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22/07/2012 - 08h00

Existe uma solução tecnológica para o aquecimento global?

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MICHAEL SPECTER
DA "NEW YORKER"

No final da tarde de 2 de abril de 1991, o Pinatubo, na ilha de Luzón, nas Filipinas, começou a soltar as fortes explosões de vapor que em geral precedem uma erupção. Adormecido por mais de quatro séculos, o vulcão tinha sido relegado a pouco mais que uma nota de rodapé na vulcanologia. Os tremores se intensificaram por dois meses até que, em 15 de junho, a montanha explodiu com tal força que a lava incandescente era expelida a mil km/h, inundando uma área de 650km² e exigindo a retirada de 200 mil pessoas.

Em poucas horas a nuvem de gás e cinzas tinha penetrado a estratosfera, a 34 km de altura. Três semanas depois, uma nuvem de aerossol envolvia a Terra, permanecendo ali por quase dois anos. Vinte milhões de toneladas métricas de dióxido sulfúrico se misturaram a gotículas de água, criando um espelho gasoso que refletia os raios solares. Entre 1992 e 1993, a quantidade de luz solar que alcançou a superfície da Terra se reduziu em mais de 10%.

A intensa atividade industrial dos cem anos anteriores levou o clima a se aquecer em cerca de três quartos de um grau Celsius, ajudando a fazer do século 20 o mais quente em pelo menos mil anos. A erupção do Pinatubo, porém, reduziu as temperaturas globais em quase o mesmo valor num único ano, além de perturbar os padrões de precipitação em todo o planeta.

Acredita-se que tenha influenciado eventos tão diversos quanto as enchentes do rio Mississippi em 1993 e, no mesmo ano, a devastadora seca no Sahel africano. A maioria das pessoas viu a erupção do Pinatubo como uma calamidade.

Para os geofísicos, porém, o Pinatubo proporcionou o melhor modelo em pelo menos um século para ajudar a entender o que pode acontecer se os humanos tentarem remediar o aquecimento global, promovendo alterações propositais no clima.

Há anos, a simples menção à possibilidade de intervenção em escala tão grande --geoengenharia, como é conhecida--tem sido denunciada como húbris. Vem se mostrando difícil prever o comportamento climático no longo prazo, com o uso de modelos computadorizados, e mexer no clima com base nos resultados gerados por esses modelos preocupa até mesmo os cientistas totalmente engajados na pesquisa.

"Não haverá vitórias fáceis, mas em algum momento vamos ter que levar os fatos a sério", me disse David Keith, professor de engenharia e política pública na Universidade Harvard e um dos mais fundamentados defensores da geoengenharia. "Mesmo assim", ressalvou, "é uma hipérbole dizer isto, mas nem por isso deixa de ser verdade: quando se começa a refletir luz para longe do planeta, é fácil imaginar uma sequência de eventos que extinguiria a vida na terra."

Só existe uma razão para cogitar um plano que realmente tenha a menor chance possível de provocar tal catástrofe: se os riscos de não o adotar esse plano forem maiores. Ninguém está preparado para fazer esse cálculo, mas pesquisadores avançam nessa direção.

Para dar orientações, o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) desenvolveu cenários para o aquecimento global. Pela previsão otimista, no final do século a temperatura média terá subido entre 1,1 e 2,9 o C. A pessimista projeta uma elevação de 2,4 a 6,4 graus Celsius -mais do que o que foi visto em qualquer momento da história documentada.

Há pouco tempo, climatologistas acreditavam que uma elevação de seis graus, cujos efeitos seriam um desastre inegável, fosse improvável. Mas dados novos levaram muitos a mudar de ideia. No final de 2011, Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia, disse que os atuais níveis de consumo "puseram o mundo no caminho de uma elevação de 6 graus Celsius... Todo o mundo, até os ginasianos, sabe que isso terá consequências catastróficas para todos nós."

Já foram atribuídos ao aquecimento dezenas de milhares de incêndios florestais, o derretimento das geleiras e a elevação dos mares. (O aquecimento oceânico é especialmente preocupante; à medida que o gelo ártico derrete, a água que estava sob a superfície é exposta ao sol e absorve mais energia solar, o que resulta em oceanos mais quentes; a espiral pode rapidamente sair de controle.)

Mesmo uma elevação de 2 graus Celsius na média global pode quebrar safras nas partes do mundo que menos podem dar-se ao luxo de perder comida. Os desertos aumentariam, bem como a frequência e intensidade dos incêndios. Modificar propositalmente a atmosfera seria uma aposta desesperada, que implicaria altos riscos. No entanto, quanto maior a probabilidade de as mudanças climáticas causarem devastação, mais atraentes vão se tornar as tentativas de mitigá-las, até as mais perigosas.

