Conheça o banqueiro que financiou o cinema novo, salvou a Globo e livrou Garrincha da cadeia

Aos 91 anos, José Luiz de Magalhães Lins relembra sua trajetória singular e enigmática

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Claudio Leal

Jornalista e mestre em teoria e história do cinema pela USP

[RESUMO] Discreto e avesso à publicidade, José Luiz de Magalhães Lins atuou nos bastidores de episódios centrais da história recente brasileira: comandou a campanha de João Goulart pela volta do presidencialismo em 1963, participou das articulações do golpe militar no ano seguinte, financiou os principais filmes do cinema novo, salvou Roberto Marinho da falência e Garrincha da cadeia. Aos 91 anos, relembra, em entrevista à Folha, uma das raras que já concedeu, sua trajetória singular e enigmática.

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A figura esguia e discreta do banqueiro José Luiz de Magalhães Lins paira sobre alguns dos principais momentos da história do país nas últimas décadas. Pouco nítida à primeira vista, sua presença ganha forma e espessura em um exame mais detido. Em qualquer aspecto que se escolha (político, econômico ou cultural), o banqueiro teve atuação destacada, mas sempre dos bastidores, longe dos holofotes.

O amplo espectro de suas relações —artistas, políticos, militares, atletas, jornalistas, empresários—, em variados campos ideológicos, dá a ver uma trajetória fascinante e enigmática.

Nascido há 91 anos no ramo pobre de uma família tradicional, começou ainda jovem no mundo financeiro. Na unidade fluminense do Banco Nacional de Minas Gerais, iria de escriturário a vice-presidente reservado mas onipresente. Ingressou em uma instituição de duas agências, em 1948, e transformou-a no segundo maior banco privado do país.

Aos 25 anos, era um rapaz rico. Com 31, promovido pelo tio, Magalhães Pinto, fundador do banco, virou diretor-executivo. Cercado de telefones em seu gabinete, José Luiz alternava os papéis de banqueiro inovador e misantropo, político habilidoso e “amigo certo das promissórias incertas”, como definiu o escritor Otto Lara Resende.

A índole disciplinada continua a definir o homem recolhido em sua casa no alto do Humaitá, no Rio. José Luiz me recebe na entrada de sua sala coberta de arte barroca, aqui e ali pontuada por quadros modernos. Projetada pelo arquiteto Sergio Bernardes, ao pé do Corcovado, a casa se enche de vidros que emolduram a mata.

A conversa se tornou viável depois que recebi resultado negativo em teste de coronavírus, em um laboratório de sua confiança. Ele evita entrevistas, e não só na quarentena. Depois da aposentadoria, acolheu eventualmente alguns pesquisadores. Aceitando a ideia de um depoimento à Folha, ele se lançou noite adentro a datilografar lembretes. No sofá, retira suas fichas como quem puxa gavetas da memória, na presença de José Antônio e João Paulo, seus filhos, e do neto Dudi.

Em sua escalada no Banco Nacional, José Luiz contou com o respaldo do tio para modernizar os negócios. Governador de Minas Gerais (1961 a 1966) e ministro das Relações Exteriores (1967 a 1969, governo Costa e Silva), Magalhães Pinto despontara no combate ao Estado Novo e crescera na UDN com aspirações presidenciais. Se José Luiz devia o cargo ao tio, este passou a dever-lhe a multiplicação de seu patrimônio e a influência na imprensa.

O Banco Nacional se expandiu com a oferta agressiva de crédito a industriais e comerciantes, ao tempo em que criava as agências múltiplas, com mais de um gerente em cada filial. José Luiz conta que superou a gagueira ao oferecer crédito nos balcões de comerciantes do centro do Rio. “Quem vai oferecer dinheiro não fecha uma porta. Eu falava aos gerentes: ofereçam. Foi assim que tivemos êxito”, explica.

Nos anos 1960, à frente de um grupo conservador, o diferencial de José Luiz estava em financiar projetos culturais e não discriminar a esquerda, defendendo o “sentido humano do crédito”. O início do apoio a cineastas veio de seu fascínio pela história do assalto ao trem pagador da estrada de ferro Central do Brasil.

