Tarcísio Meira mereceu ser chamado de Tarcisão, diz Boni

Ex-diretor da Globo lembra a convivência com o ator, morto na última semana aos 85 anos

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José Bonifácio de Oliveira Sobrinho

Conhecido como Boni, nasceu em Osasco em 1935. Entre outros cargos na Globo, foi superintendente de Produção e Programação, vice-presidente de Operações e consultor. Desde 2003, é sócio da TV Vanguarda, afiliada à Globo no Vale do Paraíba

[RESUMO] Mais bonito que Tom Cruise e tão talentoso quanto Marlon Brando, Tarcísio Meira atuou sem preconceito em dramas e comédias, na televisão, no cinema e no teatro e foi grande em tudo que fez.

Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho, que adotou o nome artístico Tarcísio Meira, mereceu o aumentativo Tarcisão. Foi grande em tudo. Como artista, como profissional, como pessoa de caráter ilibado e como chefe de família. Nos palcos e nos estúdios, teve a grandeza de aceitar e incentivar os iniciantes que com ele trabalharam.

Em 1961, quando Tarcísio, vindo do teatro, chegou à televisão, a atriz Glória Menezes já era famosa. Alguns pensavam que ele era o garotão protegido pela estrela. Ledo engano. Tarcísio era mais bonito que Alain Delon, Tom Cruise e Brad Pitt, mas não demorou muito tempo mas mostrar que tinha o talento de Marlon Brando, a juventude de James Dean e a versatilidade de Jack Nicholson.

Foto em preto e branco de Tarcísio Meira, usando terno e gravata e sorrindo
O ator Tarcísio Meira em 1979 - Divulgação/TV Globo

Em 1963, eu era assistente do Edson Leite na TV Excelsior. Entre nossos primeiros contratos, estavam Glória Menezes e Tarcísio Meira. Os dois estrelaram a primeira novela diária da televisão, que nasceu devido à pressão que meu amigo Jorge Adib e o Peñaranda, da Colgate Palmolive, fizeram sobre mim e eu sobre o Edson. “2-5499 Ocupado, embora com texto ruim, foi um sucesso graças à qualidade de interpretação do casal.

Em 1967, eu os levei para a Globo. Tenho um profundo agradecimento por alguns artistas que, na época, acreditaram no projeto que eu e Walter Clark elaboramos. Tarcísio me disse: “Se você está apaixonado por essa ideia, eu acredito e vou com espírito de aventura, mas com muita paixão também”. A adesão de Tarcísio, Glória, Regina Duarte, Francisco Cuoco, Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça foram vitais para a conquista da audiência em São Paulo.

Tarcísio logo arrasou como o toureiro de “Sangue e Areia”, adaptada por Janete Clair, que criou “Irmãos Coragem” em 1970. Nessa novela, Tarcísio fez com tal perfeição o personagem principal, João Coragem, que o nome quase virou um apelido definitivo para o ator.

Nessa época, eu, Tarcísio e Glória passamos um final de ano em Salvador, na Bahia, e, na procissão do Senhor dos Navegantes, Tarcísio foi reconhecido no barco em que estávamos. Imediatamente, mais de 1.000 barcos cantaram em coro: ”Irmão, é preciso coragem...”. Fomos todos aos prantos.

Daí para frente, Tarcísio pontificou em uma série de sucessos, atuando sem preconceito em dramas e comédias, na televisão, no cinema e no teatro, que ele nunca abandonou.

Tarcísio era tranquilo e feliz. Um ser humano em paz consigo mesmo e com a vida. Um amigo maior, um ator maior, um ser humano maior. Foi mesmo o Tarcisão.

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