"Não sabemos qual será a gravidade, nem quando vai se agravar", me disse Ken Caldeira, climatologista da Carnegie Institution. Em 2007, ele foi um dos principais colaboradores de uma equipe do IPCC que ganhou o Prêmio Nobel da Paz. "Há variações grandes nos modelos. Mas é melhor ficarmos preparados, pois corremos em alta velocidade na direção de um campo minado. Só não sabemos onde ele começa, nem quanto tempo vai levar até nos vermos lá no meio."

As Maldivas, arquipélago ao largo da Índia, cujo ponto mais alto fica 24 metros acima do nível do mar, pode ser o primeiro país a morrer afogado. No Alasca, cidades inteiras já começaram a se deslocar com a soltura do permafrost (solo congelado). A economia da Flórida depende fortemente dos padrões climáticos costeiros; a estação de registro das marés em Miami Beach registra elevação de 17,5 cm desde 1935, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional.

Um estudo australiano publicado neste ano no periódico "Nature Climate Change" concluiu que uma elevação de 2 graus Celsius na temperatura terrestre será acompanhada por um aumento significativo de mortes em Brisbane, para citar apenas uma cidade. Muitos climatologistas dizem que seu maior medo é que o aquecimento leve ao derretimento do "permafrost" ártico, que se estende por milhares de quilômetros entre Alasca, Canadá e Sibéria.

Há duas vezes mais CO2 (dióxido de carbono) preso debaixo da tundra do que na atmosfera. O derretimento do permafrost liberaria volumes imensos de metano, gás estufa quase 30 vezes mais potente que o CO2. Se isso acontecer, como me disse a hidrologista Jane C.S. Long, em sua sala de trabalho no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, "será o fim".

SPICE

O projeto Injeção de Partículas Estratosféricas para a Engenharia Climática (Spice, na sigla em inglês) é um consórcio acadêmico britânico que procura reproduzir a ação de vulcões como o Pinatubo, bombeando na estratosfera partículas de dióxido sulfúrico ou outras substâncias refletivas por um tubo de 19 km de comprimento, preso a um balão e a um navio ancorado.

O consórcio é composto por três grupos. Na Universidade de Bristol, pesquisadores liderados pelo professor de geofísica Matt Watson buscam determinar quais partículas teriam o máximo impacto desejado e a menor probabilidade de provocar efeitos colaterais indesejados. O dióxido sulfúrico produz ácido sulfúrico, que destrói a camada de ozônio da atmosfera; compostos semelhantes poderiam funcionar e, ao mesmo tempo, serem menos tóxicos --entre eles, partículas sintéticas que poderiam ser criadas com esse objetivo.

Na Universidade de Cambridge, Hugh Hunt e sua equipe tentam determinar a melhor maneira de levar essas partículas até a estratosfera. Um terceiro grupo, em Oxford, vem focando o provável efeito de tal intervenção no clima.

Hunt e eu conversamos no Trinity College, em Cambridge, onde ele é professor de engenharia e guardião do relógio, um cronômetro renomado que se adianta ou atrasa menos de um segundo por mês. Dezenas de bumerangues estão pendurados na parede de sua sala. Quando lhe perguntei a respeito, Hunt pegou um e o jogou na minha cabeça.

"Dou aulas de dinâmica tridimensional", disse, erguendo a mão para agarrar o bumerangue de volta. Hunt dedicou sua vida intelectual ao estudo da vibração mecânica. Seu website está repleto de vídeos instrutivos sobre giroscópios, anéis que descem irregularmente por varas, e bumerangues.

"Gosto de demonstrar como as coisas giram", disse, pondo o bumerangue na mesa e pegando um balão cor-de-rosa amarrado a um barbante. "O princípio é bastante simples." Segurando a corda, Hunt começou a agitar o balão, como se estivesse sendo fustigado pelo mau tempo. "Tudo fica bem se o balão está parado", prosseguiu, mantendo o balão parado. Então começou a agitar o braço.

"Um dos problemas é que nada vai ficar parado lá no alto. Tudo vai estar em movimento. E a questão que temos é que... este tubo" --a mangueira industrial que vai levar as partículas para o céu-- "estará sujeito a estressores enormes." Ele cortou o barbante amarrado ao balão. "Como podemos saber que ele não vai se quebrar? Estamos levando as coisas ao limite de sua força, portanto é essencial acertarmos a dinâmica do movimento."

A maioria dos cientistas, mesmo os que não têm interesse em publicidade pessoal, defende seu próprio trabalho com ardor. Não é o caso deste grupo. "Não sei quantas vezes eu já disse isso, mas a última coisa que eu gostaria é que o projeto no qual venho trabalhando seja implementado", falou Hunt. "Se precisarmos usar essas ferramentas, será um sinal de que alguma coisa deu muito errado neste planeta."

PILOTO

No ano passado a equipe Spice decidiu realizar um estudo-piloto, curto e não controverso --pelo menos para os cientistas. Para demonstrar como dispersariam o dióxido sulfúrico, planejaram pôr um balão para sobrevoar a região de Norfolk, a 1 km de altitude, e bombear 150 litros de água por uma mangueira.

