Quadrinista sueca critica séculos de distorções sobre a vagina

Livro de Liv Strömquist, a ser lançado no Brasil em junho, aborda a história cultural do órgão sexual feminino

Helen Beltrame-Linné

[RESUMO] Livro de quadrinista sueca, a ser lançado no Brasil em junho, aborda a história cultural da vagina. Em entrevista, Liv Strömquist defende um feminismo menos polarizado e fala das consequências geradas por séculos de representação distorcida do órgão feminino.

 

Liv Strömquist não gosta de tabus. Mas curte listas. Um top 7 de "homens que se interessaram um pouco demais por aquilo que se costuma chamar de 'genitália feminina'" é usado pela cartunista sueca para contar a história sexual da vulva em "A Origem do Mundo", publicado na Suécia em 2014 e que a Companhia das Letras lança no Brasil em junho.

O subtítulo da versão brasileira —"Uma História Cultural da Vagina ou a Vulva vs. o Patriarcado"— já indica a insolência do conteúdo. Primeiro da lista, John Harvey Kellogg (1852-1943) tem seu currículo ampliado para atividades menos populares do que criar os sucrilhos: líder do movimento anti-masturbação, o médico era adepto da aplicação de ácido carbólico para queimar o clitóris.

Os quadrinhos seguem, atrevidos, e revelam uma história de corrosão cultural da vulva, tão comumente chamada de vagina, que é só uma de suas partes. Desde a ausência visual em livros, manequins e num folheto da Nasa enviado para o espaço até a disseminação moderna da labioplastia (redução cirúrgica dos grandes lábios), passando por cremes de branqueamento e pelo constrangimento da pata de camelo (ou capô de fusca).

Outro tabu atacado pela quadrinista é o da menstruação, tema que ela já havia escolhido, em 2013, para o seu episódio no programa "Conversa de Verão", um dos mais tradicionais da rádio sueca, e que abordou também na série de ilustrações que escandalizou o metrô de Estocolmo no ano passado.

O clitóris tem, igualmente, um capítulo em "A Origem do Mundo". Órgão responsável pelo orgasmo, seu verdadeiro formato só foi descoberto 20 anos atrás —o que denuncia séculos de investigação bastante cretina sobre o corpo feminino— e deveria encerrar a tese freudiana do orgasmo vaginal (adulto) e do orgasmo clitoriano (infantil/imaturo).

Freud não é o único ícone moderno sob ataque na obra da sueca. No calendário de parede que desenhou em 2010, intitulado "Prostituto do mês", 12 figuras —como o rei Salomão, Mao Tsé-tung e até Paulo Coelho— tiveram seus históricos sexuais esculhambados.

Mas se engana quem pensa que o problema de Liv são os homens. Seu verdadeiro inimigo é o establishment, a ordem das coisas.

estátua de vulva
Quadrinho selecionado do livro "A Origem do Mundo", de Liv Strömquist - Reprodução

Em "Einsteins Fru" (a mulher de Einstein, de 2008) ela quebrou mitos ao destrinchar casamentos como o do físico do título —cuja teoria da relatividade poderia ser atribuída a uma pesquisa conjunta com a ex-mulher— e o de Jackson Pollock, casado com uma artista talentosa que abnegou da própria produção para cuidar do marido alcóolatra por 15 anos.

No mesmo livro, Yoko Ono é liberada da pecha de bruxa que mantinha John Lennon na coleira curta; o músico estava até mais interessado que ela na vida doméstica e fazia questão de ficar em casa com o filho.

A vida doméstica tradicional, por sua vez, é alvo em "Ja till Liv" (sim para Liv, de 2011). Usando o bom e velho formato de listas, ela faz um top 5 de razões pelas quais crianças são tão odiáveis quanto os cristão-democratas: louvam a família nuclear, advogam por mulheres donas de casa, são obcecadas por antigas tradições, são moralistas e amam a nobreza e as elites.

A vida de Liv, no entanto, não se pauta por isso. Durante a entrevista à Folha, feita por videoconferência, a autora, de 40 anos, aparece na tela amamentando um bebê —que permaneceria no seu colo até o final da conversa. A criança é seu terceiro filho, fruto de uma relação heterossexual com um comediante sueco de 35 anos.

