Revelação da música em Portugal tem 29 anos e trabalha numa sex shop

Conan Osiris buscou apelido no herói de um desenho animado e no deus dos mortos do Antigo Egito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Isabel Coutinho

Num poema da portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, há um verso que diz: "Porque o grito de Electra é a insônia das coisas". Esta foi a inspiração para o nome da nova revista "Electra", editada em Portugal pela Fundação EDP.

"O tempo em que vivemos tem sido acusado de muitas coisas, mas não de pensar demais", escrevem o diretor José Manuel dos Santos e o subdiretor António Soares no editorial daquela que quer ser "uma revista de pensamento."

Lançada em março no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, sairá quatro vezes por ano em duas edições: uma em português, outra em inglês.

No primeiro número, o ensaísta António Guerreiro, editor da publicação, entrevista o crítico Boris Groys, que tem refletido sobre a relação da arte com a política.

Cada edição terá sempre um artista convidado: desta vez é Lourdes Castro, 87, que mostra um trabalho inédito feito a partir da obra do poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926).

Já num dossiê intitulado "Nesta Grande Época" —que remete ao texto que Karl Kraus escreveu sobre a vida cultural de Viena em 1914— há uma entrevista que Andrea Cavalletti, professor de estética e literatura italiana da Universidade de Bolonha, fez com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e a filósofa Déborah Danowski sobre "Há Mundo por Vir?", livro escrito por ambos.

O FIM DE UMA ERA

No ano em que se celebram os 20 anos do Lux Frágil, discoteca mais famosa de Lisboa, morreu seu fundador Manuel Reis.

manuel reis
Manuel Reis, fundador do Lux Frágil - Tiago Frazão/Lux

"Manuel fez maior esta cidade, o nosso mundo e as nossas vidas também", dizia o comunicado que anunciou a morte do empresário de 71 anos que também fundou o antigo bar Frágil, a Loja da Atalaia e o bar Rive-Rouge.

Em crônica no jornal Público, o escritor Miguel Esteves Cardoso lembra que Reis "pôs-nos a falar e a dançar uns com os outros como se tivéssemos sido amigos desde sempre". A cena artística lisboeta passou pelos lugares que ele criou. Como lembrou o crítico Augusto M. Seabra, Reis foi o homem que "inventou uma Lisboa cosmopolita".

A revolução começou em 1982, quando Manuel Reis fundou, no número 126 da rua da Atalaia, no Bairro Alto, o Frágil —hoje fechado— onde todas as noites se reunia, como se dizia na galhofa, "grande parte do Produto Intelectual Bruto do país".

O bar foi inspiração de canções como "Baum", dos Ena Pá 2000: "Eu quero ir ao Frágil sexta-feira/ Eu quero ser amigo da porteira/ Eu quero vir na capa das revistas/ Quero andar nos copos com os artistas".

O ÓVNI QUE É CONAN OSIRIS

Conan Osiris, músico lisboeta de 29 anos, é a grande revelação de 2018. Ele buscou o apelido no herói de um desenho animado de Hayao Miyazaki e no deus dos mortos do Antigo Egito, mas seu nome verdadeiro é Tiago Miranda —e ele trabalha numa sex shop.

"Adoro Bolos", seu terceiro álbum, surpreendeu crítica e público com seu humor particular, letras nonsense e uma música que mistura fado, hip-hop, eletrônica, sons ciganos, árabes e de Bollywood.

"É oficial: nunca ouvimos nada assim", escreveu o crítico Mário Lopes no suplemento Ípsilon, do Público, prevendo que este seria o ano do músico que se pode amar ou odiar, mas a quem não se fica indiferente.

Com músicas como "Titanique" —"Eu vou-me amandar do titanique (se tu não vieres)"— ou "Celulitite" — "Tu não tens celulite/ Tens celulitite: mania que tem celulite"—, Conan tem feito muita gente dançar. Fez há pouco a abertura do show de Linn da Quebrada, na Galeria Zé dos Bois, e abrirá no dia 7 o de Liniker e os Caramellows no Capitólio.

REGRESSO DE ROMÃO

Acabou a espera: está nas livrarias um novo romance de Valério Romão. Em 2012, ele publicou o primeiro volume da trilogia "Paternidades Falhadas", "Autismo" (Abysmo), que foi uma pedrada no charco da literatura portuguesa.

A história de um casal em dificuldades para lidar com a doença do filho —embora o escritor tenha um filho autista, não é um livro autobiográfico— foi seguida por "O da Joana", em 2013, também passado num hospital, com uma mulher grávida que dá à luz um natimorto.

Passados cinco anos, a trilogia chega ao fim com "Cair para Dentro", que mergulha na relação de duas mulheres, mãe e filha: a primeira diagnosticada com Alzheimer e a segunda obrigada a deixar a infância artificial em que vive para cuidar de ambas.


Isabel Coutinho, 51, é repórter do jornal português Público.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.