Com o horário e a data do teste anunciados, em meados de setembro, mais de 50 organizações firmaram um abaixo-assinado com objeções ao experimento, em parte por medo de que simplesmente cogitar manipular o clima desse aos políticos a deixa para evitar decisões difíceis sobre redução dos gases estufa.

Os adversários do teste apontaram as muitas incertezas na pesquisa (a quais foram justamente a razão que levou os cientistas a querer realizar o experimento). O governo britânico decidiu adiá-lo por pelo menos seis meses.

"Fico assustado quando as pessoas dizem que não deveríamos nem sequer explorar este assunto", disse Hunt. Ele observou que as emissões de carbono são pesadas e que não vai ser fácil encontrar lugar para elas: "Grosso modo, o CO2 que geramos pesa três ou quatro vezes mais que o combustível a partir do qual é gerado."

Ou seja, uma viagem curta de carro, de ida e volta -uns 1.300 km, digamos--, com dois tanques de gasolina, produz 300 kg de CO2. "São dez malas pesadas geradas por um deslocamento curto", disse Hunt. "E é preciso armazenar o CO2 num lugar de onde ele não possa evaporar."

"tenho, portanto, três perguntas. Onde vamos colocá-lo? A quem vamos pedir que descarte o CO2 para nós? E quanto estaremos dispostos a lhes pagar por isso? Não existe ninguém neste planeta que possa responder a nenhuma dessas perguntas. Não se estabeleceu nenhum lugar nem técnica, e ninguém tem ideia de quanto isso custaria. E precisamos das respostas agora."

Hunt ficou em pé, foi devagar até a janela e olhou para o belo gramado. "Sei que tudo isto é desagradável", prosseguiu. "Ninguém quer uma coisa dessas, mas ninguém tampouco quer injetar doses pesadas de substâncias químicas tóxicas em seu corpo. No entanto, a quimioterapia é isso, e, para as pessoas com câncer, aqueles venenos muitas vezes são a única esperança.

"Todo dia, dezenas de milhares de pessoas tomam quimioterapia voluntariamente --seja porque estão muitos doentes, seja por que estão morrendo. É assim que prefiro enxergar a possibilidade de manipular o clima. Não é cura para nada. Mas pode revelar-se a opção menos ruim que teremos."

QUEIMA SELETIVA

A noção de modificar o tempo data da década de 1830, pelo menos, quando o meteorologista americano James Pollard Espy ficou conhecido como "Rei das Tempestades" por suas propostas (premonitórias, mas muito ridicularizadas) de estimular a chuva com a queima seletiva de florestas. Mais recentemente, o projeto Stormfury, do governo americano, tentou por décadas reduzir a força de furacões, pulverizando-os com iodeto de prata. Em 2008, soldados chineses dispararam mais de mil foguetes cheios de substâncias químicas contra nuvens sobre Pequim, para impedir a chuva durante as Olimpíadas.

O nexo entre emissões de carbono e clima é conhecida há mais de um século: em 1908, o cientista sueco Svante Arrhenius sugeriu que a queima de combustíveis fósseis poderia ajudar a prevenir a era do gelo que estaria por vir. Em 1965, o presidente americano Lyndon Johnson recebeu de seu Comitê de Assessoria Científica um relatório intitulado "Restaurando a Qualidade de Nosso Meio Ambiente". Pela primeira vez, o relatório chamava a atenção para a potencial necessidade de equilibrar as crescentes emissões de gases estufa com "a elevação do albedo, ou refletividade, da terra". O relatório sugeriu que isso seria possível espalhando partículas reflexivas sobre grandes trechos do oceano.

Embora táticas como essas estivessem fadadas ao fracasso, o que possivelmente justifica receios maiores é o que poderia acontecer se elas dessem certo de modo que ninguém previu. Injetar dióxido sulfúrico ou partículas com função semelhante reduziria rapidamente a temperatura da terra a um custo relativamente baixo --pela maioria das estimativas, menos de US$ 10 bilhões por ano.

Mas isso de nada ajudaria a frear a acidificação dos oceanos, que ameaça destruir recifes de coral e exterminar numerosas espécies. Os riscos de reduzir, nessa escala, a luz solar que alcança a atmosfera seriam tão óbvios --e tão imediatos-- quanto os benefícios. Se tal programa fosse interrompido de repente, a terra seria sujeita a um aquecimento extremamente rápido, sem nada que o impedisse.

Ainda que um esforço assim esfriasse o planeta, poderia fazê-lo de modo a perturbar o comportamento das monções asiáticas e africanas, que fornecem a água da qual bilhões de pessoas dependem.

A "geoengenharia" diz respeito a duas ideias distintas sobre como esfriar o planeta. A primeira, o controle da radiação solar, foca a redução do impacto do sol. Seja pulverizando nuvens, seja espalhando espelhos gigantes no deserto, seja injetando sulfatos na estratosfera, a maioria desses planos busca reproduzir os efeitos de erupções como a do Pinatubo.

