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Neta de Jorge Amado fala sobre adaptação de "Capitães da Areia"
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GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO
Não faltava pretexto para Cecília Amado assumir a adaptação para o cinema do romance "Capitães da Areia", que entra em cartaz hoje em 120 salas de todo o país.
Além de ser neta de Jorge Amado (1912-2001), autor do livro que muita gente leu ainda durante o segundo grau, ela já havia mergulhado em um trabalho de natureza similar: Cecília foi assistente de direção da série "Cidade dos Homens" (Globo).
É da série televisiva que ela traz, por exemplo, familiaridade com o tema: adolescentes que descobrem realidades que transitam por lugares doces e, na maioria das vezes, amargos. Que descobrem ainda a sexualidade, o amor e derivados.
Divulgação | ||
Cena do filme "Capitães da Areia", que estreia hoje em 120 salas de todo o país |
Os elencos dos dois trabalhos também foram escolhidos por meio de um processo parecido. A preferência por não-atores pautou a seleção. Os intérpretes foram pescados em ONGs que se dedicam à educação de crianças e de adolescentes pobres.
No caso de "Capitães da Areia", 1.200 entrevistas deram início ao processo de escolha. Chegaram ao fim da reta, entre outros, Jean Luis Amorim, 17, como o protagonista Pedro Bala, Ana Graciela, 17, como Dora, a namorada dele, e Robério Lima, 20, como Professor, uma espécie de artista e conselheiro.
Cecília conta que Amorim cresceu dez centímetros durante os meses de gravações, e que as mudanças de feição e de estatura de boa parte do elenco dão um sabor extra para a história.
A passagem para a telona descarta referências a uma situação política específica do romance. "Capitães da Areia" foi publicado em 1937, primeiro ano do Estado Novo de Getúlio Vargas. Tem passagens que reforçam a posição política esquerdista do autor. O filme, nem tanto. "Acho que hoje as críticas sociais do livro permanecem mais fortes", diz Cecília.
A diretora se vale ainda de uma leitura pessoal dos personagens criados pelo avô: "eles são heróis". Pedro Bala é o líder do grupo de garotos de rua que partilha pequenos furtos -e que de fato existiu. Eles se organizam segundo um código de conduta e perpetuam-se numa história que, familiar também para a sociedade do século 21, deixa no ar uma pergunta: o que de fato mudou dos anos 30 para cá?
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