Liv não é o estereótipo da feminista —"mulheres entediantes, sempre sérias, que pensam nas coisas mais deprimentes o tempo todo, nunca se divertem nem riem de nada", como ela diz. A sueca tampouco veste totalmente a camisa do movimento: já fez tirinhas com críticas duras à figura da feminista liberal, que luta pela igualdade com os homens, mas sem se preocupar com a extrema desigualdade generalizada do mundo.

foto de Liv Strömquist
A cartunista sueca Liv Strömquist - Divulgação/Livia Rostovanyi

A própria cartunista —que estudou sociologia e ciência política na faculdade— está atenta ao desequilíbrio econômico, assunto de outra série de quadrinhos, "End Extreme Wealth" (acabe com a riqueza extrema). Lançada em 2013 numa parceria com o duo eletrônico The Knife, provocava a ONU e seu conhecido plano de acabar com a pobreza mundial até 2030.

A incursão em outras artes não se restringe à música. O trabalho transgressor de Liv está no rádio —são dois podcasts, que somam mais de 120 mil downloads semanais— e no Teatro Real de Estocolmo, no qual a peça "Liv Strömquist Tänker på Dig!" (Liv Strömquist pensa em você!) voltou a entrar em cartaz depois de longa temporada de sucesso de 2013 a 2015.

Em março, a quebra de tabus da cartunista chegou ao cinema, com o lançamento de "Fettknölen" (lipoma, um tumor benigno de tecido adiposo), curta-metragem crítico e irreverente que escreveu e animou para o centenário de Ingmar Bergman —a direção é de Jane Magnusson.

A Suécia pode ver Liv em toda parte, mas é com sua saga da vulva em quadrinhos que a autora está conquistando outros países. Marcado pelo amplo trabalho de pesquisa que fundamenta a argumentação da autora, "A Origem do Mundo" —no original, "Kunskapens Frukt" (fruto do conhecimento)— já foi traduzido para mais de dez línguas.

Com sua inteligência e capacidade de fazer rir, Liv tem conseguido uma façanha rara no movimento feminista: falar para além dos convertidos.

 

Logo no início de "A Origem do Mundo" você faz questão de identificar a vulva como "aquilo que se costuma chamar de 'genitália feminina'". Por que esse cuidado?

Eu queria ser inclusiva. Englobar pessoas transgênero, por exemplo, que podem se identificar como homem ou como não binário e ainda assim ter vulva. A ideia é que esse órgão não precisa estar necessariamente ligado a um corpo feminino. E eu não estou interessada no que ele é biologicamente, mas sim na sua construção histórica e cultural tradicional, nele como uma construção da sociedade.

No caso do clitóris, a história afetou a percepção da própria constituição biológica do órgão.

Sim, foi só em 1997 que se descobriu o tamanho real do clitóris, que ele se ramifica realmente no interior do corpo, com um tamanho entre 7 e 13 cm. Ou seja, a cabeça visível era somente o topo do iceberg. Mas em muitos livros de biologia usados ainda hoje ele é descrito como "um pequeno botão".

Por que escrever sobre isto?

O fato de o corpo da mulher e o órgão sexual feminino estarem envoltos em sentimentos de vergonha e invisibilidade é algo que me afetou muito quando era mais nova.

Aos 15 anos, eu tinha muita cólica menstrual. Certa vez, estava na escola com dor intensa e precisava ir à enfermaria para tomar um analgésico. Mas não tive coragem de levantar a mão na sala de aula e pedir autorização para sair. Depois de um tempo, eu me levantei e estava com tanta dor que desmaiei na classe. Quão bizarra é essa história?

Anos depois, já adulta, eu me perguntei: "Como podem esses sentimentos de vergonha serem tão fortes, dominarem nossos corpos assim?". Você pode explicá-los sob uma ótica psicológica, mas estou mais interessada na sociedade. O que em nossa cultura constrói esses sentimentos que fazem com que quase toda mulher já tenha sentido medo de ficar com uma mancha de menstruação.