A outra abordagem é menos arriscada; envolve remover o carbono diretamente da atmosfera e enterrá-lo em imensos depósitos oceânicos ou nas profundezas da terra. Mas, sem um avanço tecnológico significativo, tais projetos custariam caro e poderiam levar anos para ter efeitos importantes.

Cada esquema tem dezenas de versões, do plausível ao absurdo. Já fizeram propostas de enviar espelhos ou guarda-sóis para o espaço. Recentemente, o empreendedor científico Nathan Myhrvold, cuja empresa Intellectual Ventures investiu em ideias de geoengenharia, disse que poderíamos resfriar a terra agitando os mares. Ele propôs revolver a água com um milhão de tubos plásticos, de cem metros de comprimento cada um, o que ajudaria o mar a capturar mais CO2.

"O oceano é um imenso tanque de calor", ele me disse. "Mas é muito frio. O fundo é gelado, quase congelado. Se simplesmente agitássemos mais o oceano, ele poderia absorver o CO2 em excesso e manter o planeta frio." (A ideia não é tão despropositada quanto parece. No centro do oceano, correntezas movidas pelo vento levam água nova para a superfície, de modo que agitar o oceano poderia transformá-lo num depósito bem organizado. A água nova absorveria mais carbono, enquanto a água velha transportaria para as profundezas o carbono já capturado.)

O físico de Harvard Russell Seitz quer criar uma espécie de gigantesca banheira oceânica de bolhas: bolhas capturam o ar, que as ilumina o suficiente para refletir a luz do sol para longe da superfície da terra. Outra tática exigiria manter uma pulverização fina de água marinha --a maior fonte do mundo--, que, misturada ao sal, ajudaria a bloquear a luz do sol.

Quase todos os cientistas concordam que a melhor solução seria a mais simples: parar de queimar combustíveis fósseis, o que diminuiria o carbono que jogamos na atmosfera. Isso já foi enfatizado em praticamente todos os estudos sobre o potencial efeito das mudanças climáticas --e já houve muitos estudos desse tipo--, mas nenhum deles até agora teve impacto discernível no comportamento humano ou nas políticas governamentais.

Alguns climatologistas acreditam ser possível conviver com uma atmosfera com concentrações de CO2 duas vezes maiores que as da era pré-industrial --cerca de 550 partes por milhão. Outros já afirmavam havia muito tempo que o aquecimento global ficaria perigoso quando as concentrações atmosféricas de carbono passassem de 350 partes por milhão.

Já passamos desse número anos atrás. Após uma queda em 2009, que coincidiu com a recessão global, as emissões subiram 6% em 2010 --o maior aumento anual já registrado. Nos últimos dez anos, as emissões de combustíveis fósseis aumentaram em ritmo mais ou menos três vezes superior ao dos anos 1990.

Embora o IPCC, bem como dezenas de outras entidades científicas, tenha declarado que o aquecimento global é inegável, poucos países deram prova da vontade política necessária para agir --e talvez o que menos o tenha feito seja os EUA, que consome mais energia do que qualquer outro país (exceto a China) e que, em 2012, consumiu mais do que nunca.

O governo Obama não aprovou nenhuma legislação climática importante. Mitt Romney, o candidato republicano, ainda não esclareceu sua posição sobre o assunto. No ano passado, ele disse acreditar que o mundo está ficando mais quente e que os humanos são a causa. Em outubro, já tinha recuado. "Minha opinião é que não sabemos o que está causando as mudanças climáticas neste planeta", ele disse, acrescentando que gastar valores enormes para tentar reduzir as emissões de CO2 "não é o caminho certo para nós".

A China, que há alguns anos tornou-se a maior emissora mundial de gases estufa, constrói uma nova usina elétrica à base de carvão praticamente toda semana. A cada ano, as metas se tornam exponencialmente mais inalcançáveis, e reduções globais nos termos sugeridos pelo IPCC parecem mais "um desejo piedoso", nas palavras do químico holandês Paul Crutzen, Nobel em 1995 por seu trabalho sobre a redução da camada de ozônio.

"A maioria dos países hoje reconhece a necessidade de mudar para uma economia de baixo carbono, e nada deve nos afastar da prioridade principal de reduzir as emissões globais de gases estufa", escreveu Rees de Ludlow em 2009, no prefácio a um relatório altamente influente sobre geoengenharia lançado pela Royal Society, a academia nacional de ciências do Reino Unido. "Mas, se essas reduções tiverem efeito insuficiente e tardio, decerto haverá pressões para que seja considerado um 'plano B' --para buscar modos de neutralizar os efeitos climáticos das emissões de gases estufa."

