Como a volúpia chegou a um quarto do prédio mais alto do mundo

Trecho é da peça inédita 'Cleópatra e o Veneno de Antônio', de Leo Lama

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leo Lama

[SOBRE O TEXTO] O trecho abaixo é da peça “Cleópatra e o Veneno de Antônio”, do dramaturgo Leo Lama. A trama se desenrola em um quarto de hotel no edifício mais alto do mundo, onde Cleópatra, empresária de sucesso, recebe seu amante, Antônio, depois da misteriosa morte de Júlio César. O espetáculo deve entrar em cartaz no segundo semestre deste ano.

Tony – Por que tanta volúpia?

Cléo – Por que não?

Tony – Eu quase morri.

Cléo – Não é esse o intuito de fazer amor?

Tony – Nós fizemos amor?

Ilustração de Rodrigo Visca
Ilustração - Rodrigo Visca

Silêncio profundo

Cléo – Então você me trouxe bombons?

Tony – Então eu chego sem avisar e já tem um drink preparado pra mim?

Cléo – Uma mulher que não antecipa a chegada de seu homem não pode chamá-lo de “seu”.

Tony – O que mais você antecipou?

Cléo – O ato de generosidade que você vai cometer agora. 

Tony – Você matou o Júlio, Cleópatra?

Cléo – O Júlio.

Tony – O que você sabe sobre a morte do Júlio? 

Cléo – Você está sentindo falta dele?

Tony – Não.

Cléo – Que ele descanse em paz ou como ele quiser.

Tony – Alguém tem querer ao seu lado?

Cléo – Eu não satisfaço os seus desejos?

Tony – Eu já não sei mais o que é desejo meu. 

Cléo – Você não vai beber o seu drink?

Tony – Você não vai comer seus bombons?

Cléo – Você me dá presentes demais.

Tony – O que mais eu posso te dar além de presentes? Afinal, que futuro nós temos?

Cléo – Hoje você vai assinar nosso futuro.

Tony – Eu não vou assinar.

Cléo – O contrato está em cima da mesa. Eu já li. Está tudo certo. 

Tony – Eu não vou assinar.

Cléo – Vai.

Tony – Como vai ser?

Cléo – Como vai ser o quê?

Tony – Como você vai me matar?

Cléo – Eu vou te matar?

Tony – O Júlio morreu.

Cléo – O mercado é dinâmico. Ninguém lembra mais que ele viveu.

Tony – Você ainda se lembra de mim?

Cléo – Meu amor.

Tony – Sim, o seu amor. Até o amor agora é seu. Espero que você não o use como moeda de troca com os chineses. 

Cléo – Você está amargo, Tony. Coma um bombom.


Leo Lama é músico, poeta e dramaturgo.

Ilustração de Rodrigo Visca, artista plástico.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.