Nos cinco séculos que separam o início do projeto colonial e os dias de hoje, três foram as cidades escolhidas como sede administrativa do Brasil.
Um fato curioso pode, contudo, gerar confusão. Curitiba foi instituída capital do Brasil durante apenas três dias, de 24 a 26 de março de 1969. Era uma medida para fortalecer o apoio à ditadura militar na região.
Como a decisão era mais simbólica do que prática, este levantamento se concentra nas três capitais de fato: Salvador, Rio de Janeiro e Brasília, nessa ordem.
Saiba a seguir os motivos que levaram à escolha de cada uma delas.
Salvador (1549-1763)
Embora os portugueses tenham aportado no Brasil em 1500, o projeto de colonização do território só começou efetivamente 49 anos depois. Em 29 de março de 1549, o militar português Tomé de Sousa desembarcou na Bahia com o objetivo de fundar a cidade de São Salvador.
A missão representava um novo passo da administração portuguesa após o fracasso do modelo das capitanias hereditárias, grandes faixas de terra que, num primeiro momento, foram doadas a nobres do país europeu para povoamento e desenvolvimento econômico.
"Houve uma tentativa de centralizar o território colonial em Salvador", conta o geógrafo Pedro Vasconcelos, professor dos programas de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Católica do Salvador. Para isso, Tomé de Sousa foi nomeado primeiro governador-geral do Brasil.
Salvador adquiriu tamanha importância durante o período colonial que se tornou a segunda cidade mais relevante do ponto de vista econômico do Império Português, perdendo apenas para Lisboa.
A produção agrícola, especialmente a cana-de-açúcar, e o tráfico negreiro eram os motores da economia, que se beneficiava da localização privilegiada, com comunicação com a Europa e com a África.
Como explica Vasconcelos, autor do livro "Salvador - Transformações e Permanências (1549-1999)", a roda começou a girar com a descoberta do ouro em Minas Gerais. Foi essa atividade, somada aos interesses estratégicos pela ocupação do sul da colônia, ameaçada por conflitos com os espanhóis, que levaram os portugueses a mudar a sede administrativa para o Rio de Janeiro em 1763.
"A mudança de capital é uma decisão política, mas a mudança econômica não acontece rapidamente", diz o geógrafo. Para ele, Salvador manteve a importância no território pelas décadas seguintes. Não é à toa que, entre 1822 e 1823, a cidade foi palco de batalhas decisivas durante a guerra de Independência do Brasil.
Rio de Janeiro (1763-1960)
Antes de se tornar sede da administração colonial, o Rio já era um entreposto negreiro. Sua população foi crescendo à medida que aumentava a atividade mineradora em Minas e em São Paulo, já que era preciso um porto para escoar o ouro explorado.
A cidade cheirava a óleo de baleia, diz Isabel Lenzi, historiadora do Museu Histórico Nacional (RJ). Como a pesca de baleias era uma atividade econômica da capitania desde meados do século 17, o Rio usava o óleo do animal para a iluminação pública.
Aos poucos, foi adquirindo protagonismo político, que se consolidou com a chegada da corte portuguesa, em 1808. Alguns baianos argumentaram que Salvador tinha maior capacidade para abrigar dom João 6º e seu séquito, mas pesou na decisão da família real a posição da Baía de Guanabara, menos suscetível a cair perante um ataque estrangeiro.
"Quando a corte veio para cá, a população cresceu muito, em número, e também se tornou mais cosmopolita", conta Lenzi. Entre 1815 e 1821, a cidade manteve o título de capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1822, com a Independência, tornou-se oficialmente a primeira capital do Brasil.
"Era o centro político e cultural do Brasil, e o pessoal queria imitar o Rio". Esse status foi além do Império e se fez valer durante boa parte do período republicano, principalmente na primeira metade do século 20.
Segundo Lenzi, essa situação mudaria, mas não apenas por conta da transferência da capital para Brasília, em 1960. "Brasília não conseguiu conquistar um protagonismo logo na fundação da cidade."
A historiadora cita dois marcos simbólicos dessa perda de prestígio. Um deles é a demolição em 1976 do Palácio Monroe, uma suntuosa edificação do início do século 20 que abrigou o Senado entre 1925 e 1960.
O outro se refere à fusão do estado do Guanabara, que existiu no então município carioca de 1960 a 1975, com o estado do Rio de Janeiro, uma medida que abalou a centralidade da capital fluminense para as decisões políticas do país.
Brasília (1960-)
A cidade dos sonhos de Juscelino Kubitschek, construída para abrigar o Distrito Federal brasileiro, foi entregue em 21 de abril de 1960, aniversário da morte de Tiradentes.
A ideia de uma capital no centro do país, entretanto, é bem mais antiga e remonta aos primeiros anos do século 19. Desde a chegada da corte portuguesa ao Brasil, havia o desejo de construir uma capital no ponto central do território, em que nascem três grandes rios brasileiros, Tocantins, São Francisco e Paraná.
Os motivos para erguer Brasília eram, pelo menos, três. Por estar longe do litoral, a capital estaria mais protegida em caso de guerra. Ali o governo federal sofreria menor pressão popular. E, com a construção, seria impulsionada a ocupação do interior brasileiro.
Como escreveu Juscelino no livro "Por que Construí Brasília", o estalo veio durante um comício. Um homem perguntou se o candidato pretendia colocar em prática um dispositivo da Constituição que previa a mudança da capital para o Planalto Central.
Juscelino teria respondido: "Se for eleito, construirei a nova capital e farei a mudança da sede do governo."
Hoje, Brasília abriga as sedes dos poderes Executivo, Legislativo, e Judiciário. Foi concebida pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, tendo sido erguida em menos de quatro anos por mais de 60 mil operários.
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