Embora essas pressões venham crescendo rapidamente, alguns ativistas climáticos se opõem até mesmo à discussão de um possível plano B, argumentando, como fizeram em setembro os manifestantes em Norfolk, que isso seria percebido como permissão indireta para abandonar os esforços sérios para reduzir as emissões. Muita gente vê a geoengenharia como a solução falsa para uma crise existencial --equivalente a incentivar um paciente enfartado a evitar exercícios físicos e continuar a devorar alimentos gordurosos, ao mesmo tempo simplesmente dobrando sua dose de pílulas para reduzir o colesterol. "O foco do cientista em mexer com nosso sistema planetário não é uma fronteira científica e tecnológica nova e dinâmica, mas uma expressão de desespero político", já escreveu Doug Parr, cientista chefe do Greenpeace no Reino Unido.

Na crise petrolífera do Oriente Médio, em 1974, o engenheiro americano Hewitt Crane, então a serviço da S.R.I. International, se deu conta de que as medidas padronizadas para fontes de energia --barris de petróleo, toneladas de carvão, galões de gás, unidades térmicas britânicas-- eram quase impossíveis de se comparar. Numa época em que essas commodities estavam sendo racionadas, Crane perguntou-se como as pessoas poderiam conservar recursos se nem sequer podiam medi-los. O mundo queimava 23 mil galões de petróleo por segundo. Uma cifra espantosa, mas que Crane tinha dificuldade para encaixar em qualquer contexto útil.

Crane idealizou uma nova medida de consumo energético: uma unidade tridimensional que chamou de milha cúbica de petróleo. Ou seja, uma piscina de uma milha (1,6 km) de comprimento, uma milha de largura e uma milha de profundidade, cheia de petróleo. Hoje são necessárias três milhas cúbicas de combustíveis fósseis para mover o mundo por um ano, ou 1 trilhão de galões de gás.

DESENVOLVIMENTO

A substituição de apenas uma dessas milhas cúbicas por uma fonte que não acrescentasse CO2 à atmosfera --energia nuclear, por exemplo-- exigiria a construção semanal de uma nova usina atômica por 50 anos; a mudança para a energia eólica exigiria milhares de novos moinhos de vento por mês. É difícil conceber alternativas menos dramáticas de substituir tanta energia.

E é impossível falar a sério sobre mudanças climáticas sem falar em desenvolvimento econômico. Especialistas em clima já argumentaram que devemos parar de emitir gases estufa dentro de 50 anos, mas, até lá, é bem possível que a demanda de energia seja três vezes maior da atual: nove milhas cúbicas de óleo.

Além mais povoado, o planeta está ficando mais rico, e a pressão para produzir mais energia ficará aguda bem antes do final do século. As predileções do mundo rico --viagens constantes, atividade industrial, dependência crescente da carne como fonte de proteína-- requerem recursos físicos enormes.

No entanto, muita gente ainda nutre a esperança de resolver o problema do clima só com a eliminação dos gases estufas. "Quando as pessoas falam em reduzir as emissões para zero, estão falando de algo que nunca vai acontecer", Ken Caldeira me disse. "Porque isso exigiria uma modificação completa no modo como os humanos são construídos."

Caldeira começou a pesquisar a geoengenharia quase por acidente. Durante boa parte de sua vida profissional, ele estudou as consequências da acidificação oceânica. Nos anos 1990, passou um ano em Leningrado, na União Soviética, no laboratório de Mikhail Budyko, visto como o fundador da climatologia física. Nos anos 1960, Budyko, foi o primeiro a sugerir resfriar a Terra colocando partículas sulfúricas no céu.

"Nos anos 90, quando eu trabalhava no laboratório Livermore, tivemos uma reunião em Aspen para discutir a escala da transformação do sistema energético que seria necessária para resolver o problema climático", Caldeira revelou. "Entre os presentes estava Lowell Wood, um protegido de Edward Teller. Wood é um homem brilhante, mas às vezes errático. Tem ideias de monte, algumas melhores que outras."

Em Aspen, Wood fez uma palestra sobre a geoengenharia. Ele explicou, como já fez muitas vezes desde então, que um escudo abrangente para a terra poderia refletir de volta de 1% a 2% da luz solar que chega à atmosfera. Isso bastaria, disse ele, para contrabalançar os piores efeitos do aquecimento.

David Keith estava na plateia com Caldeira naquele dia. Hoje, ele divide seu tempo entre Harvard e Calgary, onde comanda a empresa Carbon Engineering, que está desenvolvendo uma tecnologia nova para capturar CO2 da atmosfera --a um custo que, acha ele, seria sensato fazê-lo. Na época, porém, ele e Caldeira acharam ridícula a ideia de Wood.

"Dissemos 'isso nunca vai acontecer'", Caldeira recordou. "Tínhamos certeza total de que Wood era um maluco, pois supúnhamos que era possível mudar a temperatura global média, mas que ainda haveria padrões sazonais e regionais que não poderiam ser corrigidos. Estávamos no fundo da sala e não acreditávamos no que estávamos ouvindo."

Caldeira decidiu pôr à prova numa simulação computadorizada a abordagem proposta por Wood. Os cenários de mudanças climáticas futuras quase sempre são desenvolvidos a partir de poderosos modelos tridimensionais da Terra e sua atmosfera que tendem a ser mais precisos quando estimam números grandes, como as temperaturas globais médias.

