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13/11/2012 - 14h58

"Tesouro" marinho pode revolucionar a indústria e a medicina

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ROBIN McKIE
DO "OBSERVER"

Cientistas localizaram um novo tesouro em nossos oceanos: micro-organismos que contêm milhões de genes previamente desconhecidos e milhares de novas famílias de proteínas.

Essas minúsculas maravilhas marinhas oferecem uma oportunidade para explorar um vasto conjunto de materiais que poderiam ser usados para criar medicamentos inovadores, solventes industriais, tratamentos químicos e outros processos, segundo cientistas.

Brian Skerry/Caters
Esponja encontrada no Caribe contém substâncias que possuem propriedades anticancerígenas e antivirais
Esponja encontrada no Caribe contém substâncias que possuem propriedades anticancerígenas e antivirais

Os pesquisadores já desenvolveram novas enzimas para o tratamento de esgoto, e produtos químicos para fazer sabão a partir de material encontrado em organismos marinhos.

"O potencial para a biotecnologia marinha é quase infinito", disse Curtis Suttle, professor de ciências telúricas, marinhas e atmosféricas da Universidade de Columbia Britânica. "Tornou-se evidente que a maior parte da diversidade genética e biológica na Terra --de longe-- está atada aos ecossistemas marinhos e, em particular, aos seus componentes microbianos. Por peso, mais de 95% de todos os organismos vivos encontrados nos oceanos são micróbios. Isso é um recurso incrível."

No entanto, a descoberta de riquezas biológicas do oceano, incluindo centenas de milhares de novas esponjas, bactérias e vírus, também desperta preocupações sobre os danos que poderiam resultar da nova ciência da biotecnologia marinha.

Os cientistas temem principalmente que fontes preciosas, incluindo fissuras hidrotermais onde bactérias e plantas simples prosperam em águas acima do ponto de ebulição, sejam danificadas ou destruídas na desabalada corrida para explorar essas maravilhas.

Além disso, grandes preocupações envolvem países em desenvolvimento cujas águas contenham ricas fontes de vida marinha com potencial para serem exploradas por indústrias químicas ocidentais. Em terra, patentes podem oferecer proteção para produtos derivados de animais ou plantas locais. No mar, onde as correntes transportam peixes, esponjas e micróbios de lugar para lugar, pode ser muito mais complicado impor essa proteção.

Tais questões dominaram a pauta de um fórum de biotecnologia chamado "A Promessa em Evolução das Ciências da Vida", que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o fórum de genômica do Conselho de Pesquisa Econômica e Social do Reino Unido (CPES) promoveram nesta semana em Paris.

"Temos controles para regulamentar a exploração dos animais, plantas e micróbios em terra, mas regulamentá-los no mar vai ser muito mais difícil", disse o professor Steve Yearley, diretor do fórum de genômica do CPES e organizador da reunião desta semana. "Não conseguimos nem conter os piratas na costa da Somália, então como se espera que alguém vá proteger esponjas raras encontradas em suas águas costeiras?"

TRATAMENTO DO CÂNCER

As esponjas se revelaram um recurso marinho particularmente promissor. Descobriu-se que a esponja "Tethya cripta", encontrada em Belize e outras partes do Caribe, contém substâncias químicas que possuem propriedades anticancerígenas e antivirais. Do mesmo modo, o medicamento contra o câncer Halaven deriva de esponjas da família Halichondria.

Até agora, apenas um punhado de medicamentos derivados de fontes de biotecnologia marinha recebeu aprovação da FDA (agência de alimentos e drogas dos EUA). No entanto, mais de mil novos produtos estão sendo submetidos a testes pré-clínicos. Eles incluem produtos derivados de moluscos, caramujos, micróbios marinhos e peixes.

A ciência da biotecnologia marinha deslanchou há cinco anos, graças ao empreendedor Craig Venter. Um dos cientistas envolvidos no sequenciamento do genoma humano, Venter zarpou em seu iate para um cruzeiro de volta ao mundo no qual pretendia demonstrar o potencial do material biológico encontrado na água do mar.

Acabou fazendo duas viagens, uma de 2006 a 2008, e a outra de 2009 a 2011. Em ambas as expedições, os cientistas recolhiam amostras de 200 a 400 litros de água do mar a cada 200 milhas, passavam-nas por filtros cada vez mais finos, a fim de capturar os organismos nas amostras, e então congelavam os micro-organismos capturados para serem despachados ao seu laboratório. Lá os cientistas sequenciaram seu DNA, usando técnicas desenvolvidas por Venter ao destrinchar o genoma humano.

Os resultados foram surpreendentes. De acordo com Venter, sua equipe descobriu em torno de 20 milhões de novos genes e milhares de novas famílias de proteínas nas amostras recolhidas em suas viagens através dos oceanos do mundo. Até agora, ninguém sabe o que esses genes e proteínas fazem, embora a maioria dos pesquisadores acredite que muitos deles possam ter potencial como fonte de novos medicamentos.

"Estamos lutando para desenvolver as técnicas corretas para isolar e entender as maravilhas que estamos encontrando nas águas ao redor do planeta", disse Yearley. "Uma vez que tivermos feito isso, teremos uma idéia muito melhor sobre o que estamos olhando e o quanto precisamos ser cuidadosos quando se trata de garantir que esse recurso seja protegido para o futuro."

Pesquisa adicional de GEMMA O'NEILL.

Tradução de RODRIGO LEITE.

 

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