[SOBRE O TEXTO] Os dois poemas nesta página integram o livro "Deriva", no qual a autora reflete sobre a sensação de estar sem rumo, ao sabor dos ventos, de variadas formas, numa busca metafórica e porto e de âncora. O título sai pela Relicário Edições nesta semana.
Ordens do patrão
Tempos fechados . . . . calcários
tempos de trens atrasados
de plágio de sono mal-dormido
de bocas escancaradas de verbos escancarados
de títulos obscenos
(mas como renegar nossos
pés descalços?)
tempos
de dor de dízimo . . . . tempos
que uns tantos contemplam
como se nada
como se numa sala de cinema
mas por isso mesmo:
tempos de meter as mãos
no bojo da terra mais preta mais podre arrancar
dali a insurreição de um pé de fruta
de um . . . vivo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tempos
de descumprir as ordens do patrão.
Queimar navios
Âncora unhada no chão
linha de vida tão frágil
o zênite
falso
o costado
que mal vê sentido
na flutuação
uma tocha acesa
um archote uma vela
queimar navios
não ao modo do grego
em Cartago (vencer
ou morrer) mas como
quem finca os pés
na proa de um novo mundo
e arde por si
só.
Adriana Lisboa, escritora, já publicou romances, coletâneas de contos e de poemas.
Ilustração de Kleverson Mariano (Klevs)
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