Os padrões climáticos locais e regionais são mais difíceis de prever, como poderá verificar qualquer pessoa que já tenha consultado a previsão meteorológica para cinco dias. Mesmo assim, em 1998 Caldeira testou a ideia e, "para minha grande surpresa, pareceu funcionar, e bem", ele me disse.

Ele descobriu que a redução da luz solar contrabalançava o efeito do CO2 tanto regional como sazonalmente. Desde então, os resultados já foram confirmados por vários outros grupos.

AGRICULTURA

Recentemente, Caldeira e colegas de Carnegie e Stanford se propuseram a estudar se as técnicas de controle da radiação solar atrapalhariam o delicado equilíbrio agrícola do qual a terra depende. Usando dois modelos, simularam climas com níveis de CO2 semelhantes aos que existem hoje. Depois dobraram as concentrações, refletindo os níveis prováveis em algumas décadas, caso as tendências atuais se mantenham inalteradas.

Por fim, num terceiro conjunto de simulações, eles dobraram o CO2 na atmosfera, mas acrescentaram à estratosfera uma camada de sulfatos em aerossóis que desviaria cerca de 2% da luz solar que chega à Terra. Os dados foram aplicados a modelos de safras agrícolas usados comumente para projetar rendimentos. De novo, os resultados foram inesperados.

A produtividade agrícola, em média, subiu. Os modelos sugeriram que a precipitação aumentaria nas latitudes norte e média e as safras cresceriam. Nos trópicos, porém, os resultados foram significativamente diferentes. Ali, o estresse do calor aumentaria e as safras diminuiriam.

"As mudanças climáticas provocam mais uma redistribuição na produtividade do que uma redução", disse Caldeira. "E é uma redistribuição que atinge mais duramente as populações mais pobres do mundo, enquanto o mundo rico se beneficia" --fenômeno, ele acrescentou, que não é novo.

"Tenho duas visões do que isso pode significar", ele disse. "Uma delas diz que os humanos são como ratos ou baratas. Já estamos presentes do equador ao Círculo Ártico. A temperatura global já subiu 0,7 O C e quase ninguém se deu conta ou se preocupa com isso. E, sim, os recifes de corais podem acabar, e a população de Seychelles pode passar fome. Mas ela passou fome no passado e ninguém se importou. Portanto, basicamente, vamos viver em nossos condomínios fechados, teremos nossos programas de TV e nossos McNuggets, e tudo estará em paz conosco. As pessoas que sofrerão são aquelas que sempre sofrem."

"Existe outro jeito de enxergar tudo isso, porém: comparar a situação com a crise das hipotecas de alto risco, quando vimos que alguns poucos milhões de hipotecas que não podiam ser pagas levaram a uma queda de 5% no PIB em todo o mundo. Um baque relativamente pequeno para o sistema financeiro desencadeou uma crise global. E esse certamente poderia ser o caso com as mudanças climáticas. Mas 5% é uma cifra interessante, porque o Relatório Stern" --uma revisão, muito citada, conduzida pelo economista britânico Nicholas Stern, que assinalou o alarme em torno das emissões de gases estufa, focando os aspectos econômicos-- "estimou que as mudanças climáticas custariam ao mundo 5% de seu PIB. A maioria dos economistas diz que resolver o problema custará 1% ou 2% do PIB. As leis da Água Limpa e do Ar Limpo custam cerca de 1% do PIB cada uma", Caldeira prosseguiu. "Acabamos de sofrer um choque muito mais grave em nossos bancos. E isso nem sequer nos convenceu a empreender quaisquer reformas significativas da economia. Portanto, por que a ameaça de um prejuízo de 5% decorrente das mudanças climáticas nos levaria a transformar o sistema energético?"

O controle da radiação solar, algo que a maioria dos relatórios concorda que é tecnologicamente viável, ofereceria, na melhor das hipóteses, uma solução temporária ao aquecimento acelerado --tratamento, mas não cura. Existem apenas duas formas de resolver o problema: reduzir as emissões drasticamente ou remover o CO2 da atmosfera.

As árvores fazem isso todos os dias. Elas "capturam" C02 em suas folhas, o metabolizam nos galhos e o armazenam nas raízes. Mas fazer isso em escala global exigiria a transformação de trilhões de toneladas de emissões de gases estufa numa substância que pudesse ser armazenada facilmente, a custo baixo, no subsolo ou no leito oceânico.

Até pouco tempo atrás, os economistas consideravam proibitivos os custos da remoção do carbono da atmosfera nessa escala. Para ser separado, o CO2 precisa ser aquecido; com a tecnologia atual, a despesa seria igual à da criação de um sistema energético inteiramente novo.

As usinas elétricas normalmente lançam CO2 na atmosfera por sistemas de escape. O modo mais eficiente de que dispomos hoje para capturar o CO2 é removê-lo do gás que sai pela chaminé, no momento em que as emissões escapam. Nos últimos cinco anos, vários grupos de pesquisa --um dos quais inclui a Carbon Engineering de David Keith-- desenvolveram técnicas para extrair carbono da atmosfera a custos que podem tornar a tarefa economicamente viável.

