das quais se sai com brilho. Daí virão novas missões, sempre mais arriscadas e espetaculares. E também as conexões com outras organizações de esquerda, como o grupo Baader-Meinhoff, da Alemanha.

Jean-Claude Moireau/Divulgação
O ator Edgar Ramírez que interpreta o terrorista venezuelano Carlos, o Chacal, no filme "Carlos", do francês Olivier Assayas
O ator Edgar Ramírez, que dá vida ao terrorista venezuelano Carlos, o Chacal, em "Carlos", de Olivier Assayas

São os tempos de glória para Carlos: ações, o trabalho conjunto com a esquerda radical, o dinheiro, as mulheres. À parte alguns detalhes não desprezíveis, Carlos parece viver num filme hollyoodiano. Já nesse momento, no entanto, o cerco em torno dele tende a se fechar e personagens cada vez mais duvidosos, tipo Khadafi.

Aos poucos, o terrorista é deslocado para longe do centro dos acontecimentos. Na verdade, o centro aos poucos se desloca. A URSS se desgasta brutalmente antes de se desmilinguir. Por anos, Carlos desaparece do noticiário.

Esse momento, que precede sua prisão, no Sudão, em 1994, que a minissérie reconstitui é outro ponto forte do filme: a decadência de Carlos coincidindo com a da ideia de revolução socialista.

Ainda que perca seu ineditismo com a exibição pela TV5, essa exibição abre a esperança para os cinéfilos de que o filme ainda possa circular pelos cinemas: seria sério candidato a um dos melhores do ano.

 

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