Wilson Gomes, professor titular de teoria da comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) estreia neste domingo (20) uma coluna na Folha. Os artigos serão publicados mensalmente na Ilustríssima.

"Gosto de acompanhar o debate público para, a partir daí, coletar os assuntos e os problemas que abordo, dos pontos de vista em que normalmente me situo: comunicação política, filosofia e teoria democrática", afirma.

Mestre e doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma, Itália, Gomes coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, rede de pesquisa que envolve a UFBA e 19 instituições de ensino superior brasileiras e 23 estrangeiras, e desenvolve pesquisas sobre as implicações das tecnologias digitais nas instituições democráticas e na cidadania.

"O Brasil é atualmente um laboratório a céu aberto de polêmicas. Parecem discussões fúteis e em grande parte desnecessárias, em que o calor gerado é sempre infinitamente superior à substância resultante, mas através desse torvelinho de tensão, atrito, ódio e dogmatismo estamos, curiosamente, discutindo que modelo de sociedade queremos, o que é afinal o bem comum, o que é justiça, o que fazemos com as nossas desigualdades e diferenças, que tipo de Estado queremos e qual o melhor desenho institucional que ele deve adotar para os fins que desejamos."

Autor, entre outros livros, de "Crônica de uma Tragédia Anunciada: como a Extrema-Direita Chegou ao Poder", o novo colunista defende que é tarefa dos intelectuais colocar à prova argumentos dos debates atuais e buscar sentido no que, aparentemente, se resume a caos e fúria.

"Há ódio demais, militância demais, os ânimos estão crispados demais, mas é preciso ver além disso. Não para assumir a tarefa impossível e presunçosa de dar ordem ao caos e racionalidade à raiva generalizada, mas ao menos para contribuir na transformação de parte dessa convulsão em algo produtivo para o projeto de uma sociedade pluralista, tolerante, progressista", diz.

Gomes, crítico do que chama de estratégias de cancelamento de grupos identitários, de direita e de esquerda, afirma que o debate sobre limites à liberdade de expressão também vem sendo "processado em fogo e fúria" e que abordará o tema em suas colunas.

"Tudo é campo minado, e as novas formas de punição são cada vez mais rápidas e ferozes. Você pisca e o debate sobre liberdade de expressão vira um debate sobre a liberdade de impor suas impressões ou sobre a liberdade de opressão, e o sujeito que defende liberdade de expressão para os seus de manhã quer calar a boca dos outros à tarde."