Visitei um projeto de demonstração no campus da S.R.I. International, a instituição de Menlo Park que é um misto de "think tank" e incubadora tecnológica. Construído pela Global Thermostat, o projeto tinha a aparência de um elevador high-tech ou de um problema de matemática extremamente caro.

"Quando liguei para engenheiros químicos e disse que queria fazer isso em escala planetária, eles deram risada", me contou Peter Eisenberger, o presidente da Global Thermostat. Em 1996, Eisenberger foi nomeado diretor fundador do Instituto da Terra, na Universidade Columbia, onde ainda é professor de ciências da terra e ambientais.

Antes disso, passou uma década no comando do instituto de pesquisa com materiais da Universidade Princeton e quase o mesmo tempo na Exxon, onde era encarregado de pesquisas e desenvolvimento. Eisenberger acredita que desenvolveu um sistema para capturar o CO2 da atmosfera, a baixa temperatura e potencialmente a baixo custo.

O projeto experimental é, essencialmente, um predinho de tijolos de cinco andares, construído especialmente para funcionar como um favo de mel. A Global Thermostat reveste os tijolos com compostos químicos, chamados aminas, para retirar o CO2 do ar e ligar-se a ele. Em seguida, o CO2 é separado por um método criado pelo projeto, que usa calor de baixa temperatura --facilmente disponível gratuitamente, na medida em que é um subproduto de muitas usinas elétricas.

"O uso do calor de baixa temperatura muda a equação", disse Eisenberger. Ele é um homem empolgado, com o entusiasmo de um estudante universitário e os gestos maníacos de um regente de orquestra. Depois, explicou que o revestimento de aminas liga o CO2 ao nível molecular e que a quantidade que consegue captar depende da área de superfície; os favos de mel fornecem a superfície máxima possível por metro quadrado.

Há dois grupos de favos: um fica em cima do outro. Como observou Eisenberger, "há um limite ao volume de CO2 que é possível absorver de uma vez; quando o favo está cheio, cai para a seção inferior". Quando o vapor aquece e libera o CO2, o favo se eleva de novo.

(Hoje o CO2 é usado comercialmente em bebidas gasosas, na produção de cerveja e em sistemas de secagem pneumática de alimentos embalados. Também é usado na fundição. Eisenberger argumenta que, idealmente, as emissões de carbono seriam recicladas, para criar uma forma industrial de fotossíntese que ajudasse a reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis.)

Diferentemente de outros cientistas que trabalham com geoengenharia, Eisenberger não se incomoda com a ideia de mexer com a natureza. "Idealizamos um sistema que não introduz nenhuma ameaça adicional no ambiente", ele me disse. "E a ideia de interferir na natureza benigna é ridícula. A visão 'Bambi' da natureza é totalmente falsa. A natureza é violenta, amoral e niilista. Se você olhar a história deste planeta, verá ciclos de criação e destruição que ofenderiam nossa moralidade humana. Mas, pelo fato de ser a 'natureza', é visto como sendo ótimo."

Eisenberger fundou e dirige a Global Thermostat com Graciela Chichilnisky, economista argentina que redigiu o plano, adotado em 2005, do mercado internacional de carbono que emergiu das negociações climáticas de Kyoto. Edgar Bronfman, Jr., herdeiro da indústria de bebidas Seagram, é o maior investidor da Global Thermostat.

(A empresa é uma das finalistas do prêmio Desafio Terra Virgin, de Richard Branson. Em 2007, Branson ofereceu um prêmio de US$ 25 milhões em dinheiro a quem conseguisse projetar um processo que drenasse grandes quantidades de gases estufa da atmosfera.)

"O que acho fascinante é o modo como o processo de inovação mudou", disse Eisenberger. "No passado, alguém fazia uma descoberta no laboratório e dizia 'o que posso fazer com isto?'. Hoje perguntamos 'o que queremos criar?', pois acreditamos que existem conhecimentos suficientemente poderosos para tanto. Foi isso o que minha sócia e eu fizemos."

O piloto, que entrou em operação no ano passado, funciona em escala muito pequena, capturando cerca de 700 toneladas de CO2 por ano. (A título de comparação, um automóvel emite cerca de seis toneladas por ano.) Eisenberger diz que é importante recordar que o mundo levou mais de um século para montar o sistema energético atual: usinas movidas a carvão e gás, fábricas e a rede mundial de transportes que tem sido responsável por depositar trilhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

"Não vamos tirar tudo isso da atmosfera em 20 anos", disse. "Será preciso pelo menos 30 anos, mas, se começarmos agora, é tempo suficiente. Seria preciso apenas uma fonte de calor de baixa temperatura; fábricas, em qualquer lugar do mundo, são ideais." Ele visualiza uma rede de 20 mil sistemas desse tipo espalhados pelo planeta. Cada um custaria cerca de US$ 100 milhões --um investimento de US$ 2 trilhões em três décadas.