Em 1962, para levá-la ao cinema, Otto Lara Resende o aproximou do produtor Luiz Carlos Barreto e do diretor Roberto Farias. O resultado foi o filme “Assalto ao Trem Pagador”, cujo sucesso asfaltou o financiamento contínuo do cinema novo. De forma pioneira, os cineastas passaram a ganhar linhas de crédito em pessoa física, com juros de mercado e prazos largos e prorrogados.

José Luiz aprovou “papagaios” (gíria para promissórias) que viabilizaram “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos, “Os Fuzis” (1964), de Ruy Guerra, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, “A Grande Cidade” (1966), de Cacá Diegues, “Menino de Engenho” (1965), de Walter Lima Jr., “A Falecida” (1965), de Leon Hirszman, e “O Padre e a Moça” (1966), de Joaquim Pedro de Andrade, entre outros longas centrais do cinema brasileiro moderno.

“Ele deu um exemplo aos banqueiros. Banco nenhum acreditava em negócio de cultura. O cinema novo não existiria sem o Zé Luiz”, diz Barreto. “Não surgiu nunca mais, no panorama financeiro brasileiro, alguém igual. Zé Luiz é como Garrincha e Pelé. Quem viu, viu.”

Glauber Rocha também louvou sua atuação. “O exemplo do sr. José Luiz Magalhães Lins é de extraordinária importância neste momento que vive o cinema brasileiro, o mais fértil de sua história”, escreveu no livro “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”, em 1963.

Naquele mesmo ano, sem dinheiro no meio da filmagem de “Ganga Zumba”, no norte fluminense, Cacá Diegues procurou o banco pela primeira vez. “O espantoso em Zé Luiz era a sua capacidade de entender logo e sugerir alternativas para nossas produções, além da confiança com que ele entrava nos filmes e nos transmitia como uma espécie de reforço à nossa própria autoconfiança. Não sei exatamente como, mas Zé Luiz sabia porque fazíamos cinema e o que queríamos com isso”, afirma Diegues.

O banqueiro destaca a retidão dos cineastas: “Enquanto eu estive no negócio, ninguém deu prejuízo. Ninguém”. O jornalista Marcel Souto Maior percebe na sensibilidade cultural do amigo a influência da amizade de Otto, o parentesco com as artistas Lygia Clark e Sonia Lins, suas primas, e o “passado de ouvinte fiel da Rádio Nacional e de frequentador da Cinelândia”.

“O auge do cinema novo foi após 1964. Ninguém foi incomodado. Essa foi minha maior façanha”, diz José Luiz, que revela a sua proteção nos bastidores. “Nos primeiros dias de abril de 64, Harold Polland, um grande construtor aqui do Rio, me telefonou e disse que queria que eu conversasse com o coronel Newton Leitão, o número 2 do general Golbery [no SNI].”

O encontro ocorreu em um apartamento em Copacabana. “Ficamos nós dois ali umas três horas. Ele [Leitão] falou no cinema novo. Eu falei: ‘Isso aí eu queria que você não mexesse. Deixa por minha conta. Tem que dar um lugar para desaguar um pouco as mágoas’. Tanto é que eu não parei de dar financiamento para ninguém. E nunca ninguém foi incomodado. Todos os filmes foram feitos”. Quatro anos mais tarde, o AI-5 elevaria a perseguição a artistas e intelectuais.

Os papagaios voavam nos céus de jornalistas, artistas e escritores. Os empréstimos à UNE (União Nacional dos Estudantes) e a amizade com João Goulart fortaleceram a mística de “banqueiro da esquerda”. “Eu também me infiltrei no outro lado, caso acontecesse alguma coisa...”, ele ironiza.

Em sua gestão, o banco financiou o prêmio literário Walmap, o mercado de artes plásticas, a editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, e o jornal Pif-Paf, de Millôr Fernandes. Tamanho ecumenismo atrapalhou o SNI (Serviço Nacional de Informações) na hora de definir a sua “posição ideológica”. Em um relatório de 1979, lê-se: “Os registros não permitem opinião conclusiva”.

