Depois da lambança das manifestações do Sete de Setembro, Jair Bolsonaro viu-se emparedado por uma reação, ainda que tímida, dos chefes dos Poderes constituídos. Em meio a tergiversações de Augusto Aras e Arthur Lira, da PGR e da Câmara, destacaram-se no tom acertado os presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Mas mesmo o assim chamado mercado, sempre tão cortês com o capitão golpista, sentiu a água subindo e lançou seus alertas.
O fato é que mal ou bem, o resultado da opereta bufa de terça-feira (7) entupiu canais, que de certa forma já se estreitavam, embora dessem vazão às sandices do aventureiro lubrificados pelo fisiologismo e pelo medo da volta de Lula.
Eis então que Bolsonaro, para passar pano para ele mesmo, chama ninguém menos do que Michel Temer, com suas mãos nervosas e experientes —um professor de direito constitucional especializado em golpismo, compra de simpatias congressuais e subserviência a manda-chuvas do establishment econômico.
Convocado a apagar o incêndio do Nero da Barra da Tijuca, o emedebista, diga-se, já havia se apresentado em outras ocasiões como o canal com o mundo real do “ sistema” ou seja, da política, senão “maior”, ao menos um grau acima daquela pautada pelo submundo miliciano que norteia o mito.
Foi Temer, como se sabe, quem indicou Alexandre de Moraes ao Supremo, o arqui-inimigo de Bolsonaro. Ofereceu, então, seus préstimos ao aloprado para mediar uma conversa telefônica com o rival e o ajudou a coreografar mais um recuo patético, com direito a escrever uma nota, já que nem para isso o presidente se mostra apto.
Enfim… quanto mais se reza, mais aparece assombração. A piada que não quer calar (e que ecoa memes de tempos passados, mas ainda recentes, quado Aécio Neves era o darling do establishment) é: saindo Bolsonaro, Temer assume?
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