"Há um histórico forte de o sistema recusar-se a aceitar algo novo", disse Eisenberger. "As pessoas dizem que eu sou louco. Mas seria surpreendente se não dissessem. Veja a história da inovação! Se as pessoas não tacham você de maluco, é porque você está fazendo algo errado."

MÉTODOS

Depois de deixar o projeto demonstrativo de Eisenberger, falei com Curtis Carlson, que é, há mais de uma década, presidente e executivo-chefe da S.R.I. e voz de destaque sobre o futuro da inovação americana.

"Esses métodos de geoengenharia não serão implementados nas próximas décadas, ou talvez nunca", ele disse. Mesmo assim, os cientistas temem que, se as emissões de metano do Ártico aumentarem tão rápido quanto sugerem alguns dados, a intervenção climática não será mais uma opção: será uma necessidade.

"Quando e onde teremos uma discussão séria sobre como intervir?", Carlson indagou. "Não existem regras ou critérios acordados. Não existe nem mesmo um organismo que possa criar as regras."

Nos últimos três anos, uma série de relatórios em tom de crescente urgência --da Royal Society (Reino Unido), do Bipartisan Policy Center (Washington) e do Escritório de Responsabilidade do Governo dos EUA, entre outros-- vêm suplicando às instâncias decisórias que comecem a se planejar para um mundo em que a geoengenharia talvez seja o único recurso. Como ele concluiu num estudo recente do Centro Internacional Wilson para Acadêmicos, "no mínimo, precisamos aprender quais abordagens evitar, mesmo que estejamos desesperados".

A abordagem mais ambientalmente correta à geoengenharia é a menos palatável do ponto de vista político. "Se for necessário espalhar sulfatos em volta da terra, por que faríamos tudo de uma vez?", perguntou Ken Caldeira. "Se o total de mudança climática que ocorre pudesse ser neutralizado por um Pinatubo, então não faz sentido acrescentar 1% este ano, 2% no ano que vem e 3% no ano depois? Ir aumentando devagar, ao longo do século, e assim monitorar o que acontece. Se, com 1%, víssemos algo que parece perigoso, seria fácil reverter o processo. Mas quem vai fazer isso quando temos uma crise visível? Que político, em que país?"

Infelizmente, a abordagem menos arriscada politicamente é também a mais perigosa: não fazer nada até o que mundo se veja diante de um cataclismo, e então mergulhar em ação frenética para fazer frente à crise. Seria impossível exagerar as implicações políticas de qualquer ação desse tipo.

O que aconteceria, por exemplo, se um país decidisse lançar tal programa sem a concordância de outros países? Ou se países industrializados concordassem em injetar partículas sulfúricas na estratosfera e acidentalmente provocassem uma emergência climática que resultasse em estiagem na China, na Índia ou na África?

"Digamos que o governo chinês decida que a força das monções, das quais centenas de milhões de pessoas dependem para sua subsistência, está diminuindo", aventou Caldeira. "Ele tem razões para acreditar que criar nuvens perto do oceano poderia ajudar; começa a fazer isso, os indianos descobrem e pensam --com ou sem razão-- que isso agravará as monções na Índia. O que acontecerá então? Onde vamos para discutir isso? Não temos nenhum mecanismo para resolver essa disputa."

A maior parte das estimativas sugere que espalhar partículas sulfúricas suficientes na atmosfera para mudar os padrões climáticos do planeta custaria alguns poucos bilhões de dólares por ano. Qualquer país, a maioria dos grupos e até mesmo alguns indivíduos poderiam arcar com esse preço.

A tecnologia é aberta e está disponível --e isso faz dela algo mais parecido com a internet que com um programa nacional de armas. Os princípios são amplamente publicados; a propriedade intelectual por trás de quase todas as técnicas está no domínio público. Se as Maldivas quisessem enviar aviões à estratosfera para espalhar sulfatos, quem poderia impedi-las?

"O estranho, aqui, é que esta é uma tecnologia democratizante", Nathan Myhrvold me disse. "Países ricos e poderosos podem ter inventado boa parte dela, mas ela estará ali para ser usada por qualquer um. As pessoas ficam preocupadíssimas com a questão de se isso poderia ser feito unilateralmente ou por um grupo ou uma nação. Sabe de uma coisa? Decidimos todos os dias fazer coisas muito piores que estas, e decidimos unilateralmente. Estamos poluindo a terra unilateralmente. Quer sejam decisões que implicam na perda de vidas, como guerras, ou coisas como embargos comerciais, o mundo é feito por pessoas que empreendem ações, não que acordam ações. E, francamente, as Maldivas poderiam dizer 'danem-se vocês todos --nós queremos continuar vivos'. Quem poderia culpá-las? Qualquer país razoável não faria a mesma coisa?"

Tradução de CLARA ALLAIN.

 

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