O escritório de José Luiz ficava na agitada esquina da avenida Rio Branco com a rua do Ouvidor, no Rio. “Todos nós tínhamos papagaios no Banco Nacional”, sorri o ex-presidente José Sarney. “Zé Luiz tinha uma atuação política que não se limitava só a assessorar o Magalhães Pinto na parte econômica. Ele passou a ter uma influência muito grande porque era amigo de todo o mundo. Sempre foi um homem muito inteligente, objetivo, realista.”

Ministro da Fazenda de 1967 a 1974, Delfim Netto notava seu faro político. “A atividade financeira, que exercia com competência, era uma coisa lateral. Ele sempre foi um político que soube usar o banco de uma maneira muito interessante, para o exercício de sua própria política.”

“Vamos almoçar com o poder econômico?”, perguntava Otto a Nelson Rodrigues. Amante das hipérboles, o dramaturgo descreveu, em uma crônica, certa visita ao banqueiro: “Antes de chegarmos até ele, tivemos de atravessar uma sala, mais outra, ainda outra, e uma quarta, uma quinta, uma sexta. E, por fim instalou-se em mim uma obsessão de portas, de mesas, de tapetes e de espelhos […]. Entramos numa vigésima sala. E, de repente, abre-se uma porta e aparece alguém. Era o poder econômico”.

Enquanto outros banqueiros assumiam-se mundanos, José Luiz reconhecia no ascetismo a sua religião. Fez raras viagens internacionais, evitou festas feéricas e manobrou para não ser citado em colunas sociais. “O ciúme é o único sentimento que quer a morte. Quando eu tive êxito, tive que esconder. Mesmo escondendo, você tem o risco de o sujeito querer te matar no sentido existencial”, acredita.

No Rio, seu casamento com Nininha Nabuco, neta do abolicionista Joaquim Nabuco, trouxe uma rara exposição da sua vida privada nas capas das revistas Manchete e O Cruzeiro, em 1961. Juntos desde então, tiveram cinco filhos: Ana Cecília, Maria Cristiana, José Antonio, José Luiz Filho (morto em 2012, aos 43 anos, vítima de um tumor cerebral) e João Paulo.

As manias de José Luiz dão tintas literárias à sua figura. Ele costuma desmanchar os livros com um estilete e ler os cadernos soltos. Assim, a leitura fica mais leve. Sua curiosidade se volta para os temas dos séculos 19 e, sobretudo, 20, devorando biografias políticas e relatos sobre a Segunda Guerra.

No almoço que me ofereceu, comento que na época do banco, sem maiores variações, ele comia picadinho, seu prato predileto. “Um dos prediletos”, ele me corrige, enquanto comíamos justamente um picadinho. Durante a refeição, ouve mais do que fala, mas discorre brevemente sobre Joe Biden, quer saber da biografia de Guilherme Boulos e envereda pela história da China.

Aos 91 anos, pesa os mesmos 55 quilos de seus 18. Fuma dez charutos diários, acendidos com fósforos longos. De segunda a sexta, usa paletó preto e camisa social branca, roupas neutras para combinar com reunião, casamento ou velório. É seu traje clássico desde jovem.

O regente dos bastidores teve sua primeira missão pública no campo da esquerda. Em setembro de 1961, fracassada a tentativa de um golpe militar no rastro da renúncia de Jânio Quadros, a emenda que implantou o parlamentarismo limitou os poderes do novo presidente, João Goulart. A manobra dos congressistas só seria julgada pelos brasileiros em janeiro de 1963, em um plebiscito.

A campanha do presidencialismo exigia um coordenador de olho político e visão publicitária. O jornalista Samuel Wainer indicou a Jango o nome de José Luiz. Pré-candidato à eleição presidencial de 1965, Magalhães Pinto não se opôs.

“Aceito, mas não quero mexer com dinheiro”, disse José Luiz a Jango. O ex-governador da Bahia Antônio Balbino assumiu a tesouraria. Jango esperava a vitória, mas se preocupava com o comparecimento expressivo, para dar legitimidade ao seu mandato. Depois de propaganda intensa, 11,5 milhões de brasileiros compareceram às urnas —o eleitorado era de 18 milhões. O presidencialismo venceu por 82,1%.

