Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/06/2011 - 08h31

Convidado da Flip, Héctor Abad narra o assassinato do pai em livro

Publicidade

SYLVIA COLOMBO
DE SÃO PAULO

Na manhã do dia em que foi assassinado, em 25 de agosto de 1987, o colombiano Héctor Abad Gómez pôs no bolso um papel em que copiara o poema "Epitafio", de Jorge Luis Borges.

Ameaçado por paramilitares, o médico e professor apegou-se ao texto, que diz assim: "Já somos a ausência que seremos".

O papel foi encontrado pelo filho, que teve tempo de sentir o último calor da face do pai ao beijá-lo, na rua de Medellín onde foi executado.

Passam-se quase 20 anos. Héctor Abad Faciolince, 53, fugiu da Colômbia. Viveu na Itália, escreveu romances, mas só em 2006 conseguiu contar a grande história de sua vida.

Em "A Ausência que Seremos", que será apresentado pelo autor na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece de 6 a 10 de julho, Faciolince reconstrói a figura do pai a partir de lembranças de menino.

Indagar/Creative Commons
O escritor colombiano Héctor Abad Faciolince, que é convidado da Flip deste ano
O escritor colombiano Héctor Abad Faciolince, que é convidado da Flip deste ano

A Colômbia atravessava uma das fases mais violentas do confronto com os cartéis do narcotráfico.

O garoto cresce tendo o pai como referência. Culto, defensor da pluralidade de ideias e crenças, surge por vezes como herói, outras como ser humano frágil, que se revolta por não conseguir evitar a morte da filha.

Folha - Você lançou romances antes de "A Ausência que Seremos". Por que demorou para contar essa história?

Héctor Abad Faciolince- Uma amiga me disse que os escrevi só para aprender a redigir e para poder um dia escrever o livro "A Ausência que Seremos".

Talvez um escritor esteja destinado a escrever um só livro. O único que eu tinha a obrigação de fazer era este. Os outros me agradam, mas posso prescindir deles.
Seguirei escrevendo até que morra. Mas o que for fazer daqui por diante não terá tanta importância.

Na obra, sua infância se mostra dourada, até que os dramas surgem. Como esses acontecimentos o fizeram amadurecer como escritor?

A idade de um homem se mede pelo número de seus mortos. As crianças, se veem morrer um pai, envelhecem de repente. Entendem o absurdo da existência.
Quando estava preparado para escrever, as tragédias me bloquearam. Assim como há momentos da vida em que só queremos nos divertir, também há momentos em que só podemos sofrer.

Se nos recuperamos e seguimos vivendo, isso é um sinal de maturidade.

Houve dúvidas sobre se o poema era mesmo de Borges. Como é essa história?

Quando mataram meu pai, ele tinha no bolso dois papéis. Uma lista de pessoas ameaçadas, na qual constava seu nome, e um soneto assinado pelas iniciais "J.L.B.".

Eu o publiquei num jornal, falando de seu peito protegido pela poesia.

Mas o poema não está nas "Obras Completas" do autor. E começaram a dizer que eu havia inventado a história.

Decidi investigar a origem do texto e essa busca está em livro que a Companhia das Letras deve lançar aí.

Você tomou conhecimento da identidade do assassino?

Quem o matou foi gente da extrema direita, paramilitares com alguns militares e proprietários de terras fascistas, mas não sei os nomes, e a Justiça tampouco investigou.

Como vê Medellín hoje?

Depois de passar muito tempo na Europa, voltei a viver em Medellín em 1993. Aqui quero morrer.

Houve um momento em que quis deixar de ser colombiano. Mas agora tenho esperanças. Houve uma administração que seguiu as receitas de meu pai. Investiu em educação, saúde e infraestrutura para os mais pobres.

A AUSÊNCIA QUE SEREMOS
AUTOR Héctor Abad Faciolince
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina
QUANTO R$ 46 (320 págs.)

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página