Poemas inéditos versam sobre língua, gramática e aluno suicida; leia

'Novas Ofertas de Emprego para Ederval Fernandes' será lançado pelo selo ParaLeLo13S

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ederval Fernandes

[SOBRE O TEXTO] Os poemas nesta página fazem parte do livro “Novas Ofertas de Emprego para Ederval Fernandes”, que o autor baiano radicado em Lisboa lança neste mês pelo selo ParaLeLo13S.

 

Gramática normativa

A professora Norma
Soeli de Líng. Port. IV
revela em sala:
um aluno meu
não sabia
usar os conectivos
de coesão,
não sabia usar
sequer preposição,
misturava os tempos
verbais e os modos.
Acabou que, Norma
revela, meu aluno
se suicidou.
O verbo suicidar
possui este pronome
fossilizado, Norma
observa — ninguém diz
meu aluno suicidou. 

mulher sob casa com fundo verde
Ilustração - Camila Macedo

Língua geral

ofício de lábios
cuja carne cava
no som
uma língua

quase defunta

em febre
o amarelar
da febra
laranja pus

deste incerto fastio
língua geral
fiat lux.

rimografias
rodovias
destes mapas

acidentes
de origem geográfica

um corte cego
seco
no cerne da gramática

a língua no gelo

avanço com o bafo
o ranço da boca
baco
palavras tabasco
malabares arabesco

a chuva não alaga
ruelas becos favelas
da fala

propago o calor
húmus húmido
o retorno ao motivo
do artesão

a língua em degelo
oráculo ordinário

: coração


Ederval Fernandes, poeta, é autor de “O Livro Conta Corrente” (Ed. Sarò).

Ilustração de Camila Macedo, artista plástica.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.