Quis homenagear obra genial de Carlos Zéfiro em meu disco, diz Marisa Monte

"Barulhinho Bom", de 1996, traz desenhos do artista

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Ivan Finotti

Entrou na empresa, no extinto jornal Notícias Populares, em 1991 e, após idas e vindas, está na Folha desde 1994. Foi editor dos cadernos Folhateen e Ilustrada e das revistas Serafina, sãopaulo e GuiaFolha.

São Paulo

Quatro anos após a morte de Alcides Caminha, que assinava gibis de sacanagem como Carlos Zéfiro entre os anos 1940 e 1980, a artista Marisa Monte escolheu seus desenhos para a capa e encartes de “Barulhinho Bom”, seu disco duplo.

“Escolhi a obra dele com a intenção de promover um diálogo entre a música e as artes visuais de matriz popular”, conta Marisa, que afirma não ter conhecido as revistinhas de Zéfiro quando elas eram vendidas sorrateiramente nas bancas do país.

Como surgiu a ideia de usar quadrinhos eróticos de Zéfiro em “Barulhinho Bom”?Quando eu conheci a obra do Zéfiro, no final dos anos 1980, já era algo vintage, com estilo bem brasileiro, popular e original. Escolhi a obra dele para o projeto gráfico do álbum com a intenção de promover um diálogo entre a música e as artes visuais de matriz popular. Além disso, os desenhos dele são lindos esteticamente. Me interessei também pela história e pela figura curiosa de Alcides Caminha, funcionário público que, além de autor do catecismos, era também compositor e parceiro do Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, entre outros.

Capa do CD "Barulhinho Bom" (1996), de Marisa Monte, com imagem de Carlos Zéfiro
Capa do CD "Barulhinho Bom" (1996), de Marisa Monte, com desenho de Carlos Zéfiro - Reprodução



Por acaso, vocês buscaram desenhos que se pareciam com você? Não. Não houve nenhuma intenção de escolher alguém parecido comigo. Existem vários desenhos no projeto gráfico, de homens e mulheres diferentes entre si, a diversidade nos personagens era interessante e típica da obra dele.

Como foi a pesquisa para encontrar os desenhos? Quem fez o projeto gráfico foi o Gringo Cardia, que obviamente já conhecia e adorava o trabalho do Zéfiro. Contamos com a consultoria do maior especialista na obra do Carlos Zéfiro no Brasil, o quadrinista Otacilio Barros, o Ota, que inclusive havia publicado o livro “O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro”, com uma seleção e uma análise da obra.

Quando ouviu falar de Zéfiro pela primeira vez? Na adolescência, nos anos 80, quando o trabalho do Zéfiro já era uma curiosidade quase ingênua, tanto quanto a educação sexual no passado. Havia ainda o mistério a respeito de sua verdadeira identidade. Finalmente, em 1991, um ano antes de sua morte, ele revelou-se em uma entrevista. “Barulhinho Bom” é de 1996, foi uma homenagem e um resgate da obra desse artista genial. Foi um momento no qual muita gente da minha geração foi apresentada à obra dele.

Você ou suas amigas liam ou tiveram algum contato com os catecismos de Zéfiro na adolescência? Na época em que eu conheci o trabalho do Zéfiro, não era mais algo proibido, secreto. Já havia se tornado cult. O meu interesse era mais pelo aspecto estético popular, pela linguagem brasileira que misturava cordel com costumes e comportamento.Não sou contemporânea do Zéfiro, quando conheci a obra dele eu não estava dentro do contexto moral da época em que ele a produzia. Sou de outra geração.

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