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Tabu sobre justiçamentos da esquerda mostra que ainda é difícil lidar com ditadura, diz jornalista

No livro 'Injustiçados', Lucas Ferraz conta a história de quatro militantes executados pela guerrilha

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Marco Rodrigo Almeida

Na Folha desde 2010, já passou por Ilustrada, Tendências/Debates, Poder e Ilustríssima

O entrevistado desta edição do Ilustríssima Conversa é o jornalista Lucas Ferraz, que lança o livro "Injustiçados" (Companhia das Letras).

A obra aborda um tema ainda tabu, relegado a um limbo histórico em pesquisas sobre a ditadura militar no Brasil: os justiçamentos que ocorreram dentro dos grupos de luta armada durante a ditadura, ou seja, a execução sumária de guerrilheiros considerados traidores.

O foco do livros são as histórias de quatro militantes de esquerda executados por seus colegas: Márcio Leite de Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de Alvarenga (os três ligados à ALN, Ação Libertadora Nacional) e Salatiel Teixeira Rolim (do PCBR, Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).

Os quatro foram acusados de traição por seus grupos, mas eram inocentes. Como a lei brasileira só reconhece como vítimas da ditadura os que foram alvo de violência estatal, acabaram apagados da história.

Os grupos de esquerda recorreram aos justiçamentos a partir de 1971, na fase terminal da luta armada. Acuados pelos militares, passaram a adotar medidas cada vez mais radicais, como condenar à morte seus integrantes acusados de delação ou mesmo os militantes que tivessem muitas discordâncias com o grupo.

A ditadura, de fato, se valeu de espiões e delações para esmagar a esquerda armada. Havia desde militares e policiais infiltrados nas guerrilhas a militantes que viravam de lado, passando a delatores, muitas vezes em troca de salários e bens materiais.

No entanto, nenhum desses delatores, mesmos os desmascarados ainda durante a ditadura, foram alvo dos tribunais revolucionários que decidiam pelos justiçamentos. Apenas os quatro militantes inocentes foram castigados.

Lucas Ferraz foi jornalista da Folha e publicou no jornal muitas reportagens sobre o período da ditadura. Na Ilustríssima, ele publicou um perfil do fotógrafo que registrou a imagem do jornalista Vladimir Herzog morto em uma cela do DOI-Codi, em São Paulo, em 1975, e também abordou o temas dos justiçamentos, que trata agora de forma mais profunda em seu livro.

"Esse tema dos justiçamentos foi silenciado nos grupos de esquerda, seja por vergonha, ou por temer revanchismo, ou para preservar a memória de quem participou desses atos. Esse assunto é bem emblemático, pois mostra como a ditadura é um assunto ainda mal resolvido no país", diz .

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Renan Quinalha, para quem a LGBTfobia de Bolsonaro atualiza moralismo da ditadura "hétero-militar", Simone Duarte, que defendeu que o 11 de Setembro nunca terminou no Afeganistão, Natalia Viana, que discutiu a politização das Forças Armadas, Camila Rocha, pesquisadora da nova direita brasileira, Antonio Sérgio Guimarães, que recuperou a história do antirracismo no Brasil, Eugênio Bucci, que defendeu que redes sociais extraem o olhar de seus usuários, Rafael Mafei, autor de livro sobre a história do impeachment no Brasil, Kauê Lopes dos Santos, que debateu a economia política de Gana, Rosa Freire D’Aguiar, organizadora de coletânea de cartas de Celso Furtado, Fábio Kerche e Marjorie Marona, que fizeram um balanço dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, que discutiu a ascensão do bolsonarismo, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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