Teremos outra Brumadinho se lógica da mineração não mudar, diz Daniela Arbex

Em podcast, escritora narra histórias de vítimas e sobreviventes da tragédia, prestes a completar três anos

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Eduardo Sombini
Eduardo Sombini

Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima

Na próxima terça-feira (25), o desastre em Brumadinho completa três anos.

Naquele dia, o rompimento de uma barragem na mina do Córrego do Feijão, operada pela Vale, deixou 270 pessoas mortas. Seis vítimas ainda não foram encontradas.

Todos os números do desastre são superlativos. A barragem, que tinha 86 metros de altura e 720 de largura, armazenava 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração e, em poucos segundos, deu origem a um tsunami de lama que atingiu 18 metros de altura e uma velocidade de 108 km/h, deixando um rastro de 300 quilômetros de destruição.

Em seu novo livro, "Arrastados: os Bastidores do Rompimento da Barragem de Brumadinho, o Maior Desastre Humanitário do Brasil" (Intrínseca), a jornalista e escritora Daniela Arbex reconstitui a tragédia minuto a minuto, com base em depoimentos de quem estava lá, e narra os esforços empreendidos na operação de resgate e os impactos do desastre na vida de centenas de pessoas.

Retrato de Daniela Arbex, autora de 'Arrastados' - Carmelita Lavorato/Divulgação

No episódio desta semana, Arbex conta os detalhes da apuração que deu origem ao livro e aponta por que o rompimento da barragem foi, em sua avaliação, uma tragédia anunciada.

A autora diz que a Vale sabia dos riscos de segurança e não tomou as medidas necessárias em Brumadinho e sustenta que, enquanto o modelo de negócio da mineração continuar priorizando o lucro em vez da vida humana, ninguém estará seguro.

Essa falta de paz íntima é o que essas pessoas [familiares de vítimas e sobreviventes] vivem o tempo todo. Conviver com isso é destruidor. Conviver com esse drama de não se reconhecer em nada nem em ninguém —porque a sua melhor parte morreu, porque o que você amava foi perdido, porque aquela paisagem foi completamente modificada. Então, acho que a gente não consegue nem dimensionar esse trauma. O livro mostra isso, mas a gente só vai entender o tamanho desse trauma com o tempo

Daniela Arbex

jornalista e escritora

O Ilustríssima Conversa está disponível nos principais aplicativos, como Apple Podcasts, Spotify e Stitcher. Ouvintes podem assinar gratuitamente o podcast nos aplicativos para receber notificações de novos episódios.

O podcast entrevista, a cada duas semanas, autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.

Já participaram do Ilustríssima Conversa Tatiana Roque, pesquisadora que discute as relações entre mudanças climáticas e política, Margareth Dalcolmo, que falou sobre a variante ômicron e a perspectiva de tratamento precoce real da Covid-19, Marcelo Semer, autor de livro sobre o Judiciário e a política no Brasil, Eliane Brum, que alertou sobre a necessidade de preservar a Amazônia no contexto atual de crise climática, Renan Quinalha, para quem a LGBTfobia de Bolsonaro atualiza moralismo da ditadura "hétero-militar", Simone Duarte, que defendeu que o 11 de Setembro nunca terminou no Afeganistão, Natalia Viana, que discutiu a politização das Forças Armadas, Camila Rocha, pesquisadora da nova direita brasileira, Antonio Sérgio Guimarães, que recuperou a história do antirracismo no Brasil, Eugênio Bucci, que defendeu que redes sociais extraem o olhar de seus usuários, Rafael Mafei, autor de livro sobre a história do impeachment no Brasil, Kauê Lopes dos Santos, que debateu a economia política de Gana, Rosa Freire D’Aguiar, organizadora de coletânea de cartas de Celso Furtado, entre outros convidados.

A lista completa de episódios está disponível no índice do podcast. O feed RSS é https://folha.libsyn.com/rss.

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