[SOBRE O TEXTO] Este texto é parte do novo livro do autor, "Só Prosa", a ser lançado em outubro pela Companhia das Letras.
Brincando com as letras pintadas em cubos de madeira. Uma por uma —tentando numa folha de papel qualquer começar a imitá-las como via e lia nos jornais, soletrando, ajudado pelo pai, como se fosse meio cego ou quase mudo, incompleto no ato de dizer pelo menos algo gaguejante estremunhado. Se embaralha a custo, pois não tem linha onde se equilibrar direito, e acaba caindo, virando garrancho sem término e ilusão de sentido, mas insiste à cata de achar o que diz, rasgando o que for preciso e indo novamente em busca. Até riscando a carteira do colégio que geme. E a cadeira dura castigando durante a aula obrigatória debruçado no caderno de caligrafia, afinando o alfabeto a cada mês, sem precisar de muito esforço. Até começar a palavra, depois a frase se formando, diminuindo o uso da borracha para apagar o erro e limpar o que se quer escrever, e alinhar na página o acerto preciso e dizer através da leitura que foram se formando as letras bem traçadas, pouco a pouco no começo. E acelera cada vez melhor o rascunho do poema que foi se firmando, reto e claro, no livro que já acolhe e o protege e é impresso, encadernado pela capa que vai durar um tempo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.