No Japão, carta de idoso brasileiro virou canção de sucesso

Há alguns anos, uma carta anônima de um senhor para seu filho circulou pelas redes sociais no Brasil. O texto, em que ele pedia paciência por estar ficando velho, emocionou muita gente e, por isso, foi bastante compartilhado.

A mensagem atravessou os mares e foi parar nas mãos do cantor e compositor Ryoichi Higuchi. Inspirado pelo texto, que foi traduzido para o japonês por um amigo, o músico compôs a canção "Tegami Shin Ainaru Kodomotachie" (carta aos meus filhos amados).

A música fez parte de um álbum lançado em 2008. No ano seguinte, depois de conquistar rádios e programas de TV, Higuchi ganhou o principal prêmio da música japonesa. O calor humano e a forma como ele descreve os sentimentos e as frustrações de uma pessoa em idade avançada fizeram com que a música fosse incluída no material didático dos cursos de cuidador de idosos de todo o Japão.

Higuchi gravou também uma versão em português e, recentemente, revelou que fez isso para tentar encontrar o autor da mensagem. O sonho do cantor é poder agradecer quem o ajudou a entender melhor o significado da vida e a emocionar tantos japoneses.

FLOR DE CEREJEIRA

Todo ano, na primavera, o desabrochar das flores de cerejeira transforma o país. As pessoas ficam extasiadas diante da delicada flor, que pinta o Japão de rosa. É também o período em que o país recebe mais turistas estrangeiros. Somente em 2016, foram pouco mais de 7 milhões nesta estação.

Mais do que por sua beleza, a flor de cerejeira –ou sakura, como se diz em japonês– é importante porque movimenta a economia. Centenas de produtos temáticos, desde alimentos, bebidas e artigos de papelaria até produtos de beleza, são lançados no mercado.

Embora o impacto não seja suficiente para aparecer nas principais estatísticas econômicas, vemos um aumento significativo no consumo interno japonês. A venda de bebidas alcoólicas, por exemplo, tem um salto de 10% entre fevereiro e março, período em que os piqueniques debaixo das cerejeiras começam a pipocar, em comparação com outros meses.

No entanto, a floração da sakura dura pouco. Em menos de dez dias as flores começam a cair, formando tapetes cor-de-rosa nas ruas e parques. E justamente por causa da curta existência, os japoneses a comparam à efemeridade da vida.

Nas músicas ufanistas da época da Segunda Guerra, soldados mortos eram comparados com a flor de cerejeira. Ela era muito usada também na pintura dos aviões cujos pilotos partiam em missões suicidas, os famosos kamikazes.

ARTE BRASILEIRA

Março também foi um mês especial para o Brasil em terras nipônicas. O pintor, desenhista e escultor Paulo Monteiro está em cartaz com a exposição "The Outside of Distance" (o lado de fora da distância) até abril.

Além de quadros, o artista levou para o arquipélago desenhos em papel e esculturas que retratam um pouco do seu trabalho.

Já o fotógrafo Cristiano Mascaro expõe um belo acervo de fotos urbanas na embaixada brasileira em Tóquio. Formado em arquitetura, ele começou a carreira como repórter fotográfico, ganhou diversos prêmios e hoje se dedica a projetos editoriais e ensaios pessoais. Um deles, feito no Japão em 2011, virou livro ("Viagem a Tóquio"; DBA).

Mascaro é um dos fotógrafos de arquitetura mais importantes do Brasil. Suas obras estão em coleções públicas no país, nos Estados Unidos e na França.

Para o Japão, ele levou imagens urbanas do Brasil. "Não queria fazer uma exposição ilustrativa da arquitetura brasileira simplesmente, então trouxe fotos de que eu gosto e que tinham certa unidade entre elas", contou à Folha.

MAIS DO QUE ARROZ E FEIJÃO

Passada a euforia de Copa do Mundo e Olimpíada, o Brasil continua em alta por aqui. Na capital japonesa, é possível encontrar dezenas de restaurantes e churrascarias brasileiras.

Viagem A Toquio
DBA
l
Comprar

Além da carne e do café, os japoneses se encantaram com os benefícios do açaí. Hoje, a bebida da fruta é encontrada em qualquer loja de conveniência.

Agora, a embaixada brasileira se esforça para promover outros produtos. Em março, houve um evento de divulgação do palmito. O mesmo foi feito com a cachaça. A diplomacia do país também organizou, em parceria com o principal guia japonês de restaurantes na internet, um seminário com o chef brasileiro Alex Atala para alavancar itens já disponíveis no mercado japonês.

EWERTHON TOBACE, 40, é jornalista, produtor e documentarista em Tóquio.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.