Descrição de chapéu
Gustavo Bonini Castellana

Bruno Covas provou o valor da moderação na política

Em um cenário de polarização crescente, estilo do prefeito se mostrou uma virtude rara

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gustavo Bonini Castellana

Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

[RESUMO] A competência técnica e a moderação eram a marca de Bruno Covas, morto neste domingo (16) aos 41 anos. Postura do prefeito deveria servir de inspiração para os jovens políticos.

A morte de Bruno Covas, por mais esperada que fosse, trouxe aos paulistanos um sentimento de tristeza que transcende a polarização política atual, especialmente por sua pouca idade e por sua postura pública durante a luta contra o câncer.

Sua perda é um momento oportuno para a reflexão sobre o valor da moderação no cenário de batalha política dos últimos anos no país.

Estudei com Bruno Covas no Colégio Bandeirantes e, embora não fôssemos amigos, era perceptível desde então sua postura discreta e cordial. Era um dos melhores alunos da turma e, ainda assim, modesto.

Não participava da micropolítica da escola (grêmios e afins), talvez porque a imagem de seu avô, Mário Covas, então governador, ofuscasse demais, mas é possível também que ele já mirasse a dedicação a uma formação competente para a vida política, tanto que entrou direto em direito na USP e economia na PUC e concluiu ambos nos anos seguintes.

Mesmo a participação do governador como patrono de nossa formatura não foi articulada por Bruno —ele somente repassou o convite de forma contida, ainda que provavelmente orgulhoso do avô. Ao contrário de Mário Covas, a marca de Bruno como político não era o carisma e a eloquência, mas a competência técnica e a moderação.

Em um cenário marcado pela polarização crescente, seu estilo foi se revelando uma virtude rara, que se tornou seu principal valor como político.

A moderação e a prudência, nos termos aristotélicos, passaram a ser associadas, no Brasil, à isenção. Porém, é provável que grande parte dos paulistanos se identifique com essa postura, embora quem faça barulho seja sempre os extremos.

Claro que sua doença não o isentou, e nem deveria, de críticas como prefeito. Sua postura pública, no entanto, deveria servir de inspiração para os jovens políticos que pretendem ganhar espaço no cenário hostil da política brasileira.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.