“Jango, ao contrário do que se pensa, era uma pessoa doce. Não machucava ninguém”, afirma o banqueiro. Fiel à decisão de não contar um só vintém, José Luiz se irritou quando o secretário de Jango, Eugênio Caillard, deixou duas malas de presente em sua casa, com as sobras do dinheiro da campanha.

“No dia seguinte, botei no meu carro, fui à avenida Calógeras, esperei Balbino e entreguei os US$ 2 milhões. O Balbino podia ter até ficado, mas entregou ao Darcy Ribeiro. Por isso que o Darcy deu a declaração de que o melhor tesoureiro do mundo, o que ele viu de mais honesto, era eu.”

Em 1964, Magalhães Pinto alinhou o governo de Minas à conspiração contra Jango. No Rio, mobilizou o sobrinho para conversas com o generalato, em um primeiro momento em torno do marechal Odylio Denys. A greve dos marinheiros e o discurso de Jango no Automóvel Clube, em 30 de março, aceleraram os planos de deposição.

Na leitura desse núcleo de conspiradores, havia um clima pré-revolucionário, que impunha um “contragolpe”. O ex-presidente Eurico Dutra pôs o grupo mineiro em contato com o general Castello Branco, que acordaria o banqueiro na madrugada do dia 31 de março. “Ele não falava nada no telefone. Achava que estava sendo gravado. Peguei o carro e fui para a casa dele.”

Em Ipanema, o chefe do Estado-Maior do Exército pediu que seu tio, o principal líder civil do golpe, segurasse a marcha precipitada do general Mourão Filho, que partira naquela madrugada de Juiz de Fora (MG) para ocupar o Rio. Castello Branco temia uma derrota humilhante.
De volta ao Leblon, o banqueiro usou um telefone seguro para abordar Magalhães Pinto, que lamentou: “Fala para o general Castello que já chegamos a Três Rios”. Era o início do golpe militar.

“Magalhães Pinto sempre foi candidato a presidente. Veja o que é o destino. Se não tivesse havido nada, ele queria ser candidato, mas os militares que assumiram o poder afastaram os civis”, comenta José Luiz.

Na autofagia da ditadura, Magalhães Pinto foi um dos signatários do AI-5, que quase atingiu seu sobrinho e braço direito. Na manhã de 14 de dezembro de 1968, de calção, tomando banho de sol na piscina, José Luiz recebeu a visita de um informante. “Você vai ser preso. Eu vi seu nome em uma lista. Você, Nascimento Brito e Sette Câmara. Escondam-se”, alertou o amigo.

O banqueiro ligou para Nascimento Brito, diretor do Jornal do Brasil, e repassou a mensagem. Dos três, somente José Sette Câmara, também do JB e ex-chefe do gabinete civil de Juscelino Kubitschek, preferiu ficar em casa. Foi preso.

Do seu esconderijo, José Luiz telefonou para o general Antônio Carlos Muricy. “Nós perdemos o controle. Você está na lista do Portela [chefe do gabinete militar de Costa e Silva]”, admitiu o oficial. Dias depois, o general o acalmou: “A lista não existe mais”.

Há cerca de dez anos, um militar reformado contou ao banqueiro que suas conversas com donos de jornais eram bisbilhotadas por Ernesto Geisel, futuro presidente, quando este ocupava o posto de ministro-chefe do gabinete militar de Castello Branco.

O poder moderador de José Luiz se manifestava no convívio com figurões da área de comunicação, como Nascimento Brito, Roberto Marinho, Samuel Wainer, Adolpho Bloch, Chagas Freitas e Octavio Frias de Oliveira (da Folha).

A proximidade com os publishers cresceu durante os ataques de Carlos Lacerda ao Banco Nacional, no jornal Tribuna da Imprensa, com os quais buscava alvejar pelo bolso seu rival na UDN, Magalhães Pinto. Mais tarde, o banqueiro protegeria o próprio Lacerda das perseguições da ditadura, investindo em sua editora, a Nova Fronteira.

Os mais influentes donos de jornais e TVs ofereciam a José Luiz não apenas dinheiro para guardar no banco, mas também segredos. E nenhum foi tão bem guardado quanto o socorro a Roberto Marinho, no desfecho do acordo da Globo com o grupo americano Time-Life, em 1971.