E me dei conta de que não sabia absolutamente nada sobre o tabu da menstruação. De onde vem? Sempre foi igual em todos os países ou temos histórias diferentes?

A única coisa que sabia, que me ensinaram muito claramente, é que ninguém deve notar que você está menstruando. É sua responsabilidade e seu dever como mulher: assegurar-se de que ninguém ao seu redor note isso. E eu acho que isso se deve, em grande parte, ao fato de que é um sangue que sai da vagina.

E a vagina é algo que é muito escondido, misterioso, algo cercado de muito tabu na nossa sociedade. E isso realmente afeta as mulheres de forma muito profunda e psicológica.

menina derrama sangue no sofá
Cena sobre menstruação, selecionada do livro "A Origem do Mundo" - Reprodução

Menstruação foi o tema que você escolheu para o seu programa de rádio no verão em 2013. O assunto também esteve nas ilustrações que exibiu no metrô de Estocolmo em 2017. Isso tudo gerou muita discussão. Que tipo de resposta você teve?

Quando fiz o programa de rádio, eu tive retornos muito positivos. Ainda hoje pessoas me dizem que aquilo significou muito para elas. É legal ter conversas com mulheres bem mais velhas que têm memórias assustadoras ligadas a esse tabu: nunca lhes disseram o que era menstruação e elas achavam que iam morrer etc.

Sobre o metrô, houve pessoas que jogaram tinta nas imagens, elas tiveram que ser substituídas duas vezes. Houve também uma campanha política pelos Democratas Suecos [partido conservador de direita] para substituí-las por paisagens de um artista do século 18. Eu acho compreensível que as pessoas reajam porque é algo muito novo. Você não vê sangue menstrual em nenhum espaço público.

Mas houve, por exemplo, uma senhora que disse numa entrevista não ter gostado das imagens porque estava com sua neta e não soube como responder quando a menina perguntou: "Por que tem sangue nessa pessoa?".

E justamente esse tipo de interação é tão significativa porque dá chance de você simplesmente dizer: "É menstruação. Isso vai acontecer com você, isso aconteceu comigo, isso acontece porque temos um útero...". É uma forma de ajudar a fazer disso um assunto de conversa.

Esse tipo de discurso feminista para quebra de tabus costuma ser criticado como "mais um manifesto feminista maluco". No seu trabalho, contudo, você fundamenta tudo com citações e fatos históricos, e fica mais difícil desdenhar o assunto.

As histórias que eu conto no livro são tão bizarras que, se não incluísse uma nota de rodapé identificando a origem, ninguém acreditaria que aquilo é verdade. Dizer que Kellogg, o homem que inventou os sucrilhos, também escreveu um livro para acabar com a masturbação feminina.

Ou falar sobre a prática disseminada de clitoridectomia [remoção cirúrgica do clitóris] em países como os EUA até muito recentemente. A própria história da escrava Saartjie Baartman, cujo órgão sexual esteve exibido num museu na França até 2002.

Existe um discurso de que somos iluminados, de que vivemos no melhor dos tempos, então, se você quer provar alguma coisa, tem que argumentar com consistência. E eu acho que ajuda usar bastante humor.

Eu faço piadas, tento deixar a leitura engraçada. Porque a história da vulva é brutal, uma história cultural muito deprimente. É tanta repressão contra as mulheres e a sexualidade feminina. Então ajuda muito que você possa rir de quão estranho e bizarro tudo aquilo é.

O engajamento político aparece desde o seu primeiro livro, mas você sempre o exerceu pelo ângulo da sátira. O que é mais importante: ser engraçada ou revelar verdades desconfortáveis?

Ser engraçado é apenas o jeito de contar. Quando me tornei feminista, ainda jovem, eu olhava para as mulheres do movimento e tinha a impressão de que feministas eram mulheres mais velhas, muito entediantes, sempre sérias, que pensam nas coisas mais deprimentes o tempo todo, nunca se divertem nem riem de nada. Isso é o estereótipo da feminista.

