Gilberto Gil elogia FHC e Ciro e diz que tucano abriu caminho para Lula

Músico, que faz 80 anos no domingo, afirma ter a mesma fé de sua juventude no futuro do Brasil

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Claudio Leal

Jornalista e mestre em teoria e história do cinema pela USP

Em entrevista à Folha, o músico Gilberto Gil comenta o turbulento clima político neste ano eleitoral e afirma que ainda preserva a mesma fé de sua juventude no futuro do Brasil, apesar dos retrocessos e impasses dos últimos anos.

A íntegra da conversa, englobando também arte, suas influências musicais, ciência e a passagem do tempo, será publicada no domingo (26), quando Gil completa 80 anos.

"O Brasil talvez seja, das nações grandes, a mais exuberante. Isso é irremovível. Não há como cancelar. Não há um cancelamento possível do Brasil. O destino do mundo é o destino do Brasil, o destino do Brasil é o destino do mundo. O Brasil continua", afirmou.

Nos trechos abaixo, Gil trata da ascensão de uma direita autoritária no mundo, diz que Lula é um agente pacificador hoje mais aberto a outras formulações políticas, elogia FHC por ser um homem de diálogo que propiciou mudanças e afirma que Ciro Gomes, do ponto de vista de formulações teóricas sobre a sociedade, talvez seja a manifestação mais expressiva do Brasil hoje.

Gilberto Gil, então ministro da Cultura, com o ex-presidente Lula durante anúncio de ministérios do governo petista - Jamil Bittar-23.dez.02/Reuters

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Lula é o candidato com mais força eleitoral para enfrentar Bolsonaro. Você foi ministro da Cultura do governo Lula, entre 2003 e 2008, e renovou agora seu apoio a ele. Como foi sua recente conversa com Lula, no Rio? Você reconheceu mudanças no olhar dele sobre o país? Eu não sei se poderia arriscar dizer que percebi mudanças. Sem dúvida, ele se manifesta, hoje, politicamente mais aberto. Ele pertence a um partido de esquerda operária à feição do Labour inglês e de outros partidos operários, como os da Itália, da França, mas com muita influência da América Latina, dos grupos políticos que se juntaram em partidos. Ele é egresso dessa fonte. Não sei em que medida ele teria condições de se "transformar", pra usar entre aspas essa palavra, num agente mais contemporâneo.

Ou pelo menos pacificador do país? Isso sim. Isso é um dado político evidente nele, que poderia ser considerado como uma novidade. Porque ele está se defrontando com a realidade do Brasil. A realidade do mundo é a realidade do Brasil. Ele sabe que tem uma extrema direita ou uma direita irascível, que surgiu no mundo e no Brasil, com uma representação cada vez mais forte.

Ele sabe que a identidade brasileira e a identidade progressista da sociedade mundial não se coadunam com esse tipo de visão. Ele sabe que o mundo quer um andamento natural de movimentos de centro-esquerda. Ele sabe que o PT precisa representar cada vez mais isso.

Ele tem noção natural do respeito que tem que ter a outras formulações político-ideológicas que surgiram no Brasil e no mundo. Agora a persona política dele é ligada às suas origens. Não vejo como ele mudar nesse sentido.

Você mantém um diálogo próximo também com FHC? Sim, sempre mantive. Sempre tive admiração por ele. Sempre apreciei o fato de que um homem com um grau razoável de ilustração viesse a se tornar chefe de Estado no Brasil e viesse a estimular a continuidade das mudanças. Foi a Presidência dele que propiciou logo depois a chegada de um partido operário ao poder. Um homem razoável, de diálogo.

Tenho muita admiração por Ciro também, pela capacidade da re-teorização das questões da sociedade mundial e do Brasil. A releitura que ele faz das mazelas brasileiras, das omissões das elites, dos déficits na questão da abolição, da distribuição da riqueza. Talvez seja, do ponto de vista de uma nova visão teórica, a manifestação mais expressiva que a gente tem hoje no Brasil. Sinto muita pena que essa nova visão teórica do Ciro não esteja a serviço de toda a esquerda, toda a centro-esquerda brasileira.

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