Ex-consultor administrativo da Globo, Joe Wallach, 97, reside atualmente em Los Angeles e sempre almoça com José Luiz nas visitas ao Rio. “Nós dois agora somos velhinhos”, sorri o executivo, que relembra a agonia de Marinho ao ter um empréstimo milionário negado de última hora pelo banqueiro Walther Moreira Salles.

Na visita noturna a José Luiz, acompanhado de Wallach e Walter Clark, o dono da Globo confessou que poderia perder a emissora e todos os seus imóveis se não pagasse a nova parcela de um empréstimo. Suas ações iriam para a Time-Life.

“Moreira Salles ajudou um pouco, mas nós tínhamos que pagar em tempo curto. Nossa situação financeira era precária”, relata Wallach. “O Banco Nacional fez o empréstimo pra TV Globo.” No dia seguinte, perto de expirar o prazo, Marinho honrou a dívida. Expressaria até a morte sua gratidão pela ajuda arriscada.

Os dribles no caos financeiro do jogador Mané Garrincha exigiram mais tempo do banqueiro. Em 1962, atendendo a um apelo dos jornalistas Araújo Netto, Sandro Moreyra e Armando Nogueira, ele pediu que seus funcionários revirassem colchões e móveis da casa do ídolo do Botafogo, em busca de comissões recebidas em moedas estrangeiras.

Segundo Ruy Castro, na biografia “Estrela Solitária”, amealharam US$ 20 mil (hoje, cerca de US$ 170 mil). O dinheiro foi aplicado. No filme “Garrincha, Alegria do Povo” (1962), de Joaquim Pedro de Andrade, o jogador visita o Banco Nacional, em um merchandising. “Garrincha era de difícil administração. O juízo durou pouco”, atesta José Luiz.

Em 1968, avisado de que o craque estava perto de ser preso por não pagar a pensão da ex-esposa e das filhas, ele assinou um cheque de 2.600 cruzeiros novos (em valores atuais, cerca de R$ 30 mil) e pediu ao seu assessor, Aristóteles Drummond, para voar e pagar a dívida diante do juiz.

Desfrutando de boa imagem pessoal e profissional, José Luiz causou espanto ao sair do Banco Nacional, em 1972. Ele se mantém discreto sobre o assunto.

No momento em que desejava ampliar a sua participação acionária, recebeu carta de um dos primos, negando-lhe a aspiração. Despediu-se do banco em silêncio. Amigos contam que Magalhães Pinto sofreu com o desfecho, mas jamais procurou o sobrinho para falar do rompimento.

“O Banco Nacional de Minas começou a morrer no dia em que José Luiz deixou sua diretoria”, diz Aristóteles Drummond. Em novembro de 1995, dirigido pelos filhos de Magalhães Pinto, o banco sofreu intervenção federal, após a descoberta de rombo bilionário, maquiado com empréstimos falsos a clientes fictícios.

Depois, José Luiz foi diretor-presidente do Banerj e conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, onde se aposentou em 1999. E seguiu sendo um conselheiro muito requisitado.

Aos 17 anos, Arminio Fraga vacilava em ser mais um de sua família a estudar medicina. Amigo de seu pai, o banqueiro recebeu o garoto para sondar sua vocação. “Eu saí convencido de que tinha outro caminho. Ele é uma pessoa muito analítica, mas de uma forma estratégica. Muito divertido também”, elogia Fraga, aconselhado a estudar economia.

O banqueiro presenteou Fraga com “A China de Deng Xiaoping”, de Michael E. Marti. Na quarentena, leu quatro livros sobre o líder chinês, condutor das reformas capitalistas no regime socialista. “Considero hoje Deng Xiaoping o maior vulto do século 20. Gênio da simplicidade.”

No final de nosso almoço, José Luiz faz uma observação impregnada de seu olhar realista dotado de imaginação: “O dinheiro está para a vida existencial como o sangue para o corpo”, ele diz. “O grande desafio da humanidade é fazer com que o dinheiro não seja assim tão vital.”

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