Para mim é legal mostrar que você pode muito bem fazer piadas e ser feminista ao mesmo tempo. Você pode ser bastante engraçada. Acho também que, quando via mulheres sendo engraçadas, havia essa tradição de tirar sarro de si mesma. E eu queria fazer piadas que atacassem o patriarcado, queria tirar sarro das pessoas no poder.

mulher com cólica imitando escultura do pensador
Quadrinho selecionado do livro "A Origem do Mundo", de Liv Strömquist - Reprodução

Quando você começou com quadrinhos?

Comecei criança, mas era apenas 1 entre 10 interesses. Mais tarde continuei lendo quadrinhos, mas o grande lance para mim era ser escritora. Eu fui para uma escola de escrita criativa e lá senti muita pressão. Sou muito autocrítica e não conseguia produzir nada, eu me sentia totalmente bloqueada. Não conseguia encontrar minha voz e não sabia sobre o que falar. Já era velha, tinha uns 25 anos.

Tinha uma amiga que fazia tirinhas autobiográficas, essa era a moda então. Eu queria fazer quadrinhos também, mas não queria falar de mim; eu sou tímida e não queria dividir muitas coisas. Queria fazer algo mais político, afinal, eu era uma ativista feminista.

Quando comecei com os quadrinhos, entrei realmente num fluxo criativo quase imediatamente. Por causa da minha experiência de autocrítica, decidi que não iria analisar demais e jogar tudo fora. Eu só pensei que deveria desenhar, desenhar, desenhar... E aquilo acabou virando o meu primeiro livro.

Esse formato dos quadrinhos foi muito libertador para mim porque eu não conhecia nada a respeito. Não sabia como um quadrinho deveria ser, o que era uma boa tirinha. Estava vivendo nesse apartamento tentando fazer alguma coisa que fizesse minha amiga rir.

Nunca sonhei em ser quadrinista, de forma alguma; eu estudava coisas completamente diferentes na faculdade. Se eu tivesse pensado "quero ser quadrinista", eu teria olhado tudo que estava sendo publicado, sobre o que falavam, como faziam, e não formaria minha voz. Mas, dessa forma, pude ser fiel ao que me interessa e ao meu ponto de vista.

Seu livro foi lançado na Suécia há quatro anos. Ele ainda é atual?

Essas ideias e padrões sociais têm razões muito profundas. Sendo feminista, você pode se sentir constantemente no filme "Feitiço do Tempo": você acorda e o dia é exatamente igual ao anterior. Essas coisas sobre as quais falo no livro, as feministas têm discutido há muito tempo.

Mas falar sobre elas não significa que a discussão se encerra, porque temos as novas gerações. Quando escrevi o livro, sentia que era algo que gostaria de ter lido quando era adolescente, ou mesmo agora. Espero que seja isso que as pessoas ainda sintam quando o leem. Quero que se sintam empoderadas. E eu noto que o livro constantemente encontra novos leitores, na Suécia e em outros países.

A Origem do Mundo - Uma História Cultural da Vagina ou a Vulva vs. o Patriarcado

  • Quando lançamento em junho
  • Preço R$ 69,90 (pré-venda); 144 págs.
  • Autor Liv Strömquist
  • Editora Companhia das Letras
  • Tradução Kristin Garrubo

No livro, você usa exemplos negativos da própria Suécia. Casos práticos e teóricos que não combinam com um país que é referência em educação, bem-estar social e até feminismo. Como explica isso?

A Suécia tem um movimento feminista muito forte, que conquistou status político bastante positivo. Mas é um assunto que temos que debater constantemente porque sempre existem reações contrárias. Isso pode ser visto em todos os países ocidentais: movimentos populistas que são muito conservadores em suas ideias sobre as mulheres. Eu acho que a batalha jamais estará terminada. Existe muita polarização.

Movimentos como #MeToo são capazes de superar a polarização e unir todo mundo?

Há movimentos como esse fazendo conquistas em muitos campos, mas você também pode ver a polarização como consequência do feminismo crescente.

O feminismo precisa, por exemplo, tentar integrar os grupos que estão perdendo espaço com ele, tais como os homens jovens sem emprego. Esses garotos que vão mal na escola, que não têm lugar na sociedade e podem ter muito ódio, entrar em gangues ou ficar só jogando computador. Eles não são a face do opressor.

Nós vimos isso no movimento canadense, homens se organizando na internet, tendo muito ódio de mulheres. A realidade não é sempre em preto e branco. Temos mulheres poderosas muito bem-sucedidas, mas também precisamos entender a situação dos homens na sociedade, para evitar a polarização.

imagem de homem e mulher
Quadrinho de "A Origem do Mundo" faz graça com folheto da Nasa enviado para o espaço. - Reprodução

​​Falando em homens: você fez um filme sobre Bergman. Como isso aconteceu?

Jane Magnusson estava trabalhando num longo documentário sobre ele ["Bergman, a Year in the Life" (Bergman, um ano em sua vida), exibido no Festival de Cannes].

Vendo filmagens antigas, ela notou que ele tinha uma espécie de verruga no rosto, um lipoma, que depois removeu cirurgicamente. Ela teve essa ideia de fazer um filme como se esse lipoma fosse uma pessoa viva e me convidou para escrever.

Bergman disse, certa vez, que tinha decidido não ter consciência pesada sobre como viveu sua vida privada. Daí veio a ideia de esse lipoma ser a sua consciência, que ele havia removido cirurgicamente.

No filme pode-se notar certa compaixão com relação à figura dele.

Sim, o filme não diz nada sobre Bergman ou seus filmes. Fala apenas de como as condições para homens e mulheres na vida criativa são diferentes. E era ainda pior no passado, especialmente quando o aborto não era permitido e não havia anticoncepcionais. Bergman teve 9 crianças com 6 mulheres diferentes.

Se ele era um gênio, o que dizer das mulheres que o cercavam?

Elas eram todas ativas em profissões criativas: escritoras, atrizes, coreógrafas, uma pianista. Mas tiveram que tomar conta das crianças dele. Ele pôde viver sua vida inteira e ter sua carreira.

Quando você olha para a história, há poucas mulheres artistas geniais. A vida do Bergman ilustra como funciona: quem fica grávido, quem dá à luz, quem está cuidando das crianças. Fica claro que as condições são muito diferentes.

Eu sou uma fã de Bergman, acho que "Cenas de um Casamento" e "Persona" estão entre os melhores filmes já feitos. Mas, para que ele pudesse trabalhar assim, havia uma rede de mulheres permitindo que ele vivesse fazendo arte sem nunca precisar trocar uma fralda. Ele realmente se beneficiou da desigualdade social de gênero.

Num certo sentido, fez ótimo uso disso. Ele teve todos esses casos com mulheres, mas estava obviamente ouvindo bastante o que elas diziam, porque muitos dos seus filmes são sobre mulheres e são muito sensíveis em compreender o feminino. "Cenas", por exemplo, é uma história sobre uma mulher que está se libertando de um casamento muito ruim. Você pode chamá-lo de um filme feminista.

Essa é uma visão interessante do filme. Penso na cena do café da manhã, em que ela, entre duas mordidas na torrada, é abandonada pelo marido, que diz: "Estou indo embora com a minha amante para Paris".

Sim, mas depois ele volta e está completamente destruído. E eles tentam resolver e encontrar um jeito de se amarem de forma mais igualitária.

Você se beneficiou dessa mudança para uma perspectiva mais igualitária, na qual mulheres estão tendo mais chances?

Acho que me beneficiei no início, por ser uma das poucas mulheres nesse meio e também pela falta de perspectiva: as pessoas não estavam acostumadas a ler quadrinhos de um ponto de vista feminista. Mas isso foi só o começo.

Para continuar no mercado por tanto tempo e ter tantos leitores, você precisa produzir algo interessante. Mais do que "olha, uma mulher está fazendo alguma coisa". 


Helen Beltrame-Linné, graduada em direito pela USP e cinema pela Sorbonne-Nouvelle (Paris 3), ex-diretora da Fundação Bergman Center (Suécia), é editora-adjunta da Ilustríssima.

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